domingo, 24 de setembro de 2017

COMBOIO DA LINHA DE SINTRA, O CURRONQUINHO E A JANELA DO TERCEIRO ANDAR

O meu segundo sono, todos os dias da semana, acontecia assim que entrava no comboio que me levava à capital, onde, “daquela-janela-do-terceiro-andar”, tantas vezes via, as últimas faluas do Tejo, os cacilheiros na sua travessia e o grande petroleiro ancorado no Mar-da-Palha, esperando vez para a doca da “Lisnave”.

De lá, “da-janela-do-terceiro-andar”, via muitas outras coisas que, antes, escrevi e reescrevi, acontecidas ou inventadas pelo tempo de calendário na despedida dos sessenta e início dos setenta, e a Abrunheira sempre ficava, quieta, esperando por mim, lá mais para a noite.  

No regresso, o sono voltava. A entrada no velho-comboio da Linha-de-Sintra, adormecia-me de repente. Para trás ficava o reboliço do Cais do Sodré que ainda não tinha ruas cor-de-rosa, da Bernardino Costa, do Arsenal e o plim! Plim! do amarelo subindo e descendo a do Alecrim. O “baixinho” apregoando a lotaria, os hóspedes do “queiroziano” Hotel Bragança, o ardina gritando “as -gordas” dos vespertinos: «Diário Popular», «Diário de Lisboa», «A Capital» e, — quando os do “lápis-azul” deixavam — «O República». O Sá Rodrigues, o bitoque e o bilhar do “Califórnia”, o digestivo e o “ginger-bear” do “British-Bar”, as imperiais das cinco e “a-janela-do-terceiro-andar”, também ficavam para o dia seguinte.

A “Boa-Viagem” de Sintra para a Abrunheira me trazia e, de barriguinha aconchegada pela Ti Augusta, p’ra noite abrunhense ia, pelo “novo-curronquinho”.

Ainda antes, muito antes — pela “Primária” andaria, de mão dada com a história-de-Portugal, aritmética e gramática, e nas brincadeiras de recreio pequeno e nos simulados choques elétricos do meu parceiro de carteira, o Julinho, que, dizia, caçava pela noite, “morcegos-que-vinham-à-cana-com-sebo” (sebo, que surripiava ao Zé da Natália) e que engaiolava centenas de “caga-lumes”, só numa noite — as passadas do “curronquinho” eram dadas no que, algum tempo depois, viria a ser a Ferreira de Castro e o Cabaço. Zona da Abrunheira, destinada pela sina ou destino, em servir de poiso à brincadeira da rapaziada da terra, com predominância da numerosa prole da Ti Celeste “Pardala”.

Ervinha melhor que relva de tapete posto, era farto o curronquinho. Muitas batalhas de espadachim como nos quadradinhos, e depois, na televisão da “sociedade”, como o “Sir Lancelot” ou o “Robin-dos-Bosques” no tempo do “Errol Flynn”.

Ainda o Coutinho que era Bernardino não tinha tapado todas as valas dos canos da “nova-água”, e os postes de “nova-eletricidade” não davam todos luz, e já o “novo-curronquinho” começava a sua “nova-vida”, com bonitas casas, passeios de calçada e rua alcatroada. Ainda não era Ferreira de Castro, e já a malta se transferia do Manel para o Ramos, que, rapidamente, passaria a ser o Cabaço.

No Cabaço, muitos matrecos jogamos. A “cagadinha” do Rui Simplício, era fatal. Eu, dava-me melhor na defesa. O Caravaca também era forte e o Zé alentejano conseguia autenticas proezas no ataque. O Zé Fernando, usando a sua habitual discrição, lá conseguia defender-se. Ao contrário, sempre falando, outro Zé Fernando, mas este, C. Silva, de quando em vez, lá empurrava a bola para a baliza, mas para o conseguir, tinha de levantar a perna esquerda.

No domingo, acho, vinte e três de setembro, do século vinte eram setenta e três de tempo contado em anos (aí vão quarenta e quatro), para a Festa eu fui e o “curronquinho” e o Cabaço lá ficaram. Nos dias seguintes, de cara cheia de “escritos” de todas as cores, me perguntaram:

— Levaste porrada na campanha da “oposição”? (Havia, no final do outubro seguinte, aquilo que o regime chamava de eleições. Da “primavera”, eram as segundas)

— Eu? Não! Fui à Festa de Albarraque!

Não foi porrada, foi o para-brisas da carrinha-boleia que, na volta, encurtou caminho na esquina da padaria da Abrunheira.

“Convenções-Democráticas”, a gente, as fazia também no princípio do “Curronquinho”, bem encostados à larga porta-verde, pela noite e sem ninguém à vista. Sim! Naquela época, quando ainda não era a Ferreira de Castro, quem falasse mal do governo ou da Guerra Colonial, levava porrada antes ou depois de ser preso pela Pide. Lembram-se?

Quando a demagogia e a loucura andam por aí, convém que nos lembremos, que nada é eternamente adquirido.

Todas as “novas-ruas” da Abrunheira deviam ser construídas como o “novo-curronquinho” que, depois, passou a ser, Ferreira de Castro.

Silvestre Félix
24 de setembro de 2017

Foto: Google (Comboio da Linha de Sintra até década noventa do séc XX)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

SANTO ANTÓNIO E O GALO, O RIO E PARA ONDE FOI A ÁGUA

“Outro galo (não) cantaria”, não fosse, a vontade, a dedicação e a paciência do Vicente da Colónia, de lá, ter trazido, o cata-vento que, por obra e habilidade dos dois da Virgínia, o Ti Zé e o Ti Manel, com a serventia do Albano e de muitos outros abrunhenses – incluindo o meu pai Zé, que, para todos os efeitos e conhecimento, lhe chamavam Zé Silvestre e ele aceitava, sendo o acrescentado, como era uso, nome do pai, que, neste caso, era meu avô e padrinho de batismo – o terem colocado no “carrapito” do telhado-alpendre da bica, ali armada, em honra do Santo António que, desde aquele longínquo início da segunda metade do século vinte, passou a ser, também, Da Abrunheira.

Água com fartura, muitos dias até demais porque, à volta dos bebedouros e dos tanques de lavar a roupa, se chapinhava e, quem lá fosse, cuidado tinha de ter, para não enfiar os calcantes na lama, muitas vezes bem misturadinha com o resultado da remoedura, digestão e eficaz transito intestinal, das vaquinhas, Marcina, Estrela, Bonita e, muitas vezes, também da Carocha.    

Todos eles, os mestres construtores, serventes e mais abrunhenses ajudantes e, depois, os utilizadores da bica, da mina, das pedras roçadas de tanta roupa lá ser batida, e da água limpinha que bem lavava e voltava a correr sempre nova, e bem como as minhas vaquinhas e a Carocha, se indignariam com as patifarias e sem-vergonhices levadas a cabo por prevaricadores sem rosto, se por cá voltassem agora – em tempo de (des) uniões da europa, de freguesias e com dois amalocados em cada ponta do planeta, a disputarem a sua própria destruição – e vissem como está tudo seco de água, tanto no verão como no inverno.

E a mina, de água cheia sempre estava, boa e gostosa para matar a sede, agora, se se abrir a porta, em fossa pestilenta está transformada.

Onde está a água? Para onde foi? Perguntariam a Ti Maria do Florindo, a Ti Maximina ou a Ti Silvéria.

Protestaria, e muito, pela seca, também o João Barriga ou Ti Artur Germano. Não era, que muito amantes fossem de água lisa da bica do Santo António ou de qualquer outro sítio. Como acontecia com a maioria dos homens e, porque não, de algumas mulheres da Abrunheira, para bebida ia melhor tinto ou branco, desde que estivesse cheio, o copo ou a garrafa, e amarinhasse até aos neurónios e os deixasse contentes e anestesiados para uma boa sesta.

Do mesmo mal, da falta de água de verão e da maior parte do inverno, se vem queixando aos amigos e atravessadores, o Rio das Sesmarias. Sim, o mesmo que, num projeto camarário parido à pressa e com o cordão umbilical a apertar-lhe o gasganete, lhe quiseram trocar o nome e a categoria.

Classificaram-no como ribeira e deram-lhe um nome de uma terra que está pertinho do Estoril. Aqui, na Abrunheira, sempre se chamou Rio das Sesmarias e é assim que queremos, continue. Porque “carga-de-água”, agora haveria de ter um nome diferente? Os “senhores-inteligentes”, se não sabem, venham perguntar aos abrunhenses como se chama o seu rio.

Retomando as queixas do nosso Rio das Sesmarias, constata-se que há uns tempos, o seu leito está mais tempo seco do que molhado, ao contrário do que era habitual. Mesmo no inverno, corre sempre de fininho até vir uma chuvada. Aí, sobe até meio e, em poucas horas, volta ao “fininho”. Se não chover nos quinze dias seguintes, de “fininho”, passa a parado até voltar a chover outra vez. No verão, seca completamente.

Os atravessadores agora são muitos, mas como a maioria passam encavalitados em andantes de duas ou quatro rodas, sempre cheios de pressa e a grande velocidade, não há oportunidade nem tempo de entabular uma conversa digna desse nome, para além de, nem repararem na presença do nosso Rio das Sesmarias. Diz ele, que tem saudades da companhia do “Artista-Sapateiro”, Ti Joaquim Caga-a-Chuva e do “Cabouqueiro” que tinha a “Ciência-da-Pedra”, Coutinho que era Bernardino.

Eles sabiam, tal como o Rio das Sesmarias, tanto no tempo em que a Ti Mariana Soleto, mãe do Bernardino que não era Coutinho, dele tomava conta, como depois de se ter entregue aos carinhos da Judite Caracol, e do Ti Joaquim ter vindo com a Margarida dos “ditos-e-contos”, do Linhó, para a nossa terra, que todos os viventes que acompanhavam o seu leito desde o cimo da Abrunheira, no Olival e por trás do Cipriano, em frente à horta e por baixo da ponte da colónia, por trás do Santo António, pelos quatro-donos e arroteia até à casa-da-água, passando pela Azenha do Sebastião Moleiro na Capa-Rota, e por aí abaixo iam até à foz, foram morrendo e, hoje, nem enguias que, quando passavam pelo cano até ao poço da horta, eram quase da grossura dum braço, nem ao menos rãs, sapos ou girinos, sobrevivem no pouco tempo de água.

Voltando ao Santo António, que em boa hora tem, neste tempo, cuidadores dedicados que garantem a dignidade do sítio, mesmo que a água corrente já lá não esteja. Somos gratos por esse cuidado e dedicação.

Em tempos, outras e outros cuidadores, pelo local olharam. Lamentando o meu fraco índice “memorial”, decorrente do crescente “litígio” à medida que a PDI avança, com a desorganização dos ficheiros de nomes no rígido, que cada vez está mais mole, torna impossível indicá-los sem os inevitáveis falhanços. De maneira que, quando me surgem dúvidas, não arrisco nomeação, ficando com o ónus de alguma injustiça pela omissão.

Um que nunca esqueço, não sei se alguma vez assumido, o de cuidador, mas, pelo menos, guardador de proximidade, foi. A horta por cima da mina, era o seu local de trabalho preferido e, de hortelão, sabia ele. O Ti Mendes, com aquela comprida barba amarelada, por causa da fumarada que permanentemente por ela passava, dava-lhe um ar de sábio. Acho que, de verão ou de inverno, de casacão se vestia e, dos seus grandes bolsos, sacava os cachimbos que ele construía a partir das melhores canas da horta.

Grandes baforadas, deitava, em troca da ausência de faladura. O ritual enchimento da grande fornalha, caracterizava-se pela função imprescindível daquela grande unha, calcando o tabaco para o seu interior. 

Por ali, sempre se via e, se não estivesse, era porque ia até à casa da fruta do Pechincha, ou subia pelo Largo do Chafariz até ao Álvaro ou à “Menina-Emília”. 

Típica figura que associo sempre ao Santo António. Também o Ti Mendes, hoje, sentiria falta da água corrente da mina e, por consequência, do “treu-laréu” do mulherio a lavar a roupa nos tanques.

Para onde foi a água?

Silvestre Félix
18 de setembro de 2017

Fotos: Google (publicadas no extinto blog «aldeiaviva)

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

MOBILIDADE ADIADA, CHARNECA ESQUECIDA E A LOUCA CORRERIA DA CAROCHA


Mobilidade (urbana), era, na certa, palavrão ausente do vocabulário dos abrunhenses de há quarenta ou cinquenta em tempo contado em anos.

Ainda por cima, se fosse reduzida, como é detetável e provada nestes dias do último quartel da segunda década do século XXI, depois do atrofiamento “troikadero” e no meio da pressão sobre a “geringonça”.

Tem dias, em que um abrunhense, para conseguir chegar ao Palácio da Vila, à Volta do Duche ou, ao ainda, Centro de Saúde, precisa de “suar as estopinhas”. Se levado por qualquer andante de quatro rodas, pode correr o risco de chegar a Chão de Meninos ou pouco mais abaixo, e alinhar na “bicha” até lá abaixo.

Se este abrunhense, pela zona alguma vez cirandou usando os pedantes em tempos de menos fartura, sabe que pode meter pela esquerda em pelo menos duas alternativas (não tem nada a ver com a atual maioria na AR) e ser brindado com uma das melhores vistas da Serra, o Jardim da Vigia, e deixar-se escorregar até ao “Morais”, Tuna e Estação. Se não, pode demorar meia-hora, uma hora ou mais e, lá chegado, estacionamento? Nem o cheiro, quanto mais o lugar.

Como tantas vezes já me dizia o Ti Joaquim “Caga-à-Chuva”, queixando-se da utilização da carreira “Boa-Viagem” que vinha de Oeiras e parava lá em cima a seguir ao “Café Brasil”, demorando dez minutos até à Estação de Sintra, passando por Chão de Meninos. Que continuava a preferir ir a pé até à “ajuntadeira”. Naquela época, não entendia a lógica. A carreira era muito depressa para a sua noção de tempo.

Como gostariam os utilizadores das carreiras de hoje, poderem demorar dez minutos, em percurso direto até à Estação de Sintra, por Chão de Meninos e a preço aceitável.
  
O normal, nesses idos tempos do “Artista Sapateiro”, de antes e depois da revolução, era a velocidade que a “Carocha” dava à carroça e a disposição que tinha, naquele preciso momento, para obedecer aos “mandamentos” da Ti Augusta. Atrelada que estava e decerto manifestando o seu desagrado pelo peso e desconforto dos arreios, cabresto enfiado pela cabeça abaixo e o freio na boca, assim que se lhe soltou as guias, aí foi ela “desencabrestada” e só parou quando muito bem entendeu. Saiu do quintal e difícil foi virá-la à direita e, assim que se apanhou no alcatrão, correu pela Largo do Chafariz com o Tavinho dum lado e o Ti Álvaro do outro a assistirem à corrida e, pelo Olival, que ela conhecia bem, rolou até à curva. Aí, a Ti Augusta, com muita dificuldade, lá a encaminhou pela esquerda em direção à Quinta Lavi e aos eucaliptos.
 
E então, a sorte passou-lhe à frente (da Carocha) e, a nós também, porque cambaleados na carroça, de vento na cara e cabelos voando, não teríamos tempo para nada, se, passados os eucaliptos e chegados ao cruzamento da Charneca, o mercedes 280 que vinha do lado de Lisboa, não tivesse travasse a fundo, dando primazia à que chamávamos burra, mas que de burrice não tinha nada.

Ela sabia que o caminho era à esquerda, mesmo que nunca tivesse demonstrado qualquer simpatia por essa opção ideológica e, quando se aproximou do Chafariz da Charneca (D. Maria I), saiu do alcatrão e estancou em frente ao bebedouro, metendo umas litradas para dentro do bandulho.


A Ti Augusta, que até ali nem tinha tido tempo para respirar, desce da carroça e, dirigindo-se à orelha direita da Carocha, agarrando-a e, como se estivesse a falar para dentro dum grande funil, disse-lhe, num tom bem repreendedor, daquelas boas, que ninguém gosta de ouvir.

Eu, muito quietinho, não estava a perceber nada. Então, a minha mãe subiu, agarrou as guias, destravou a carroça, puxou a guia esquerda fazendo a Carocha recuar o veículo um metro ou pouco mais e, com um ar triunfante como muitas vezes lhe via, atiçou a Carocha encaminhando-a para a estrada e aí fomos nós em trote controlado, até virarmos em Ranholas, à direita, para Vale-Porcas que ainda não era Vale Flores.

Também me lembro bem, que a viagem de regresso, carregada de erva acabada de apanhar para as vaquinhas, correu uma maravilha e, a D. Carocha, nada de aventuras. As grandes orelhas oscilavam conforme a voz da minha mãe se fazia ouvir. Quando chegamos, e depois de a desatrelarmos da carroça e de a libertarmos dos arreios, cabresto, freio e demais acessórios “prisioneiros”, a Ti Augusta teve uma longa conversa com a Carocha, deu-lhe a guloseima preferida, fez-lhe a doze certa de festinhas e, acredito eu, igual, a burra que “era esperta que nem um alho”, nunca mais voltou a fazer. 

A minha mãe foi apanhada desprevenida e teve muito medo no cruzamento. Contou-me depois, que chegou a pensar que o carro viria contra nós e que, incluindo a Carocha, ia tudo p’ro “maneta”. A Ti Augusta conversava com os seus animais. E, duma forma geral, porque os tratava bem, conseguia que lhe obedecessem. Foi o que aconteceu ali, junto ao Chafariz da Charneca.

A propósito de Charneca, ali, naquele sítio, em menos dum quilómetro quadrado, foram, do ponto de vista da toponímia, ignoradas designações originais dos locais e pessoas: Charneca, Chancuda, Casal da Charneca, Ti Zé da Charneca ou Chafariz da Charneca. Não tenho nada contra as personalidades usadas para as vias e rotundas da zona, sendo que, algumas, se calhar, até mereciam ruas, rotundas ou avenidas mais importantes. Condenável é, na minha opinião, não serem levadas em conta, para este efeito, a tradição, os nomes dos sítios e pessoas, quando é necessário colocar uma placa toponímica.

Pois é, da “mobilidade-urbana-reduzida”, fiz jus à expressão e, entusiasmado com a lembrança daquela viagem até Vale-Porcas com a minha mãe e encarroçado na velocidade louca da Carocha, escrevi pouco. E é um tema tão importante para os abrunhenses. Fica para a próxima.

Silvestre Brandão Félix
Abrunheira, 11 de setembro de 2017

Foto tirada por mim: Chafariz da Charneca (D. Maria I – Século XVIII) 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VERÃO NO FIM, COMEÇO DAS AULAS E PANFLETOS DA CAMPANHA ELEITORAL

Mais de trinta graus a caminho dos quarenta, é muito para um abrunhense ou abrunheirense, como outros afirmam ser correto dizer-se. Bom, duma maneira ou doutra, trinta e tal graus não deixa de ser calor e, ainda mais, se o nosso providencial ventinho estiver de folga. Dirão alguns; é verão, por isso natural que estejam trinta e tal graus. Pois, é verdade, digo eu. Mas então, como explicamos a um neto ou uma neta, que tem de ir para a escola durante o verão, que, em boa verdade, está associado (o verão) a férias, praia, preguiça, forrobodó, etc.?

Eu, quando pela “Quinta do Olival” passava, tomando a esquerda e, mais acima, depois da curva, virava à direita junto à taberna do (depois do Faial) Ramos e enfiava pela azinhaga da pia até um pouquinho antes da entrada para a Escola, nunca o fazia antes de 7 de outubro. É verdade, naquele tempo do “botas”, as escolas começavam todas nesse dia, desde que não fosse sábado ou domingo.

Pela Abrunheira, mesmo com ventania, o mês de setembro era de férias e o pessoal do Casal dos Icos não dava tréguas à brincadeira. Bem comandados pela Luizinha, o bando brincava, rezingava, pedalava e descansava até final do mês. 

Porque assim era, o nosso saudoso Júlio Silva, só levantava a tenda de campismo da Lagoa de Albufeira, no feriado (que uns inteligentes há pouco tempo quiseram eliminar) do 5 de outubro. Nesse dia, fazia-se o último banho salgado da época e era cozinhado o último almoço na praia, pela nossa querida Laura. Dois dias depois, os rapazes e raparigas começavam a Escola.

Ainda escrevendo sobre altas temperaturas e fortes ventanias, uns quantos contados em anos mais tarde, quando por outros mundos andava, duas principais coisas, para além da família, me faziam sempre falta: Não ter à vista a torre do Palácio da Pena e, se o destino fosse África da Lusofonia, o ventinho que pela Abrunheira passa a maior parte dos dias do ano. É claro que gostaria de ter comigo outras “serventias”, mas, estas duas, eram as mais importantes.

Voltando outra vez para trás e ao uso das fontes, chafarizes e “saudosas” águas correntes do Rio das Sesmarias todo o ano, não resisto à tentação de puxar pela imaginária de cordel e ao vício incontornável de falar de abrunhenses ou abrunheirenses que, também, muitas vezes passaram pelo Largo do Chafariz, sentindo o vento e, claro está, o saudável odor, resultado das necessidades fisiológicas que, todos os animais, enquanto matavam a seda, ali deixavam.   

Então, ainda de calor e vento escrevendo, de certeza, que as mesmas queixas tiveram, não poucas vezes, o Coutinho que era Bernardino e tinha a “Ciência-da-Pedra”, e o Sacadura que era Francisco Borrego e não se lhe conhecia ciência nenhuma, que, fiando-se no ventinho da nossa “Terra”, daquela vez lhes faltou e a tornaram Brasil do Atlântico Norte – assim como se fosse um regresso às origens como conta o Laurentino Gomes no 1822 – numa aventura que, em vez de aeronáutica, se tornou acrobática, quando foram os dois parar com os quatro costados ao chão.  

Vestígio da nossa brasilidade, o Café Brasil, lá em cima, na avenida dos combatentes. Pois então, a única razão porque o Manel batizou assim o café, foi a dita aventura, sonhada pelos abrunhenses ou abrunheirenses, Coutinho que era Bernardino e Sacadura que era Francisco Borrego, que assim se tornaram padrinhos da alcunha de “Brasil” que a nossa Terra tomou, até aos da minha geração. Daí para cá, foi-se perdendo o sentido da alcunha e, hoje, rapaz ou rapariga que, nestes primeiros dias deste mês, já será “despejada(o)” na grande escola, saberá, sim, onde é o Brasil das telenovelas, mas desconhece onde é o outro “Brasil” deste lado do Atlântico.    
   
O Bernardino que não era Coutinho, porque o trabalho na pedreira do Ti Miguel, para além da “Ciência” que aplicava em cada operação de quebradura bem medida, tinha de ter a força física requerida para que o resultado fosse o pretendido e, as temperaturas altas, não eram nada amigas desta arte da pedra, levada, muito a sério, pelo genro do Caracol Velho.

Nem a Judite Caracol, sua mulher, se dava bem com o calor. Pois é, ela, mulher de muitos quereres e saberes, quando a temperatura ia alta, logo adivinhava que tarefa extra ia ter nesse dia. Lá mais para a tardinha, espreitar pelo Faial ou Ramos, pelo Álvaro e Menina Emília, até encontrar o Coutinho que era Bernardino e lavá-lo para casa já com muitos “gãos-na-asa”, ou seja, muitas ciganas e charretes metidas no bucho.   

O Francisco Borrego que não era Sacadura, também não se embeiçava com o calor e com a falta de vento. Se assim fosse, não teria dito: “empurra agora que faz vento”. E, como todos já sabemos, embora eles tivessem atirado as culpas para a falta de vento, não foi por isso que foram direitinhos ao chão.

O reclamante abrunhense ou abrunheirense, para o caso tanto faz, que, no que toca ao calor o faz pelo excesso e no extremo, já, no que ao frio diz respeito, a coisa vai pelo contrário. Não há frio que “chegue-aos-calcanhares” dos dias em que, de manhã, encontrávamos as covas do jogo do bilas, cheias de gelo. E também, a caminho da Escola, junto à “Vivenda Juveniana”, onde ainda está o sítio, mas de azulejos nada, a nascente que ali corria, ficava coberta de gelo. A gente quebrava-o e, dali a bocado, já estava outra vez na mesma.

O companheiro Rio das Sesmarias deixava que, nos cantinhos, junto às margens, a sua água gelasse um bocadinho e, passando, com sua licença, para a outra margem junto à horta do Manel da Colónia e à casa do Ti Joaquim, as pedreiras do Ti Miguel, lá mais acima, laboratório da “Ciência-da-Pedra” do Coutinho que era Bernardino, no inverno formava pequenas lagoas cobertas de gelo. Havia anos em que o Zé Augusto, atreito à aventura, conseguia andar por cima do gelo sem que se partisse.

Relendo a prosa que já vai longa e, quando digo, «altas temperaturas e forte ventania», alguns dos meus amigos, com certeza, pensarão que de campanha eleitoral, irei falar.

Não! Estejam descansados que a minha disposição, neste particular, é igual à dos candidatos. Tudo calmo e sem se falar de nada. Completamente ignorados e esquecidos. Curiosamente, nem promessas há. Claro, estou a referir-me à nossa Terra, quanto muito, à antiga (que espero ainda seja recuperada) freguesia de São Pedro de Penaferrim. 

Silvestre Félix


Abrunheira, 6 de setembro de 2017 

Fotos: (Google)

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O SANTO, OS GANSOS DO TI VERÍSSIMO E AS TRETAS D’AGORA


Quando a “sorte-grande” calhava, tinha ordem de soltura para poder ver, naquele dia, “O Santo”, na televisão da “Sociedade”. Eu e os outros ainda putos, quando, assim era, muito contentes ficávamos.   

Começava a prosa para a minha Mãe e ela respondia:

“De santos está o mundo cheio!”

E eu, sem saber muito bem o que havia de dizer, insistia até ouvir:

Tá bem, vai lá, mas quando acabar vem logo para casa.  

Na Abrunheira daquela altura, que, como agora, de manhã se vazava e ao cair da noite se enchia de operários e operárias das fábricas à volta. A maior de todas era a Messa das máquinas de escrever. Eram alguns milhares. De números certos não sou sabedor como o Bento, que por lá laborou.

Eu, uns anos mais tarde, muitos calos ganhei nos “indicadores” das duas mãos, matraqueando naquelas teclas duras e que exigiam alguma força.

Peças pré-históricas, hoje, para a miudagem que já nasce com “écrans-touch” numa mão e xuxa na outra.  A Estrada de Mem Martins, da Estação ao Cruzeiro, nas horas de ponta, se enchia de caminhantes idos ou vindos da Messa.

Como sempre vou repetindo, para ver se em mim acreditam, a relação que tenho com a lembrança de nomes, é má, muito má, mesmo! Por isso, não se arreliem os meus amigos citados, não fazendo parte da estória, ou os outros que, não citados, poderiam lá ter estado. Inventar, nos escritos, faz parte dos “abençoados” desabafos seniores.

Ver televisão na “Sociedade” era divertimento de luxo. O Ti Jorge Farpela lá ligava a “coisa” e estava sempre atento quando lhe dava os habituais “fanicos”. Ele, sabedor e especializado, lá ia e mexia no botão da esquerda no da direita, ao centro, pancadinha daqui e dali e a “coisa” deixava de tremelicar. Outras vezes era mesmo preciso ir corrigir a direção da antena.

Há dias, mencionei aqui num escrito, o carneiro “Baltazar” do Tavinho. Era um “cornudo” ensinado pelo dono e, à coca estava sempre, pelo Largo do Chafariz. Ali, iam muitos animais beber água e era caminho de todos os abrunhenses. O danado do “Baltazar”, metia-se com todos para gaudio do Tavinho. Ria que nem um perdido. Mas, então, porque escrevi sobre ele, perguntaram-me mais pormenores sobre o “Baltazar” e eu não soube responder. Não soube, porque não o conheci. Quem parece, ainda levou algum “encosto” do carneiro, foi o meu irmão Vitor. Através da “musica” dele, é que eu soube do “cornudo”.

O meu habitual receio de passar no Largo do Chafariz naquele tempo, era, por causa dos gansos do Ti Veríssimo. Aqueles “monstros” de penas, também faziam guarda ao Largo e, andante que não lhes agradasse, corriam atrás e mordiam-lhe as canelas. Desses é que eu tinha medo.

Claro, fui crescendo e os, antes, “monstros”, já não me pareciam assim tão grandes. Ainda assim, os fulanos, de pescoço acima e abaixo, sopravam e sopravam, se calhar, na esperança que em dragões se transformassem e, à força do fogo, me pusessem dali para fora.

Já espigadote, sentado com o Rui e o Zé Fernando no degrau do armazém do Ti Álvaro, muitas vezes miramos as tentativas dos gansos em levantar voo. Vinham a correr com as asas a-dar-a-dar para cima e para baixo, desde o Ti Miguel e, quando chegavam perto do Chafariz, as patas, por breves instantes, levantavam um pouco do chão. Paravam e desistiam ao pé do João-d’Leião.

Diz-se, “que a conversa é como as cerejas”, não tem fim e, a escrita, é como uma torneira aberta (com o freio nos dentes), não acaba. Assim seja!

Naquela época dos gansos do Ti Veríssimo, à volta da terceira ou quarta classe, pela primavera e verão acima, muitos grilos e cigarras se ouviam na Abrunheira. Pelo Rio das Sesmarias corria água e lá andavam as enguias que iam e enchiam os alcatruzes do poço da horta, nalguns sítios até dava para tomarmos banho, quando o calor apertava. À noite, junto dos novos postes da luz, dezenas de morcegos cirandavam caçando os insetos encadeados pelas lâmpadas. Fora do perímetro do clarão elétrico, uma multidão de pirilampos ou, como lhes chamávamos, “caga-lumes”.

Andando cá para a frente, cinquenta e muitos de tempo contado em anos, que nem dá para a reforma por inteiro, muitas tretas vemos, ouvimos e lemos. A maior parte, não dá para acreditar porque, no fim, são tretas, mesmo!

Fique claro que não quero voltar aquela época. Já foi! Já passou!

Evoluímos e hoje temos uma vida melhor, mas, mesmo assim, gostava que os caga-lumes continuassem a ser vistos, que os morcegos “mamassem” os mosquitos e melgas sem ser preciso usarmos inseticida para os matar, que o Rio das Sesmarias continuasse a ter água e enguias a maior parte do ano, que os grilos e as cigarras se ouvissem.

Os lugares são feitos de pessoas. A Abrunheira tem história e devemos conhecê-la. É importante que se lembrem os protagonistas dessa história.

Neste tempo de elaboração de programas eleitorais, de promessas, mesmo que sejam vãs, como infelizmente na maior parte das vezes acontece, que se faça um esforço para dignificar a memória dos abrunhenses idos, se respeitem os do presente e se prepare a chegada dos que aí vêm.

Silvestre Félix

31 de agosto de 2017

Foto: Google

sábado, 19 de agosto de 2017

ASSENTO DE PROXIMIDADE


“Assento de proximidade” (dos abrunhenses) era, como já aqui tenho escrito, o local onde o “poder” se sentava, até ao longínquo (???) ano de 2013.

Há quem não acredite no azar do número, mas eu, pelo-sim-pelo-não, não descarto o propósito do treze, de vez em quando, nos tramar a vida. Acredito também, que não foi por acaso, ter mandado tanto naquele governo de má memória, o fulano que viria a cair por outras razões muito menos gravosas do que esta, de transformar o “assento de proximidade” em “assento distante”.

Pois é, mudaram o “assento” de sítio e, quem precisar de lhe chegar, que se lixe, aliás, é sempre o mesmo e o mexilhão que o diga.

Naquele “longínquo” ano, muitos berraram e barafustaram, mas, passados quatro de anos contados, tudo caladinho! No que toca ao local do “assento”, nem se mexem, não vá alguém dar por eles. Nos dias ímpares, dá a impressão que também lhes interessa que assim seja. Nos dias pares, fazem de conta que o “poder” até não está assim tão longe.

A Abrunheira, quando o “assento de proximidade” era em São Pedro de Penaferrim, chegou a ter bem encaminhado, garantido poiso para Quartel da GNR, Centro de Saúde, Escola pelo menos até ao 3º ciclo e outras benfeitorias. Tudo se esfumou e o Largo do nosso Chafariz, deixou de dar caminho às alegrias duma Assembleia de Voto. Dá-nos tristezas, só isso!

Deixamos de poder escolher o nosso vizinho, amigo ou conhecido, porque o “assento” está muito distante e, lá, são outros que se sentam.

A mês e meio de fazer a cruzinha no boletim de voto, os que botam faladura, vão-se desdobrando em futilidades que, mesmo essas, só são lembradas de quatro em quatro anos.

Partidos velhos, partidos novos, independentes que já (nunca) foram, e outros que tais, têm ainda tempo para convencer os mais descuidados.

Para reagir a estas manigâncias, muita falta faz, que o “bem-armado” carneiro Baltazar do Tavinho, pudesse voltar a passear no Largo do Chafariz e que, bem puxada a sua natureza, boas marradas conseguisse dar, nos “papagueadores” do costume. 

Decerto que este carneiro Baltazar do Tavinho, saberia diferenciar os maus, dos bons desta estória, que, ainda assim, também os há!

Silvestre Félix
Abrunheira, 19 de agosto de 2017


segunda-feira, 3 de julho de 2017

DAR-DE-FROSQUES, FIM DO IMPÉRIO E AS ELEIÇÕES


Na época em que, a expressão; "a sério", era mesmo sério e não admitia confusões, “O Século” do Ti Álvaro, trazia notícias da Guerra do Vietname e doutras, mas, da Guerra em Angola; nada! Era um caso sério. Havia alguns que, de miudinho e baixinho, falavam da guerra “nas Áfricas”.  O azul do lápis, ia cumprindo a sua missão sensória. Riscava, cortava e, se preciso fosse, convocava o destemido autor do escrito e ameaçava-o com uma visita acompanhada ao “Resort” da António Maria Cardoso. Daí que, de “guerra”, só do Vietname se podia ler no “O Século” do Ti Álvaro.

Associarei sempre a minha aprendizagem de leitura “a sério”, ao jornal “O Século” do Ti Álvaro e às notícias que ele deixava que eu lesse, de joelhos, no banco verde corrido e debruçado sobre o tampo da mesa em mármore. Lia e ganhava o receio da guerra, porque ouvia em surdina; «vai acabar antes de eu ir p’ra tropa».

A Ti Augusta sossegava-me.

— Ainda falta muito tempo! Quando fores p’ra tropa, já não há guerra “nas áfricas”.

Sentia-me melhor pela segurança que a minha Mãe sempre me transmitia.    

A meio da leitura, sempre sentia por perto o Ti Hilário. Com a Ti Natália na labuta, lá se aventurava a um copinho-de-dois. Seria branco, tinto, dois ou de três, ou um bagacito? A minha memória também não vai apurada tão longe. Até posso inventar um bocadinho. Não será pela quantidade ou qualidade da bebida, que me hão de levar a mal. O fato-macaco, tenho a certeza que era azul e sempre borrifado de cimento ou estuque. Restos e sinais da última obra de trabalho afincado.

Pois é! Mas eu sabia que no “O Século” do Ti Álvaro, não vinham todas as notícias. Então e os “aerogramas” que o meu Primo Xico mandava da Guiné? Era eu que os lia à minha Tia Ermelinda e, por isso, sabia muito mais coisas, do que vinha no jornal. O Xico disfarçava no que escrevia, mas eu percebi sempre que a coisa nunca foi fácil; era guerra “a sério”! Depois do “soro” bem espremido e os queijinhos todos dentro dos cinchos, a minha Tia Ermelinda ditava a resposta. Claro, a maior parte do texto era sempre igual e eu adiantava-me. Para o final, “lavada” em lágrimas, lá me ditava o que lhe ia na alma.

A sério, naquele tempo em que lia notícias da Guerra do Vietname no “O Século” do Ti Álvaro, não havia opção ao que configurava, estar “a bem com a nação”. A alternativa era “saltar”. Aqui, o “saltar” não tinha nada a ver com “saltar-à-corda” ou “saltar-ao-eixo”. Era ir embora, “dar-de-frosques”, “ir à vida”, enfim; emigrar clandestinamente.

A sério! Clandestinamente porque para atravessar a fronteira e pôr o pezinho em Espanha, era preciso passaporte e, para se conseguir, era o “cabo dos trabalhos” e a PIDE não brincava em serviço. Ou bem que era ditadura “a sério”, ou então, que acelerassem o “25 de abril”.  

A sério! Se saltássemos cinquenta e muitos de tempo contado em anos p’ra frente, com água sempre a correr na bica do chafariz e no Rio das Sesmarias por debaixo da “Ponte da Colónia”, seria “à séria”! Sim, agora, cá à frente, depois da troika, da deflação, dos cortes nos ordenados, nas pensões, nos subsídios de férias e de Natal, virou moda adjetivar esta expressão no feminino.

Mas porque agora se diz, “à séria” e não, “a sério”?

Procurei em todos os “cantinhos”, mas não tem nada a ver com o acordo ortográfico.

Provavelmente, alguns dos que defendem uma “cruzada”, “à séria”, contra o acordo, ficariam satisfeitos se voltássemos a escrever “pharmácia” em vez de “farmácia”, mas, esta coisa anda para a frente e já não temos “império”, quanto mais propriedade da “língua”. A língua é património dos falantes e não de nenhum país em particular. É curioso saber que, por exemplo, alguns brasileiros também são contra o acordo. Na maioria dos casos, as razões são as mesmas, só que, ao contrário.

Bem, deixemo-nos de acordos e desacordos, e bem guardadinho numa prateleira da memória, “O Século” do Ti Álvaro e, agora, a “sério”, lembremo-nos que estamos a caminhar rapidamente para mais uma ida às “urnas”.

Terão os abrunhenses condições e vontade para avaliar a “seriedade” dos candidatos que se vão propor?

Saberão os abrunhenses quem são, donde vêm e que capacidade têm para fazerem aquilo que prometem?

Estarão os abrunhenses dispostos a dar o voto e uma palmada nas costas a quem nunca lhes deu nada?

Votarão os abrunhenses em “listas” elaboradas, só, segundo critérios partidários, sem que, as suas necessidades e a sua opinião, sejam levadas em conta?

Gostarão os abrunhenses de tornarem a votar numa “união” de freguesias descaracterizada e incapaz de se aproximar do “Freguês”, em vez de escolher o seu Órgão Autárquico de proximidade; a Junta de Freguesia de São Pedro de Penaferrim?

A “sério” que não é difícil responder a todas estas perguntas. A agregação destas três freguesias levada a cabo pelo anterior governo do PSD/CDS e votada em Assembleia Municipal, é uma autêntica aberração. Admito que, em vez de três, com alterações aos limites anteriormente existentes, pudessem passar a ser duas. Agora, assim, como foi, não!

O que mais me “engalinha”, a “sério”, é não ter sido feito nada para corrigir a situação a tempo das próximas eleições.

Silvestre Félix
3 de julho de 2017

Tags: Abrunheira, Ti Álvaro