Alcachofras no Cerrado-da-Fonte Abrunheira - 06jun2020 |
Tantas vezes ouvi este nome, “Cerrado da Fonte” que, muito
embora o meu eterno litígio com este lado do arquivo que guarda os nomes das
coisas, sítios e pessoas, mil anos que viva, nunca o hei de esquecer. Ainda por
cima, estava logo a seguir à “horta” por onde tantas vezes passava e passeava, umas
vezes sozinho, outras acompanhado. Do lado de lá, estava (e está) o tanque de
rega onde morava o meu Cágado “Manel”, pomposo nome para tão “rebaixado” ser,
mas que eu adorava e ele a mim (https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2018/03/cagado-que-naquela-epoca-se-chamava.html ), como noutros escritos eu tenho
deixado bem vincado.
Todos os dias, pelas mais variadas razões, ouvia alguém falar
no “Cerrado da Fonte”. Muitas vezes, tantas quantas um “puto” daqueles anos
50/60 do antigo século vinte, numa boa terra como a abrasileirada — por via das
aventuras do Coutinho que era Bernardino e do Borrego que não era Sacadura —
Abrunheira, tinha tino e curiosidade para perguntar, porque raio lhe chamavam “fonte”,
se não havia por lá nenhuma? Bom, na verdade, ainda hoje o mistério, para mim,
se mantém. Sempre que por lá passo, repito, mentalmente, a pergunta; porquê, “…da
fonte”? Onde esteve a fonte?
Naquele tempo também havia, com certeza, alcachofras, no
Cerrado da Fonte. Só que, aquela área, tinhas outras ocupações por esta altura
do ano, antes de se transformar em “eira” para debulha e enfardamento dos cereais
do Silvestre-Velho e do “Sapateiro-de-Manique” trazer o rebanho para pisar bem a
terra e de comer, que muito bem lhe sabia, as batatas com bacalhau que a minha
avó Gertrudes fazia naquela ocasião; “oh patroa, o que pôs nas batatas que
elas escorregam que é uma beleza”? Repetia do “Sapateiro-de-Manique”,
enquanto metia à boca, garfadas atrás de garfadas de batatas e bacalhau.
Antes disso, havia seara de trigo, cevada ou aveia, ondulada pelo vento que ali batia e bate e, por isso, as ditas alcachofras não sobressaíam porque serpenteavam por entre os caules que engrossavam e já formavam a espiga que, numa quinta-feira da “Ascensão”, se haviam juntado, num raminho, a lindas papoilas vermelhas, malmequeres, outras belezas campestres e um triângulo de pão, para casa levado, ficando a fartura de comer garantida até ao ano seguinte.
Antes disso, havia seara de trigo, cevada ou aveia, ondulada pelo vento que ali batia e bate e, por isso, as ditas alcachofras não sobressaíam porque serpenteavam por entre os caules que engrossavam e já formavam a espiga que, numa quinta-feira da “Ascensão”, se haviam juntado, num raminho, a lindas papoilas vermelhas, malmequeres, outras belezas campestres e um triângulo de pão, para casa levado, ficando a fartura de comer garantida até ao ano seguinte.
O forno de cal também estava calado. Nesta altura, este,
descansava da sua labuta mais para o tempo frio que de calor, já bastava o
braseiro da fornalha a muitos graus de temperatura para transformar pedra em alva
cal.
Neste dia 13 de junho, celebra-se o primeiro
dos santos, o “António”, que é também o da Abrunheira. Por todo o lado, a “pandemia”
lixou tudo, incluindo as comemorações dos Santos Populares, mas as alcachofras
é que não se importam com isso. Com vírus, ou sem ele, elas aí estão para que
não nos esqueçamos que é junho, a passagem para o verão.
Silvestre Brandão Félix
13
junho de 2020