quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

NATAL E ANO NOVO


Desejo a todos os meus amigos e amigas que habitualmente visitam este blogue, um feliz Natal e ótimo ano de 2018. 


Que a amizade e a fraternidade vençam todas as adversidades da vida e, acima de tudo, que haja muita saúde.


Beijos e abraços para todos!


Silvestre Brandão Félix

20 dezembro de 2017

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

POPULISTAS, O BALTAZAR E AS OVELHAS COM O CIO

Sem saber como, em menos de nada, o Manel Fingido estava com os quatro costados no chão. Ainda com as pernas a dar-a-dar, no ar, cabeçorra ao léu porque, com a queda, a boina voou como se ventoinha fosse, gritava:

— Ai! Ai! Ai! Que o cabrão do carneiro me mata! Tirem-no de cima de mim… ai, ai, ai… que eu morro já aqui!

Enquanto o Manel Fingido gritava e tentava levantar-se, o Tavinho, nas calmas dele e adivinhando o motivo de tamanha algazarra, porque, logo pela fresquinha, o Baltazar lhe tinha arreganhado a dentuça, deixou o que estava a fazer e, à entrada da casa das vacas, confirmando o suposto, assobiou e chamou-o.

Pois é! Mais uma vez, o Baltazar tinha feito das suas. Desde borreguito que tinha tomado o Largo do Chafariz como território seu e, ameaça que se aproximasse, não hesitava nem perdoava; recuava um metro ou mais para tomar balanço, raspava o chão duas vezes e, empinando-se só com as traseiras no chão, com toda a força, corria com a encaracolada cornadura bem apontada e raramente falhava o alvo.

O Baltazar, que continuava a marrar no Manel, que se mantinha no chão com as mãos rodeando a cabeça, como se, de bombardeamento se protegesse, estancou e virou-se na direção do Tavinho. Lá foi, como um cordeirinho manso, roçar-se nas pernas do dono que ainda ria com mais esta investida do carneiro Baltazar.

Finalmente, o Manel Fingido lá se conseguiu levantar e, olhando à volta, louco de raiva ficou, quando percebeu que esteve a dar espetáculo para muita gente. O Álvaro foi o primeiro a virar costas e a recolher ao interior do balcão, o Ti Hilário, que tinha acabado de chegar, disfarçou e, assobiando a melodia do fado do trinta e um, porque era quinta-feira, se fosse sexta, teria assobiado a do fado hilário, também entrou na taberna atrás do Álvaro. Para ele, estava na hora de mais um copito de dois branquinho, para abrir o apetite. 

Por cima do muro do quintal, também o Zé da Maria Alice tinha espreitado a sessão. Até os gansos, parados do lado de cima do Largo, assim lado a lado, como se fosse uma plateia, estiveram quietos e observadores enquanto durou aquela desigual luta. O Zé da Natália e outros mais da Natália que houvesse, também tinham assistido à “sessão” do Baltazar, mas, devagarinho, desandaram.

Muitas vezes o Ti Veríssimo, embora achando graça ao carneiro, tinha avisado o filho do perigo que era aquela “fera”. Até a Ofélia, vezes sem conta, pedia ao Tavinho para acabar com a brincadeira, mas não havia forma disso acontecer.

O Manel Fingido, amachucado como estava, certificando-se que o carneiro não estava por perto, foi ter com o Tavinho pedindo-lhe satisfações e exigindo a sua responsabilidade. Este, desculpando-se com a maluquice do carneiro, enfim, que era para defender as ovelhas… que quando havia ovelhas com o cio, era este desatino e mais assim e assado… porque tinha que lhe andar sempre a pôr o avental e que, hoje, ainda não tinha tido tempo de o fazer.

O Manel não estava a achar graça nenhuma às explicações do Tavinho. Mas o que tinha ele a ver com o cio das ovelhas? E o avental? Mas que raio de conversa era aquela?

O Ti Hilário, com o característico sorriso nos lábios, bebido e bem saboreado o “branquinho” que o Álvaro lhe encheu, encostado à ombreira da porta, assistia às atabalhoadas explicações do Tavinho ao Manel Fingido. Do seu peculiar silêncio, como era costume, retirava e ia reverter para o futuro, aí, pelo menos, cinquenta de tempo contado em anos, o espetáculo que seria, o Baltazar solto, sem avental, deambulando pelo Largo do Chafariz.

O Ti Hilário, embora às vezes parecesse, não se ria sem razão. Uma ou outra, pela forma habilidosa como conseguia dar a volta à Ti Natália, mas, a maioria, quando do seu silêncio retirava e revertia imagens muito para além, no tempo, como as que naquele dia tinha visto: 

Figurantes muito “papagueadores”, com uma espécie de cartazes com ditos “populistas”, que, por estarem uns atrás dos outros, o Baltazar os considerou como potenciais ameaças para as suas ovelhas com o cio.   

Bom, nem queiram saber, aquilo era marrada atrás de marrada, papagueadores e populistas pelo chão, uns de barriga para cima, outros de barriga para baixo ou de cócoras, promessas e compromissos a voar por tudo quanto era lado e, na mesma posição calma e silenciosa, encostado à ombreira da porta do Álvaro, fumando a sua inseparável beata, o Ti Hilário sorria, ensaiando uma alegre gargalhada para mais tarde.

O Baltazar não era só o guardador do rebanho, outros lhe chamaram, meio a sério, meio a brincar: O justiceiro popular!

Silvestre Brandão Félix
6 dezembro de 2017
Foto: Google
Nota: Os meus escritos no Largo do Chafariz, partem, quase sempre, duma base mais-ou-menos verdadeira, mas são totalmente ficcionados. Alguns nomes são verdadeiros e outros não.