quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VERÃO NO FIM, COMEÇO DAS AULAS E PANFLETOS DA CAMPANHA ELEITORAL

Mais de trinta graus a caminho dos quarenta, é muito para um abrunhense ou abrunheirense, como outros afirmam ser correto dizer-se. Bom, duma maneira ou doutra, trinta e tal graus não deixa de ser calor e, ainda mais, se o nosso providencial ventinho estiver de folga. Dirão alguns; é verão, por isso natural que estejam trinta e tal graus. Pois, é verdade, digo eu. Mas então, como explicamos a um neto ou uma neta, que tem de ir para a escola durante o verão, que, em boa verdade, está associado (o verão) a férias, praia, preguiça, forrobodó, etc.?

Eu, quando pela “Quinta do Olival” passava, tomando a esquerda e, mais acima, depois da curva, virava à direita junto à taberna do (depois do Faial) Ramos e enfiava pela azinhaga da pia até um pouquinho antes da entrada para a Escola, nunca o fazia antes de 7 de outubro. É verdade, naquele tempo do “botas”, as escolas começavam todas nesse dia, desde que não fosse sábado ou domingo.

Pela Abrunheira, mesmo com ventania, o mês de setembro era de férias e o pessoal do Casal dos Icos não dava tréguas à brincadeira. Bem comandados pela Luizinha, o bando brincava, rezingava, pedalava e descansava até final do mês. 

Porque assim era, o nosso saudoso Júlio Silva, só levantava a tenda de campismo da Lagoa de Albufeira, no feriado (que uns inteligentes há pouco tempo quiseram eliminar) do 5 de outubro. Nesse dia, fazia-se o último banho salgado da época e era cozinhado o último almoço na praia, pela nossa querida Laura. Dois dias depois, os rapazes e raparigas começavam a Escola.

Ainda escrevendo sobre altas temperaturas e fortes ventanias, uns quantos contados em anos mais tarde, quando por outros mundos andava, duas principais coisas, para além da família, me faziam sempre falta: Não ter à vista a torre do Palácio da Pena e, se o destino fosse África da Lusofonia, o ventinho que pela Abrunheira passa a maior parte dos dias do ano. É claro que gostaria de ter comigo outras “serventias”, mas, estas duas, eram as mais importantes.

Voltando outra vez para trás e ao uso das fontes, chafarizes e “saudosas” águas correntes do Rio das Sesmarias todo o ano, não resisto à tentação de puxar pela imaginária de cordel e ao vício incontornável de falar de abrunhenses ou abrunheirenses que, também, muitas vezes passaram pelo Largo do Chafariz, sentindo o vento e, claro está, o saudável odor, resultado das necessidades fisiológicas que, todos os animais, enquanto matavam a seda, ali deixavam.   

Então, ainda de calor e vento escrevendo, de certeza, que as mesmas queixas tiveram, não poucas vezes, o Coutinho que era Bernardino e tinha a “Ciência-da-Pedra”, e o Sacadura que era Francisco Borrego e não se lhe conhecia ciência nenhuma, que, fiando-se no ventinho da nossa “Terra”, daquela vez lhes faltou e a tornaram Brasil do Atlântico Norte – assim como se fosse um regresso às origens como conta o Laurentino Gomes no 1822 – numa aventura que, em vez de aeronáutica, se tornou acrobática, quando foram os dois parar com os quatro costados ao chão.  

Vestígio da nossa brasilidade, o Café Brasil, lá em cima, na avenida dos combatentes. Pois então, a única razão porque o Manel batizou assim o café, foi a dita aventura, sonhada pelos abrunhenses ou abrunheirenses, Coutinho que era Bernardino e Sacadura que era Francisco Borrego, que assim se tornaram padrinhos da alcunha de “Brasil” que a nossa Terra tomou, até aos da minha geração. Daí para cá, foi-se perdendo o sentido da alcunha e, hoje, rapaz ou rapariga que, nestes primeiros dias deste mês, já será “despejada(o)” na grande escola, saberá, sim, onde é o Brasil das telenovelas, mas desconhece onde é o outro “Brasil” deste lado do Atlântico.    
   
O Bernardino que não era Coutinho, porque o trabalho na pedreira do Ti Miguel, para além da “Ciência” que aplicava em cada operação de quebradura bem medida, tinha de ter a força física requerida para que o resultado fosse o pretendido e, as temperaturas altas, não eram nada amigas desta arte da pedra, levada, muito a sério, pelo genro do Caracol Velho.

Nem a Judite Caracol, sua mulher, se dava bem com o calor. Pois é, ela, mulher de muitos quereres e saberes, quando a temperatura ia alta, logo adivinhava que tarefa extra ia ter nesse dia. Lá mais para a tardinha, espreitar pelo Faial ou Ramos, pelo Álvaro e Menina Emília, até encontrar o Coutinho que era Bernardino e lavá-lo para casa já com muitos “gãos-na-asa”, ou seja, muitas ciganas e charretes metidas no bucho.   

O Francisco Borrego que não era Sacadura, também não se embeiçava com o calor e com a falta de vento. Se assim fosse, não teria dito: “empurra agora que faz vento”. E, como todos já sabemos, embora eles tivessem atirado as culpas para a falta de vento, não foi por isso que foram direitinhos ao chão.

O reclamante abrunhense ou abrunheirense, para o caso tanto faz, que, no que toca ao calor o faz pelo excesso e no extremo, já, no que ao frio diz respeito, a coisa vai pelo contrário. Não há frio que “chegue-aos-calcanhares” dos dias em que, de manhã, encontrávamos as covas do jogo do bilas, cheias de gelo. E também, a caminho da Escola, junto à “Vivenda Juveniana”, onde ainda está o sítio, mas de azulejos nada, a nascente que ali corria, ficava coberta de gelo. A gente quebrava-o e, dali a bocado, já estava outra vez na mesma.

O companheiro Rio das Sesmarias deixava que, nos cantinhos, junto às margens, a sua água gelasse um bocadinho e, passando, com sua licença, para a outra margem junto à horta do Manel da Colónia e à casa do Ti Joaquim, as pedreiras do Ti Miguel, lá mais acima, laboratório da “Ciência-da-Pedra” do Coutinho que era Bernardino, no inverno formava pequenas lagoas cobertas de gelo. Havia anos em que o Zé Augusto, atreito à aventura, conseguia andar por cima do gelo sem que se partisse.

Relendo a prosa que já vai longa e, quando digo, «altas temperaturas e forte ventania», alguns dos meus amigos, com certeza, pensarão que de campanha eleitoral, irei falar.

Não! Estejam descansados que a minha disposição, neste particular, é igual à dos candidatos. Tudo calmo e sem se falar de nada. Completamente ignorados e esquecidos. Curiosamente, nem promessas há. Claro, estou a referir-me à nossa Terra, quanto muito, à antiga (que espero ainda seja recuperada) freguesia de São Pedro de Penaferrim. 

Silvestre Félix


Abrunheira, 6 de setembro de 2017 

Fotos: (Google)

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O SANTO, OS GANSOS DO TI VERÍSSIMO E AS TRETAS D’AGORA


Quando a “sorte-grande” calhava, tinha ordem de soltura para poder ver, naquele dia, “O Santo”, na televisão da “Sociedade”. Eu e os outros ainda putos, quando, assim era, muito contentes ficávamos.   

Começava a prosa para a minha Mãe e ela respondia:

“De santos está o mundo cheio!”

E eu, sem saber muito bem o que havia de dizer, insistia até ouvir:

Tá bem, vai lá, mas quando acabar vem logo para casa.  

Na Abrunheira daquela altura, que, como agora, de manhã se vazava e ao cair da noite se enchia de operários e operárias das fábricas à volta. A maior de todas era a Messa das máquinas de escrever. Eram alguns milhares. De números certos não sou sabedor como o Bento, que por lá laborou.

Eu, uns anos mais tarde, muitos calos ganhei nos “indicadores” das duas mãos, matraqueando naquelas teclas duras e que exigiam alguma força.

Peças pré-históricas, hoje, para a miudagem que já nasce com “écrans-touch” numa mão e xuxa na outra.  A Estrada de Mem Martins, da Estação ao Cruzeiro, nas horas de ponta, se enchia de caminhantes idos ou vindos da Messa.

Como sempre vou repetindo, para ver se em mim acreditam, a relação que tenho com a lembrança de nomes, é má, muito má, mesmo! Por isso, não se arreliem os meus amigos citados, não fazendo parte da estória, ou os outros que, não citados, poderiam lá ter estado. Inventar, nos escritos, faz parte dos “abençoados” desabafos seniores.

Ver televisão na “Sociedade” era divertimento de luxo. O Ti Jorge Farpela lá ligava a “coisa” e estava sempre atento quando lhe dava os habituais “fanicos”. Ele, sabedor e especializado, lá ia e mexia no botão da esquerda no da direita, ao centro, pancadinha daqui e dali e a “coisa” deixava de tremelicar. Outras vezes era mesmo preciso ir corrigir a direção da antena.

Há dias, mencionei aqui num escrito, o carneiro “Baltazar” do Tavinho. Era um “cornudo” ensinado pelo dono e, à coca estava sempre, pelo Largo do Chafariz. Ali, iam muitos animais beber água e era caminho de todos os abrunhenses. O danado do “Baltazar”, metia-se com todos para gaudio do Tavinho. Ria que nem um perdido. Mas, então, porque escrevi sobre ele, perguntaram-me mais pormenores sobre o “Baltazar” e eu não soube responder. Não soube, porque não o conheci. Quem parece, ainda levou algum “encosto” do carneiro, foi o meu irmão Vitor. Através da “musica” dele, é que eu soube do “cornudo”.

O meu habitual receio de passar no Largo do Chafariz naquele tempo, era, por causa dos gansos do Ti Veríssimo. Aqueles “monstros” de penas, também faziam guarda ao Largo e, andante que não lhes agradasse, corriam atrás e mordiam-lhe as canelas. Desses é que eu tinha medo.

Claro, fui crescendo e os, antes, “monstros”, já não me pareciam assim tão grandes. Ainda assim, os fulanos, de pescoço acima e abaixo, sopravam e sopravam, se calhar, na esperança que em dragões se transformassem e, à força do fogo, me pusessem dali para fora.

Já espigadote, sentado com o Rui e o Zé Fernando no degrau do armazém do Ti Álvaro, muitas vezes miramos as tentativas dos gansos em levantar voo. Vinham a correr com as asas a-dar-a-dar para cima e para baixo, desde o Ti Miguel e, quando chegavam perto do Chafariz, as patas, por breves instantes, levantavam um pouco do chão. Paravam e desistiam ao pé do João-d’Leião.

Diz-se, “que a conversa é como as cerejas”, não tem fim e, a escrita, é como uma torneira aberta (com o freio nos dentes), não acaba. Assim seja!

Naquela época dos gansos do Ti Veríssimo, à volta da terceira ou quarta classe, pela primavera e verão acima, muitos grilos e cigarras se ouviam na Abrunheira. Pelo Rio das Sesmarias corria água e lá andavam as enguias que iam e enchiam os alcatruzes do poço da horta, nalguns sítios até dava para tomarmos banho, quando o calor apertava. À noite, junto dos novos postes da luz, dezenas de morcegos cirandavam caçando os insetos encadeados pelas lâmpadas. Fora do perímetro do clarão elétrico, uma multidão de pirilampos ou, como lhes chamávamos, “caga-lumes”.

Andando cá para a frente, cinquenta e muitos de tempo contado em anos, que nem dá para a reforma por inteiro, muitas tretas vemos, ouvimos e lemos. A maior parte, não dá para acreditar porque, no fim, são tretas, mesmo!

Fique claro que não quero voltar aquela época. Já foi! Já passou!

Evoluímos e hoje temos uma vida melhor, mas, mesmo assim, gostava que os caga-lumes continuassem a ser vistos, que os morcegos “mamassem” os mosquitos e melgas sem ser preciso usarmos inseticida para os matar, que o Rio das Sesmarias continuasse a ter água e enguias a maior parte do ano, que os grilos e as cigarras se ouvissem.

Os lugares são feitos de pessoas. A Abrunheira tem história e devemos conhecê-la. É importante que se lembrem os protagonistas dessa história.

Neste tempo de elaboração de programas eleitorais, de promessas, mesmo que sejam vãs, como infelizmente na maior parte das vezes acontece, que se faça um esforço para dignificar a memória dos abrunhenses idos, se respeitem os do presente e se prepare a chegada dos que aí vêm.

Silvestre Félix

31 de agosto de 2017

Foto: Google

sábado, 19 de agosto de 2017

ASSENTO DE PROXIMIDADE


“Assento de proximidade” (dos abrunhenses) era, como já aqui tenho escrito, o local onde o “poder” se sentava, até ao longínquo (???) ano de 2013.

Há quem não acredite no azar do número, mas eu, pelo-sim-pelo-não, não descarto o propósito do treze, de vez em quando, nos tramar a vida. Acredito também, que não foi por acaso, ter mandado tanto naquele governo de má memória, o fulano que viria a cair por outras razões muito menos gravosas do que esta, de transformar o “assento de proximidade” em “assento distante”.

Pois é, mudaram o “assento” de sítio e, quem precisar de lhe chegar, que se lixe, aliás, é sempre o mesmo e o mexilhão que o diga.

Naquele “longínquo” ano, muitos berraram e barafustaram, mas, passados quatro de anos contados, tudo caladinho! No que toca ao local do “assento”, nem se mexem, não vá alguém dar por eles. Nos dias ímpares, dá a impressão que também lhes interessa que assim seja. Nos dias pares, fazem de conta que o “poder” até não está assim tão longe.

A Abrunheira, quando o “assento de proximidade” era em São Pedro de Penaferrim, chegou a ter bem encaminhado, garantido poiso para Quartel da GNR, Centro de Saúde, Escola pelo menos até ao 3º ciclo e outras benfeitorias. Tudo se esfumou e o Largo do nosso Chafariz, deixou de dar caminho às alegrias duma Assembleia de Voto. Dá-nos tristezas, só isso!

Deixamos de poder escolher o nosso vizinho, amigo ou conhecido, porque o “assento” está muito distante e, lá, são outros que se sentam.

A mês e meio de fazer a cruzinha no boletim de voto, os que botam faladura, vão-se desdobrando em futilidades que, mesmo essas, só são lembradas de quatro em quatro anos.

Partidos velhos, partidos novos, independentes que já (nunca) foram, e outros que tais, têm ainda tempo para convencer os mais descuidados.

Para reagir a estas manigâncias, muita falta faz, que o “bem-armado” carneiro Baltazar do Tavinho, pudesse voltar a passear no Largo do Chafariz e que, bem puxada a sua natureza, boas marradas conseguisse dar, nos “papagueadores” do costume. 

Decerto que este carneiro Baltazar do Tavinho, saberia diferenciar os maus, dos bons desta estória, que, ainda assim, também os há!

Silvestre Félix
Abrunheira, 19 de agosto de 2017


segunda-feira, 3 de julho de 2017

DAR-DE-FROSQUES, FIM DO IMPÉRIO E AS ELEIÇÕES


Na época em que, a expressão; "a sério", era mesmo sério e não admitia confusões, “O Século” do Ti Álvaro, trazia notícias da Guerra do Vietname e doutras, mas, da Guerra em Angola; nada! Era um caso sério. Havia alguns que, de miudinho e baixinho, falavam da guerra “nas Áfricas”.  O azul do lápis, ia cumprindo a sua missão sensória. Riscava, cortava e, se preciso fosse, convocava o destemido autor do escrito e ameaçava-o com uma visita acompanhada ao “Resort” da António Maria Cardoso. Daí que, de “guerra”, só do Vietname se podia ler no “O Século” do Ti Álvaro.

Associarei sempre a minha aprendizagem de leitura “a sério”, ao jornal “O Século” do Ti Álvaro e às notícias que ele deixava que eu lesse, de joelhos, no banco verde corrido e debruçado sobre o tampo da mesa em mármore. Lia e ganhava o receio da guerra, porque ouvia em surdina; «vai acabar antes de eu ir p’ra tropa».

A Ti Augusta sossegava-me.

— Ainda falta muito tempo! Quando fores p’ra tropa, já não há guerra “nas áfricas”.

Sentia-me melhor pela segurança que a minha Mãe sempre me transmitia.    

A meio da leitura, sempre sentia por perto o Ti Hilário. Com a Ti Natália na labuta, lá se aventurava a um copinho-de-dois. Seria branco, tinto, dois ou de três, ou um bagacito? A minha memória também não vai apurada tão longe. Até posso inventar um bocadinho. Não será pela quantidade ou qualidade da bebida, que me hão de levar a mal. O fato-macaco, tenho a certeza que era azul e sempre borrifado de cimento ou estuque. Restos e sinais da última obra de trabalho afincado.

Pois é! Mas eu sabia que no “O Século” do Ti Álvaro, não vinham todas as notícias. Então e os “aerogramas” que o meu Primo Xico mandava da Guiné? Era eu que os lia à minha Tia Ermelinda e, por isso, sabia muito mais coisas, do que vinha no jornal. O Xico disfarçava no que escrevia, mas eu percebi sempre que a coisa nunca foi fácil; era guerra “a sério”! Depois do “soro” bem espremido e os queijinhos todos dentro dos cinchos, a minha Tia Ermelinda ditava a resposta. Claro, a maior parte do texto era sempre igual e eu adiantava-me. Para o final, “lavada” em lágrimas, lá me ditava o que lhe ia na alma.

A sério, naquele tempo em que lia notícias da Guerra do Vietname no “O Século” do Ti Álvaro, não havia opção ao que configurava, estar “a bem com a nação”. A alternativa era “saltar”. Aqui, o “saltar” não tinha nada a ver com “saltar-à-corda” ou “saltar-ao-eixo”. Era ir embora, “dar-de-frosques”, “ir à vida”, enfim; emigrar clandestinamente.

A sério! Clandestinamente porque para atravessar a fronteira e pôr o pezinho em Espanha, era preciso passaporte e, para se conseguir, era o “cabo dos trabalhos” e a PIDE não brincava em serviço. Ou bem que era ditadura “a sério”, ou então, que acelerassem o “25 de abril”.  

A sério! Se saltássemos cinquenta e muitos de tempo contado em anos p’ra frente, com água sempre a correr na bica do chafariz e no Rio das Sesmarias por debaixo da “Ponte da Colónia”, seria “à séria”! Sim, agora, cá à frente, depois da troika, da deflação, dos cortes nos ordenados, nas pensões, nos subsídios de férias e de Natal, virou moda adjetivar esta expressão no feminino.

Mas porque agora se diz, “à séria” e não, “a sério”?

Procurei em todos os “cantinhos”, mas não tem nada a ver com o acordo ortográfico.

Provavelmente, alguns dos que defendem uma “cruzada”, “à séria”, contra o acordo, ficariam satisfeitos se voltássemos a escrever “pharmácia” em vez de “farmácia”, mas, esta coisa anda para a frente e já não temos “império”, quanto mais propriedade da “língua”. A língua é património dos falantes e não de nenhum país em particular. É curioso saber que, por exemplo, alguns brasileiros também são contra o acordo. Na maioria dos casos, as razões são as mesmas, só que, ao contrário.

Bem, deixemo-nos de acordos e desacordos, e bem guardadinho numa prateleira da memória, “O Século” do Ti Álvaro e, agora, a “sério”, lembremo-nos que estamos a caminhar rapidamente para mais uma ida às “urnas”.

Terão os abrunhenses condições e vontade para avaliar a “seriedade” dos candidatos que se vão propor?

Saberão os abrunhenses quem são, donde vêm e que capacidade têm para fazerem aquilo que prometem?

Estarão os abrunhenses dispostos a dar o voto e uma palmada nas costas a quem nunca lhes deu nada?

Votarão os abrunhenses em “listas” elaboradas, só, segundo critérios partidários, sem que, as suas necessidades e a sua opinião, sejam levadas em conta?

Gostarão os abrunhenses de tornarem a votar numa “união” de freguesias descaracterizada e incapaz de se aproximar do “Freguês”, em vez de escolher o seu Órgão Autárquico de proximidade; a Junta de Freguesia de São Pedro de Penaferrim?

A “sério” que não é difícil responder a todas estas perguntas. A agregação destas três freguesias levada a cabo pelo anterior governo do PSD/CDS e votada em Assembleia Municipal, é uma autêntica aberração. Admito que, em vez de três, com alterações aos limites anteriormente existentes, pudessem passar a ser duas. Agora, assim, como foi, não!

O que mais me “engalinha”, a “sério”, é não ter sido feito nada para corrigir a situação a tempo das próximas eleições.

Silvestre Félix
3 de julho de 2017

Tags: Abrunheira, Ti Álvaro

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

SÃO PEDRO DE PENAFERRIM E A DESAGREGAÇÃO

A agregação de freguesias, levada a cabo pelo anterior governo, e com efeito já nas últimas eleições autárquicas de 2013, terá resolvido e melhorado situações pontuais, mas, por outro lado, complicado e piorado ao extremo, muitas mais.

A minha, onde nasci e resido, São Pedro de Penaferrim, num processo de avanços e recuos, compromissos, descompromissos e algumas traições, acabou por ficar agregada com a de São Martinho e a de Santa Maria-São Miguel, a que chamaram: União das Freguesias de Sintra.

Foi tal a obra, que fizeram uma freguesia maior, que uma parte considerável dos concelhos existentes no país. Mesmo aqui na zona, será maior que o de Oeiras, Amadora ou Odivelas.

Do Barrunchal a Janas, pelo trajeto médio mais direto e mais utilizado, percorremos cerca de 20 quilómetros e, durante um dia de semana, ou seja, excluindo as horas de ponta e os fins-de-semana, demoramos cerca de meia-hora.

Com um órgão, a Junta de Freguesia, assente nos mesmos pressupostos que contava cada uma das três agregadas, era previsível, que muito difícil seria corresponder ao conhecido mérito do “poder de proximidade”, com tudo o que isso implica.    

Os esforços e vontades podem ser inglórios quando o terreno conquistado é pantanoso e não se arranja forma de o secar. A insatisfação das populações não se esbate com promessas impossíveis de cumprir.

Para que os fregueses destas três freguesias de Sintra, voltem a sentir a proximidade do poder com segurança e confiança na democracia, é imperativo que se desagreguem e, a seguir, quanto muito, se corrijam e ajustem limites atualizados.

Estamos todos ansiosos por perceber a atitude de cada uma das forças políticas e partidárias, face à proximidade das eleições autárquicas.

Silvestre Félix
30.11.2016
Tag: Freguesia de São Pedro de Penaferrim

Foto: Google

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

MERCADO DE SÃO PEDRO

Ao mercado de São Pedro, por esses caminhos acima, íamos. Sim! No pretérito. Agora não é possível; porque caminhos já não os há e, mesmo que “por obra e graça do espírito-santo”, algum se descortinasse, de nada serviria porque “mercado” virou “feira” e, mesmo assim, oiço e leio por aí, que está a definhar.

Que tudo evolui, dizem uns; que tudo acaba ou que acabam com tudo, dizem outros. Dizem até, uns inteligentes, que desenterrando a calçada e virando piso lajado, muitos lugares marcados e pilaretes montados, arrumariam a invasão de andantes que ali aparecem e ficava bem a Praça D. Fernando II, a da feira e de outros eventos encomendados.

Do mercado querem saber as gentes da Freguesia de São Pedro, este, de Penaferrim. O mercado para onde, por esses caminhos acima, íamos. Eu e a minha mãe, e outras mães e filhos que primeiro víamos os sapatos, as botas, a correnteza dos fatos, as sementes e hortaliças, os burros, as vacas vitelas e vitelos, as ovelhas, os bácoros… víamos, porque para compras a féria era curta, e, depois, talvez um bolo saloio ou umas queijadas das mais baratas.

Os caminhos por aí acima eclipsaram-se e o mercado, que agora é feira, a continuar assim, virará depósito de carros e, quem sabe, rodeada de “caça-níqueis” nas entradas e saídas.

Não tarda nada, virão as promessas e as juras do seu cumprimento, se os fregueses fizerem muitas cruzinhas à frente dos seus nomes. Mas então? E antes, como foi? Porque não cumpriram e porque é que o mercado, já era?

Abrunheira, 16 setembro de 2016


Silvestre Félix   

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

TEMPO DE (DEPRIMENTE) NOVEMBRO


Neste deprimente novembro, como, aliás, todos os outros que têm vinte e cinco e desde que eu tinha vinte e um em anos contados, que, quase no fim (o novembro) mas ainda andando por aí algumas horas, oiço coisas feitas lamechices completamente deslocadas em dia de cimeira de ambiente e em tempo de carência e necessidades básicas dos refugiados que batem à porta duma Europa que foi assobiando para o lado e, quando acordou e deixou cair o assobio, viu-se tolhida de movimentos e soluções (como é costume)…

Lamechices eu ouvi, perto de mim, em lugar público, usando, alguém, topo de gama auditivo na escuta:

«— Não! Não! Não posso andar de “cavalo p’ra burro”!

(tempo de resposta inaudível, para que está do outro lado)

— Sim! O carro é ótimo, mas a carrinha que ele me atribuiu o ano passado, a que tenho agora, tem sete lugares!

(Resposta inaudível)

— Sim! Eu sei! Mas, neste caso eu valorizo o tamanho. Se fosse anual mas para dois anos… agora tenho dois filhos, mas para o ano posso ter três. E depois, tenho que que arranjar particularmente um carro maior?

(Resposta inaudível)

— Achas que devo aceitar? Sim, ao carro não lhe falta nada do que é a última tecnologia. Se quiser, até posso trabalhar no carro.»

Não ouvi mais porque o elemento teve a acertada ideia de se desviar do local onde eu estava sentendinho…  

Nestes dias de deprimente novembro, que, para mim, sempre é, têm-se falado muito das dúvidas sobre o aumento do ordenado mínimo até 600 euros em 2019. Pois………..

Silvestre Félix

30 de (deprimente) novembro de 2015