SOLTE-SE A FESTA. AI! AI! SÃO PEDRO!
Solte-se a festa, que já se faz tarde!
Que ribombem os bombos, os tambores, as pandeiretas, que toquem
as trombetas, os pífaros, as flautas, que discursem os “inteligentes”, os
distintos convidados e os comprometidos, mas surpreendentes, feiticeiros!
A banda vem aí e o “povinho”, no seu canto, a vê-la passar!
O habitual cortejo das celebridades não se detém, nem um
bocadinho, nos recados e mensagens que enviados são, através de desenvolvida
telepatia.
As consciências abanam, mas não caiem!
O São Pedro, que é de Penaferrim, bem guardado tem o “ferrolho”
para que não lhe entrem pelo “céu” adentro sem mais nem menos. Ele, que deste
lado da Serra sempre nos protegeu, fazendo jus ao facto de ser “Apóstolo Primeiro”
e “Maior”, está atento e pronto para resistir a todas as tentativas mal-intencionadas.
(…) Sempre gostávamos de espreitar a montra da “Bramonte” onde
se compravam as modernices. Podia ser um par de sapatos, umas calças, um fogão
a lenha ou um fogareiro a petróleo. Um pouco de tudo se encontrava na
“Bramonte” e os irmãos, estavam sempre prontos para fazer mais uma venda, mas o
que íamos mesmo fazer a São Pedro, estava do outro lado, nas traseiras. O
mercado que, naquele dia 29 de junho de há quase sessenta de tempo contado em
anos, era a “Feira-anual-de-São Pedro”.
Desde o Ramalhão, junto ao campo do 1º Dezembro e contornando
a campa dos “Dois Irmãos” que, ao tempo, ali estava, daquele lado, já era
difícil andar sem encontrões e desvios até ao alcatrão. Tal era o circular de
gente, naqueles domingos de mercado antes das dez da manhã, altura do dia que a
minha mãe escolhia.
Saíamos da Abrunheira antes das nove, metíamos por esses
caminhos acima que, no caso, era o caminho até Ranholas, sem cortes, porque
ainda não havia autoestrada nem se adivinhava tal empecilho, subíamos as escadinhas
da sociedade e, depois, passando a Quinta do Ramalhete sempre juntinho à parede
até ao Ramalhão.
O Mercado de São Pedro ou, neste caso, a Feira-anual, era um
mundo. Havia de tudo. Junto à parede da Quinta de S. Pedro, era uma correnteza
de “barracas” de fatos clássicos e tecidos para os fazer, por medida. No miolo,
roupa de toda a maneira e feitio. O calçado, muitas bancas junto aos
restaurantes. Na ponta da subida para Santa Eufémia, o sítio do gado. Havia:
Vacas, vitelas e vitelos, ovelhas, borregos, cabras, bodes e cabritos, burros e
burras e até cavalos. Antes também havia a “criação”. Todo o tipo de galinhas,
frangos, franganotes e pintos. Toda a qualidade de alfaias agrícolas e todo o
tipo de bugigangas se podia encontrar no mercado. No lado de cima, tudo o que
se podia comer. Leitão de Negrais, pão saloio e de Mafra, fruta da época, réstias
de cebola, batatas e todos os hortícolas, bolos secos, molhados e as famosas
queijadas (…)
Durante as minhas “lides” autárquicas, ainda na década de
setenta/oitenta, pela época dum único canal de televisão a preto e branco,
dizia-se que a Junta de Freguesia de São Pedro de Penaferrim — que deixou de
ser e eu, muitos outros e até alguns arrependidos, desejamos que volte a ser —
era “rica” porque tinha o mercado de São Pedro. Na verdade, para as
necessidades daquele tempo, na Junta não havia problemas de dinheiro, e, a
situação desafogada, devia-se exatamente à receita do mercado quinzenal.
Neste dia, abrem os festejos de São Pedro no “Largo da Feira”
(D. Fernando II), muito diferentes dos de há sessenta, cinquenta ou quarenta
anos. Que, pelo menos os “Festejos” se mantenham, porque o Mercado quinzenal
está “moribundo”. Precisam-se “mandatários” corajosos para darem a volta ao “texto”!
Não me digam que está, o mercado, fora de moda. É que em freguesias vizinhas
estão prósperos e em crescimento.
Silvestre Brandão Félix
21 junho de 2019
Foto: Chafariz de São Pedro de Penaferrim (Google)