— Finalmente, sinto que
estou a dar uso à minha capacidade de corrente e, a aplicar as minhas
competências nos limites das margens. Como me sinto “cheio” com esta abençoada
água. Que chova! Que chova!
Desabafa assim o nosso amigo Rio-das-Sesmarias que, ansioso andava, pela pouca chuva caída até
este último dia de outubro.
Recuando meio século, ou mais, durante este dia, já por lá
teriam passado alguns dos seus amigos e parceiros.
O Artista-Sapateiro
seria o primeiro porque, perna mais comprida, assente fora da enxerga e aí, que
lá vai também a mais curta, depois as duas e rapidamente direitinhas à margem
nas traseiras da casa, para aliviar o resultado do trabalho noturno, da máquina
digestiva. Era uma visita diária obrigatória, embora “malcheirosa”, mas ainda
assim, necessária ao começo de mais um dia, a maior parte do tempo sentado no
tripé rústico que, num dia já distante, contado em, para mais de 30 anos, ele
tinha resolvido construir. Foi há tanto tempo que a “maria-faladeira”, parceira de casa e de pouco mais, ainda não era
velha.
Já de dia, também passaria
por ele, o nosso amigo e conhecido Coutinho
que era Bernardino. A primeira vez ainda iria leve, pois, as sopas de
cavalo-cansado que a Caracoleta lhe facultou ao levanto, não lhe pesavam assim
tanto. Ao contrário do Caga-à-Chuva, que empurrado era, pela desesperada
vontade de “obrar”, o Cientista-da-Pedra ia ter com os seus companheiros de
vida e de ciência. Era uma motivação diferente. É claro que, com o correr do
dia, a leveza da manhã, ia-se transformando no habitual “so-li-dó”, de idas à
menina Emília, ao Faial ou Ramos, emborcar “ciganas” ou “charretes”, conforme a
hora.
O Rio das Sesmarias tinha sempre água corrente com fartura,
mas agora, o sítio do Rio está lá, mas água é que… nem por isso. Ontem e hoje
correu alguma, a medo, mas se não chover mais, amanhã praticamente já não
haverá água.
Será bruxedo?
Silvestre Brandão Félix
31 outubro de 2018
Gravura: Google
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