Verão quente ficou e PREC se chamou! Militar me fizeram, a
contragosto, por princípio, e porque o “império” ainda durava.
— “Ai! Ai! Eles andem
aí!” Gritava o mais gordinho do pelotão, enquanto, dobrado para trás na medida em que a
farta barriga o permitia, mirava os céus tentando descortinar algum avião,
daqueles que tinham disparado sobre o RALIS naquele dia onze de março.
Aqueles dois ou três dias a seguir, foram de alerta constante
e pretexto para me entregarem uma arma, descarregada, mas era uma arma na mesma.
Mesmo com a G3 na mão, não me esquecia da minha festa de
despedida de mancebo, no dia dois, véspera de “assentar-praça”. Também não me
esquecia das juras de amor, ou nem por isso, e das voltas que o estômago e as
tripas deram naquela noite. A última vez que “chamei-pelo-gregório”, já o
comboio, na Estação do Cacém, estava pronto para partir. Pelo “Oeste” acima,
sono não me faltou e, como o destino era o fim-de-linha, não havia problema.
Mesmo com a G3 na mão, não me esquecia dos projetos para o
desenvolvimento da nossa URCA, fundada três meses antes na velha “sociedade”.
Uns tempos depois, na terça-feira da semana das primeiras
eleições democráticas, que seriam na quinta-feira seguinte, a 25 de abril, a
carta que recebi encaminhava a URCA para a “quinta do João da batata”.
“João da batata”? Perguntava eu. Fiquei muito confuso com o
“puzzle” que — o C. Silva e a Celeste, o Zé e o Fernando, a Fernanda, a Catarina e o Zé, a Gina e o Zé, a
Cristina e o Zé, a Odete e o Joaquim, o outro Zé Alentejano, o Mário e Paulo, o
Tomás, o João da borracha, o Luís Mariano, Pombo I, o II e o III, o Zé
Nascimento e o António, o Chico, o Vicente, o Virgílio e o Eleutério, o Zé Manel outros e
outras que a memória atrapalha, mas que estão cá bem arrumados e considerados —
me enviaram, mas, como vim votar na Abrunheira, a vinte e quatro à noite,
descobri tudo.
Para muitos anos e eleições sem “senhas-de-presença”, foi o
único que não participei nas mesas. Depois, deixou de ser dever cívico e passou
a ser trabalho pago, até hoje.
A atividade cultural tinha sido o “nosso-nascimento” e,
depois, com outras possibilidades, outros espaços e condições, a função social
mobilizava outra parte de nós. O grande objetivo passou a ser a construção dum
“Centro Social” que, para além da URCA, criaria estruturas de apoio à infância
e à terceira-idade e desenvolveria diligências para a instalação duma extensão
do Centro de Saúde de Sintra.
E eu, marchava, marchava… com algumas intermitências. No meio
do quente de setenta e cinco, para Luanda me mandaram com destino certo, mas
como?? Se; “nem-mais-um-soldado-para-as-colónias” e, assim, não fui!
E eu, marchava… embora menos, mas marchava. Finalmente
liberto com mais duzentos e passaporte nas mãos, lá para 27 ou 28 de novembro
com os “roncos” dos “jaimites” à volta, já o verão tinha acabado há uns meses, mas,
nem por isso, foram dias muito “quentes”.
Todas as vontades se juntavam na URCA. Entre a construção do
pavilhão e a realização dos famosos “bailaricos”, tudo o resto se ia fazendo. “Até
à Libertação”, “Menino Tonecas”, “barbeiro sabichão” e, noutro “departamento”,
folclore, marchas e marchinhas para graúdos e minorcas, com telhado “Ramalho” e
muitas outras coisas “António-da-Estância”, inauguração feita no dezoito do
glorioso mês de abril de setenta e seis.
Da vanguarda abrunheirense no princípio do último quartel do
século XX, a caminho do fim do primeiro do XXI, em que patamar estamos?
As perguntas fazem-se para terem respostas, mas, às vezes,
ficam sem resposta.
Silvestre Brandão Félix
3 novembro de 2017
Fotos dos meus arrumos:
1 – Tropa 1975, 2 + 3 – Inauguração do pavilhão da URCA 18 abril 1976
P.S. (Se me ajudarem a
identificar o(a)s fotografada(o)s, coloco-as com os nomes)
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