quarta-feira, 1 de novembro de 2017

PÃO-POR-DEUS!

Grupos de miúdos e miúdas, “lugar” abaixo, “lugar” acima, carregando as suas sacolas, sacos de pão e outros, poucos, feitos pelas mães de propósito para aquele dia, batendo às portas e pedindo:

— PÃO-POR-DEUS!

A porta se abria e lá vinham, conforme as posses, as mais variadas guloseimas como, rebuçados, caramelos, fruta, bolachas, biscoitos, figos secos, nozes, amêndoas, amendoins e, às vezes, chocolates.

Hoje, também me cruzei com espigadotes rapazes e raparigas, batendo às portas e outros mais pequenos com as mães e os pais por perto, mas, para muitos dos meninos e meninas da Abrunheira de há cinquenta e muitos de tempo contado em anos, o dia do “Pão-por-Deus”, era o único em que provavam algumas daquelas coisas e, noutros casos, o dia em que a fome não os visitava.

Agora, as “catedrais” do consumo, construídas e oferecidas às classes médias, para, que, aí gastem o que ganharam em dias inteiros e acrescentados de “bancos-de-horas” infinitos, oferecendo aos seus meninos e meninas, usos e costumes importados que vão substituindo as nossas recordações e engordando os “fundos” dos que não têm rosto e, muito menos, morada certa.

Nestes últimos dias, fomos bombardeados com máscaras e mascarilhas, bruxas e bruxinhas, abóboras furadas e iluminadas, varões e varinhas que transformam o real em fantasia, mas, o que continua sendo muito verdade, são a míngua das contas bancárias e o saldo do cartão de crédito.

Silvestre Brandão Félix
1 novembro de 2017

Foto: Google

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