Num destes dias, calcorreando como habitualmente faço, pela “fresquinha”,
instruí os meus calcantes no sentido da Capa-Rota pelo antigo caminho que vai até
à “casa-da-água”, como antigamente se dizia e era. Com a mudança dos
tempos, fazendo jus à modernidade, virou transformação de eletricidade.
Eletricidade, essa coisa que eu, teimosamente, não consigo ver. O meu saudoso irmão
“não levava à paciência” que eu não visse, não sentisse, não cheirasse e
não adorasse a eletricidade. Javalis (Google-A-Médio Tejo)
Que hei de eu fazer? Bater com a cabeças nas paredes? Autoflagelar-me
com cavalo-marinho de pontas estreladas? Atirar-me das escadas abaixo? Claro
que não! Quero lá saber se isso a que chamam eletricidade, se vê ou não. Eu não
vejo, ponto final parágrafo.
Uns 100 metros após o final da rua Humberto Delgado, para lá
da ponta do Bairro da Arroteia, entrei no tal caminho que me fez recuar mais-ou-
menos, sessenta de tempo contado em anos, por onde algumas vezes acompanhei a
minha Mãe e a burra Carocha, levando trigo ou milho para o Ti Sebastião Moleiro
transformar em farinha na mó gigante que na azenha trucidava tudo o que lhe
aparecesse à frente.
Fiquei impressionado porque os carrascos que ladeiam o
caminho continuam sendo altos. Na verdade, eu, em “puto”, quando
daquelas passagens, os carrascos pareciam-me árvores gigantes, tal era a sua envergadura.
Agora, nestes tempos pandémicos, continuam sendo grandes.
Eram vários os caminhos assim, entre a Abrunheira, Linhó,
Colónia, Ranholas, Casal da Beloura, Capa Rota e Manique de cima ou Casal da
Peça, que se cruzavam e davam a necessária serventia a pessoas e animais, para
se chegar aos vários sítios.
Voltando à questão do ver ou não ver, “eis a questão”;
é verdade que, muitas vezes, vemos aquilo que queremos e o que não queremos,
mas o que conta mais é o nosso querer. Por exemplo, se eu vi uma vara de porcos
domésticos, embora pretos, tranquilamente a pastar no campo à frente da minha
casa, e por uma razão quaisquer, quiser ver uma vara de javalis grandes, gordos
e bem aparelhados de perigosos cornos pontiagudos, vejo! É a minha vontade e
outros que se lixem, ou acreditam na patranha ou “vão dar uma curva ao
bilhar grande” ou pelo menos ao pequeno.
Ou seja, os caçadores que estejam sossegados e não se ponham a
limpar e afinar as espingardas, porque os javalis ainda não chegaram á
Abrunheira.
Levar a nossa vontade avante é muito bonito, agora, em nome
dessa vontade, querer enfiar o gorro aos outros, aí, já é aldrabice e vigarice.
Silvestre Brandão Félix
04 março de 2021
Foto: Google (A. Médio Tejo)
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