terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

URCA – DEPOIS DE 18 DE ABRIL DE 1976 – 2ª PARTE

Em resultado de um ano de muito trabalho, em Abril de 1976 a URCA tinha o pavilhão em pé e a funcionar diariamente para ensaios, encontros e até para sessões de esclarecimento que os vários partidos políticos realizavam com muita frequência. O nosso pavilhão era (e ainda é), a única sala existente na Abrunheira para efetuar qualquer festa, reunião alargada, reunião política, espetáculo, etc. Dum ano para o outro, o “centro” da nossa Terra passou a ser na URCA.

A partir daqui, e com muita gente empenhada, a atividade recreativa renasceu com os bailes quase todos os sábados. Precisávamos de fazer receitas para pagar ao António da Estância e para amparar todas as outras atividades: Alfabetização para adultos, teatro, biblioteca, rancho folclórico infantil, atletismo, luta greco-romana e futebol. A direção da URCA decidiu também recomeçar as festas da Abrunheira que há muito tinham desaparecido. No âmbito social e no que respeita à criação do Centro Social, é que as coisas não estavam a ser conseguidas. Tudo era mais difícil e a URCA dependia completamente de outras instituições para levar o projeto por diante.

As secções (recreativa, desportiva e cultural) iam desenvolvendo o seu trabalho e, algumas datas começaram a ser comemoradas com o envolvimento de todas as vertentes: 3 de Janeiro (fundação da URCA), carnaval, Páscoa, 18 de Abril (ocupação da quinta), 25 de Abril, 1 de Maio, santos populares, Natal e ano novo. As várias comemorações passavam pela realização de provas de atletismo, ciclismo, bailes, apresentação do rancho folclórico e de pequenas peças de teatro. No dia 25 de Abril, para além de todas as outras realizações, começou, desde 1976, a ter um outro elemento – a realização de almoço comemorativo. Foi tradição que se manteve durante muitos anos mas, tanto quanto me venho apercebendo, caiu há algum tempo. É pena! Em Dezembro, organizava-se uma festa de Natal para as crianças da Abrunheira. Para além do lanche e dum programa a propósito, feito com a prata da casa, onde não faltava Pai Natal e Palhaços, era entregue a cada criança, previamente inscrita numa lista, um brinquedo adequado à idade. O lanche era oferecido pela URCA, população e comerciantes locais. Os brinquedos eram comprados com donativos de algumas fábricas e também pelos comerciantes da Abrunheira.

O tempo foi passando, as instalações mantinham-se sempre abertas com um pequeno bar de apoio com a presença, desde a primeira hora, do saudoso Ti Faustino. Ele era tudo – porteiro, guardador, cuidador, tomava conta das crianças que vinham ao parque e garantia o funcionamento do bar. A função cuidadora do Ti Faustino foi fundamental nestes primeiros anos.

Em termos de crescimento e consolidação, a secção cultural com a sua atividade teatral organizada no GITU – Grupo de Intervenção Teatral da URCA, existente desde a fundação da coletividade, viria a ser a grande força mobilizadora da URCA nos anos 70 e 80. O GITU criou e desenvolveu, com o apoio de alguns amigos, um dos melhores grupos de teatro amador do Concelho e até da região.

Lá pelos anos 77/78, a direção da URCA foi contactada por um grupo de teatro profissional residente em Sintra, para apresentação no nosso pavilhão, do seu trabalho em cena. O porta-voz do grupo era o, também ator, Gil Matias. Fizeram o seu trabalho, os abrunhenses gostaram e o Gil Matias passou a fazer parte da nossa agenda de amigos. Em pouco tempo, com a nossa vontade e a sua disponibilidade, avançamos para a reorganização do GITU com a direção do nosso amigo.

"O Palheiro" de Miguel Barbosa, encenado e dirigido em 1979 por Gil Matias, foi um grande sucesso do GITU. Esteve em cena, fazendo bastantes apresentações nas colectividades do Concelho e fora, depois de ter representado a URCA no Festival de Teatro Amador de Sintra que, na época, a Câmara Municipal de Sintra organizava. Ganhou alguns prémios e classificou-se sempre em lugares honrosos. O principal responsável pelo êxito deste trabalho foi Gil Matias. Depois de “O Palheiro”, manteve-se na direção do GITU por mais dois ou três anos. O Gil muito tem dado à cultura do Concelho de Sintra e, particularmente, ao teatro amador em inúmeras Coletividades e Associações da região. Avesso a homenagens e a gratidões públicas, constata-se que permanece vazio o lugar que lhe cabe pelos serviços prestados à comunidade. Nesta minha conclusão, incluo naturalmente a URCA. Pela minha parte, e em nome de todos os que pensam como eu, agradeço ao Gil Matias toda a sua dedicação e generosidade em prol da cultura.

Nos últimos anos da década de 70 e primeiros dos 80, começaram a mexer também, embora com completa autonomia em relação à direção da URCA, o que viria a ser o Grupo Coral Alentejano da URCA com a incansável liderança de Francisco Feio e a Associação de Reformados com a luta e perseverança do saudoso António Vieira. Alguns memoráveis encontros de Grupos Corais Alentejanos aqui foram realizados com autênticas multidões de participantes e espectadores. Criaram também o seu núcleo de convívio e organizaram um pequeno museu regional que, melhorado e revitalizado há algum tempo, tem as suas portas abertas para quem o quiser visitar. O legado de António Vieira não foi abandonado e, pelo contrário, a Associação de Reformados consolidou os seus alicerces, está ativa e tem projetos para o futuro.

Esta fase de lançamento e consolidação da URCA, com a mesma orientação a nível de dirigentes, foi até final de 1982. A partir daí, uma nova fase começou. O frenesim revolucionário, que necessariamente influenciou os fundadores e a própria URCA, tinha chegado ao fim.

Silvestre Félix

5 comentários:

  1. Grande memória...até me apetecia corrigir-te...mas não encontro nada...que chato....
    Bem, vou lendo sempre com atençaõ a ver se faço algum reparo para a proxima...
    Não desisito de uma correcçãozita...se houver motivo...ainda não houve...
    Abraço

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  2. Algumas coisas não sabia mas a grande maioria lembro-me perfeitamente.De facto fizeram-se coisas bonitas nessa época.Havia o tal calor humano,eu pelo menos sentia muito isso.Ainda fui aos bailaricos,ao carnaval,almoçinho,etc,etc.Os tempos são outros,mas no meu entender penso que devia haver Teatro,e o almoço anual no mínimo.Nós os mais velhos precizamos também de um espacinho não?Não gosto de saudosismo e muito menos desvalorizar o trabalho desta Direção mas que me desculpem a URCA ERA UMA FAMÍLIA,e eu gosto desse convívio.Confesso que não estou por dentro da situação,lá está o ambiente é morno,eu prefiro os extremos.Mas quero approveitar para dizer uma coisa que penso imensas vezes.Não sei se existe alguma coisa na Urca em homenagem ao Sr:António Vieira pessoa que admirava muito pelo seu empenho a todos os níveis palmilhava a Abrunheira para receber o dinheiro das quotas com a sua pastinha na mão,é de louvar pessoa de bom trato,inteligente e educado merecia uma estátua gostava imenso dele.A tua discrição está fabulosa como sempre,vivi o momento,obrigado bj da Jesus

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  3. Obrigado Zé pelo acompanhamento e obrigada Jesus pela referência ao Senhor António Vieira. Tenho uma postagem "alinhavada" para, oportunamente, publicar aqui, sobre o nosso amigo António Vieira.
    Sil Félix

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  4. Muito obrigado Félix, apesar de ser muito novo nessa altura, recordo-me de muitos desses momentos com saudade.

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  5. Pois é Marinho, tb me lembro bem do teu banho no pequeno tanque de apoio à obra do pavilhão. Nessa altura ficaste a chamar-te "xap-xap".
    Abração
    Sil Félix

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