Neste domingo, mais uma vez, o Largo do Chafariz vai ser
caminho para os “Abrunhenses” exercerem o seu direito de voto. Por aqui, pelo
"largo" que deveria ser a sala de visitas da "Nossa-Terra",
passaremos e, se possível for, porque de tão mal-habituados estamos, nem conta
damos do desprezo a que votado está o "Nosso-Monumento".
O Bento o diz e o (Chafariz) tem mostrado pelo tempo em anos
contado e, em conclusão dorida, a força do voto parido na madrugada de
"Depois-do-Adeus", abençoado pela "Vila-Morena" e sonhando
que "O-Povo-Unido-Jamais-Ser(ia)á-Vencido", nada resolverá!
Alguns gostariam que caminho deixasse de ser, e, antes, fosse
plateia de bom e sossegado ouvido. Assim, continuariam a "papaguiar"
agora, como outros já fizeram noutras "Eras-Bem-Aventuradas". Ter
presente a história e lembrarmos as estórias que ouvimos dos mais velhos, é
muito bom e aconselha-se.
"“Gabiru-aperaltado”; dizia dele, a vizinhança. A
faladura era de “lorde” e dos bons, muito perto do jeito a doutor. Com os
adjetivos e os verbos bem encaixados nas frases bem construídas, lá caminhava o
discurso por direções, na maior parte das vezes, já conhecidas. Bem arreado ou
aperaltado à moda de Saloio com carteira composta. De jaqueta castanha com
corrente dependurada pela direita da abotoadura no colete justinho em fazenda
cinzenta, camisa alva e colarinho bem apertado, calça cinzenta de cós bem
subido e com bainha larga acompanhando a bota pela frente e o respetivo chapéu
de aba larga e preto. A posição de descanso e descontração a preceito implicava
os polegares das duas mãos bem firmes na dobra da jaqueta, à frente, nos
extremos do peito. A compor a arreadura, aquele bigode, mais para o grosso que
para o fino, transbordando o comprimento da beiça de cima, como naquele tempo
era uso."
Na época “daquela senhora”, a personagem descrita existia em
todas as terras saloias e, também, na Abrunheira. Seria o “bem-falante”, e
aquele, a quem, os iletrados tudo perguntavam.
Era um tempo em que, literalmente, se enfiava o barrete
saloio ou se armadilhavam grandes chapeladas. Na ignorância mantida e fomentada
pelo regime do “botas”, não era difícil enfiar umas “patranhas” na saloiada. O
boletim de voto era especialmente enviado para o domicílio e muitas vezes até
entregue em mão pelo ocupante do “assento-de-proximidade”. De costas para o
balcão, ainda que ligeiramente apoiado, aperaltado como de costume e botando
faladura como vinha nos jornais devidamente visados pelos do lápis-azul, o “bem-falante”
comentava as contrariedades das condições atmosféricas – naquele tempo em que
tudo caía em cima do “cinzento,” porque a claridade e o Sol era só para alguns
e todos sabiam disso.
Sabiam, os que reagiram e lutaram com, e, pelo
General-Sem-Medo, nas revoltas das colónias indianas e africanas, na revolta do
quartel de Beja ou no desvio do “Santa Maria”, protagonizavam o
descontentamento militar, a luta dos Partidos clandestinos, etc., etc., – e,
porque também sabia, e de que maneira, interroga-se ele, o “bem-falante”, aos
presentes; como iria ser a próxima safra do Sabino, do Silvestre Velho, do
Veríssimo, do Frouxo ou do João de Leião?
Todas as sessões propagandísticas; fossem no Largo do
Chafariz ou numa das tabernas da Abrunheira no terceiro quartel do século XX,
ou num qualquer multiusos no XXI, ouvidas pelos tais que sabem e pelos que não
sabem, mais do que menos, cheiram a pantominice. Melhor fora que o espetáculo
fosse dos saltimbancos. Porque, assim, o pouco que tinham era o que davam e
ninguém lhes exigia mais.
Muitas vezes, os saltimbancos, pelo Largo do Chafariz
passearam a sua boa disposição e, os abrunhenses, viram e admiraram a forma
como encaravam e levavam a vida que sempre melhor ficava pelos tempos difíceis
que corriam, ao contrário de, cá mais para a frente do ano dois mil e poucos,
que pior está, para os vivos e até para os mortos.
No “quinze” deste século XXI, muitos vão “parlapiando” para
os “assentos-distantes” do povo, mas pelo Largo do Chafariz é que eu nunca os vejo.
Para “mal dos nossos pecados”, é cada vez mais difícil que, os que se vão lá
sentar, alguma vez venham a passar pelo Largo do Chafariz. Muito longe vão
ficar as cadeiras e como entramos no Outono, os dias vão ser mais pequenos,
deixando menos “luz” para os que se aventurarem a gastar as solas dos sapatos a
caminho, pelo Largo do Chafariz, das mesas de voto.
Muitos burocratas e “bem-falantes”, promotores de detentores,
detentores ou candidatos aos “assentos”, gostariam, e muito se esforçam, para
voltarem a um certo modelo bafiento. Têm treinado há algum tempo e agora estão
mais preparados para levarem a deles avante.
Para os que se sentarão nos “assentos” a partir de 5 de
outubro, que, desgraçadamente até lhe tiraram o simbolismo, o “papaguiamento”
continuará a ser – a missão! É preciso continuar a usar e abusar de “faladura”
para o Zé continuar convencido, mesmo que os euros no bolso sejam poucos.
Silvestre Félix
Abrunheira, 2 de outubro de 2015
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