quarta-feira, 15 de junho de 2011

AS NOSSAS MÃES!

Oh filho, quando fores por esses caminhos acima tens de olhar bem lá para a frente e, ao mesmo tempo, deves ter sempre muito cuidado com quem pode vir atrás… Primeiro atravessava o das Sesmarias e depois, lá mais acima, a regueira da mulata. As vaquitas e, na maior parte das vezes a Carocha que de burra tinha pouco, tinham a dianteira que bem sabiam o destino largo dos Celões. Entravam sem engano na ponta de baixo à esquerda e nunca tiveram a ousadia de seguir em frente em direção ao Linhó.
Por esses caminhos acima… os degraus da vida, de que a Minha Mãe sempre me falava. As Mães da Abrunheira eram iguais às outras. Todas eram as melhores para cada um dos putos abrunhenses e eu não era exceção – Não havia Mãe melhor, que a Minha! Estava sempre disponível para me ensinar mais um degrau e, muitas das vezes, com exemplos da sua vida cheia e rica de labuta pela família e futuro dos filhos. Tanto tempo contado em anos passados, não são poucas as vezes que uso e pratico os seus ensinamentos.
No tempo que passo em horas, dias e anos, teclando escritos fluidos da parte arrumada da memória, e sendo Abrunheira a temática, é certo e sabido que nas subidas e descidas das mais variadas personagens pelo palco, nas falas e deixas que compõem o nosso teatro, lá está sempre com o seu papel bem estudado, a Minha Mãe! Algumas das perguntas e respostas, frases soltas e coladas dos nossos diálogos, aparecem de quando em vez nas minhas postagens ou, simplesmente, em manuscritos que por aqui vão ficando…


Oh Mãe, os Índios são todos maus e os cowboys são os bons? Não filho! Há bons e maus nos dois lados! Oh Mãe, mas nos “quadradinhos”, escrevem que os Índios é que são os maus… Eu sei filho, mas os que escrevem também podem estar enganados… Mas naquele filme que eu vi na “sociedade” à noite com a Felicidade e o Alfredo, eles também diziam que os bons eram os tropas e os maus, os Índios… Está bem filho, mas quem faz os filmes também se pode enganar. Quando fores maior vais perceber melhor…
Oh Mãe, quando eu for grande também vou para a tropa? Vais, todos os homens vão à tropa! Mas oh Mãe, eu não gosto da tropa nem da guerra… quando for para a tropa também tenho que ir para a guerra? Não filho! Ainda faltam muitos anos para ires para a tropa e, quando fores, a guerra já acabou! Oh Mãe, na Guerra das Áfricas os “Magalas” também morrem como naqueles livros aos “quadradinhos” da Guerra dos alemães e do Major Alvega?
Oh Filho, tens de ter muito cuidado para ninguém ouvir esta conversa. Vê lá se está aí alguém desse lado.
Não Mãe, aqui não está ninguém!
A Mãe também não gosta da tropa nem da guerra, mas não digas isto a ninguém porque os que dizem que são os bons, podem vir fazer mal à gente…


A "Ti Augusta" desfazia-se em lágrimas, cada vez que tinha, por qualquer razão, de desfazer-se de alguma das suas bichinhas – ajudava-as a nascer, criava-as, aliviava-as da pressão do primeiro úbere cheio festejando a transformação em leite, acompanhava o primeiro cio com o cuidado que a situação requeria e, para fecho de ciclo, tratava-as e preparava-as para a função de mães, recomeçando tudo outra vez.


A Minha Mãe fazia anos a 12 de Junho, véspera de Santo António.


Silvestre Félix
12 de Junho de 2011

2 comentários:

  1. Estejas onde estiveres,sempre te recordarei como grande exemplo de mulher.Eras sem dúvida uma grande matriarca onde havia espaço para todos sempre pronta a ajudar em todas as vertentes.Mulher trabalhadora,sensível muito amiga dos seus animais,com tarefas diárias bem organizadas e nada fáceis,inteligente,diria sábia,onde me perdia a ouvir as suas histórias.Para ti e teus irmãos os meua parabéns pele mãe bonita por dentro e por fora que Deus lhes deu. Beijos Jesus

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