Foi a dois, porque a três de Março assentei praça na Figueira da Foz. Estava zonzo da “tola” porque se tivesse em perfeito juízo, tinha dado parte de doente.
E agora? Pergunta quem lê… Foi a dois, o quê?
Responde quem escreve… É claro (para quem tecla) que na véspera de me apresentar no quartel, mesmo sem ter feito mal a ninguém e os outros (“os”, porque naquele tempo “as”, não iam à tropa) terem ficado todos numa boa na Abrunheira, foi a festa de despedida da condição de “mancebo” para ingressar na de “militar” (salvo seja).
Sendo portador crónico (a não ser que ultrapasse os 100 de tempo contado e passado em anos de viajem) daquela “síndrome” conhecida por “entas” como me esclareceu há dias o Rui, adquiri o bom (péssimo para alguns) hábito de inventar algumas coisas, de esticar outras e de meter nomes e alcunhas, mesmo sem bucha, em diálogos que às vezes nunca existiram. Por isso, que não se incomodem os citados e não me chamem nomes os bem memorizados. Não temos que nos chatear porque a maior parte das coisas que por nós passam, são todas inventadas ou, como agora se diz, virtuais. Em qualquer dos casos, para mim, quando se toca em nomes, o registo é, quase sempre, “lacrado”. Ontem, questionava-me o Simplício que, para os meus escritos, basta Rui e toda a gente sabe quem é, como era o nome daquele fulano…tal…que lhe parece filho do Sigamó? Pois claro, é o Lucrécio! E o Lucrécio tem duas irmãs que bem me lembro, a mais velha, casada com o António da “Russa” e a mais nova que bem me lembro do primeiro marido. Vamos lá perceber: Porquê “Sigamó”? Acham que tem alguma coisa a ver com: simplesmente – siga a mó – será isto? Seguir a mó, aquela de moer das azenhas ou dos antigos moinhos de vento?
Bem, quem para aí estiver virado que esclareça, vamos mas é voltar ao que me fez, neste dia de 40º à sombra, por estas terras mouriscas do Sul, ouvindo nuestros hermanos por tudo quanto é sítio e esplanadas, até no Chico, calculem? E teclar desenfreadamente com o São João à espreita e com o gosto da sardinha assada e do robalo escalado, como não consigo, tão bem saborear em mais nenhum lado.
Uma semana antes, quando já se adivinhava um verão quente e bem entrado já no PREC, os preparativos começaram a andar. A grande preocupação era garantir convivas de ambos os sexos de forma a tornar a festança mais alegre. Não era fácil mas, considerando a reputada compostura da rapaziada em questão, que da citação de alguns me responsabilizo sem recorrer a truques de invenção: Eu, o Rui, o Zé Carmo Silva, o Zé e o Fernando Marques, o Mário e muitos outros.
Para compor e garantir o emparelhamento, chegamos a promover um “porta-a-porta” na Abrunheira e arredores, como se de angariamento partidário ou religioso se tratasse. Duma forma geral os progenitores das donzelas eleitas, principalmente as mães, acreditaram nas nossas “boas intenções”, aliás, nunca lhes demos razões para não acreditarem, e o resultado dessa jornada a abarrotar de charme, foi pleno de sucesso como se comprovou no tal dia dois, véspera de três de Março do ano do PREC.
Ainda não perdi a esperança de, com a ajuda de máquina parecida com esta onde botamos letras, formamos palavras, construímos frases e completamos textos, conseguir regredir em trinta e seis de tempo em anos contados, mostrar o desfile de abrunhenses e não só, desde o “Cabaço”, dando a volta pelo Ramos, depois pela esquerda até ao fim do alcatrão (mais ou menos onde mora o Casaca), seguindo à direita pelo caminho de terra e pedra pouco batida até ao Caracol, assim se chamava aquela zona, desde a URCA para baixo.
A adega do Zé estava a abarrotar. Muito se petiscou, muito se dançou e muito se bebeu. Desde as três da tarde daquele dia dois de Março até… não sei, perdi a conta… só me lembro que às seis e meia da manhã do dia seguinte ainda estava bêbado. Quando a minha Mãe me chamou e levantei a cabeça, tive que ir a correr para a casa de banho porque o estômago ainda rejeitava tudo, até a saliva. Foram muitas horas de “adega”. O termo está literalmente correto. Muita bebida se levou mas, também, do líquido corrido pelas goelas abaixo, muito de boleia chegou com o Ti Azevino de mares muitas vezes navegados.
Falando em navegados e navegadores, em idas e vindas, muitos amores também iam e vinham. Naquela véspera de três de Março, ano do PREC e a nove dias do célebre onze em que se proclamou – eles andem aí – algumas paixões despertaram, outras se consolidaram e também uma, pelo menos, se findou. Sem paixão, mas só por uma questão de traços e caminhos da vida, alguns se desencontraram de vez depois de ali terem estado juntos.
De decente tudo aconteceu e nem é preciso disfarçar ou negar a alegria de toda a gente menos eu, que, de inventar também me apetece. O “Custódio”, que linguado nunca tinha visto e muito menos o sabor conhecia, na minha despedida de «mancebo» alguma coisa prendeu. Depois de ter metido umas cervejolas e no meio do vinil da Jane Birkin, descobriu os lábios rosados e carnudos da carinha laroca que com ele dançava, ou melhor, fazia que dançava, e, sem pedir licença, aplacou-lhe as beiçolas selando um prazer nunca antes experimentado. Como o “Custódio”, outros e outras se aplacaram com a mesma dose porque o Zé repetiu o mesmo vinil, e, para “capitalizar” a onda, lá desencantou outros da mesma “lenga-lenga”.
Ai que festa! Saudade bem sentida naquelas noites de Março do ano do PREC e da fundação da URCA, na preparação do corpo para a “Ordem-Unida” do dia seguinte. Não foi só a celebração do último dia antes da tropa, foi também o final de algumas outras coisas. Nos dias seguintes, de farda me vestiram, o cabelo me cortaram, de espingarda me armaram e em “cego” obediente me transformaram. Obediência estratégica, pensei eu!
Silvestre Félix
24 de Junho de 2011
E agora? Pergunta quem lê… Foi a dois, o quê?
Responde quem escreve… É claro (para quem tecla) que na véspera de me apresentar no quartel, mesmo sem ter feito mal a ninguém e os outros (“os”, porque naquele tempo “as”, não iam à tropa) terem ficado todos numa boa na Abrunheira, foi a festa de despedida da condição de “mancebo” para ingressar na de “militar” (salvo seja).
Sendo portador crónico (a não ser que ultrapasse os 100 de tempo contado e passado em anos de viajem) daquela “síndrome” conhecida por “entas” como me esclareceu há dias o Rui, adquiri o bom (péssimo para alguns) hábito de inventar algumas coisas, de esticar outras e de meter nomes e alcunhas, mesmo sem bucha, em diálogos que às vezes nunca existiram. Por isso, que não se incomodem os citados e não me chamem nomes os bem memorizados. Não temos que nos chatear porque a maior parte das coisas que por nós passam, são todas inventadas ou, como agora se diz, virtuais. Em qualquer dos casos, para mim, quando se toca em nomes, o registo é, quase sempre, “lacrado”. Ontem, questionava-me o Simplício que, para os meus escritos, basta Rui e toda a gente sabe quem é, como era o nome daquele fulano…tal…que lhe parece filho do Sigamó? Pois claro, é o Lucrécio! E o Lucrécio tem duas irmãs que bem me lembro, a mais velha, casada com o António da “Russa” e a mais nova que bem me lembro do primeiro marido. Vamos lá perceber: Porquê “Sigamó”? Acham que tem alguma coisa a ver com: simplesmente – siga a mó – será isto? Seguir a mó, aquela de moer das azenhas ou dos antigos moinhos de vento?
Bem, quem para aí estiver virado que esclareça, vamos mas é voltar ao que me fez, neste dia de 40º à sombra, por estas terras mouriscas do Sul, ouvindo nuestros hermanos por tudo quanto é sítio e esplanadas, até no Chico, calculem? E teclar desenfreadamente com o São João à espreita e com o gosto da sardinha assada e do robalo escalado, como não consigo, tão bem saborear em mais nenhum lado.
Uma semana antes, quando já se adivinhava um verão quente e bem entrado já no PREC, os preparativos começaram a andar. A grande preocupação era garantir convivas de ambos os sexos de forma a tornar a festança mais alegre. Não era fácil mas, considerando a reputada compostura da rapaziada em questão, que da citação de alguns me responsabilizo sem recorrer a truques de invenção: Eu, o Rui, o Zé Carmo Silva, o Zé e o Fernando Marques, o Mário e muitos outros.
Para compor e garantir o emparelhamento, chegamos a promover um “porta-a-porta” na Abrunheira e arredores, como se de angariamento partidário ou religioso se tratasse. Duma forma geral os progenitores das donzelas eleitas, principalmente as mães, acreditaram nas nossas “boas intenções”, aliás, nunca lhes demos razões para não acreditarem, e o resultado dessa jornada a abarrotar de charme, foi pleno de sucesso como se comprovou no tal dia dois, véspera de três de Março do ano do PREC.
Ainda não perdi a esperança de, com a ajuda de máquina parecida com esta onde botamos letras, formamos palavras, construímos frases e completamos textos, conseguir regredir em trinta e seis de tempo em anos contados, mostrar o desfile de abrunhenses e não só, desde o “Cabaço”, dando a volta pelo Ramos, depois pela esquerda até ao fim do alcatrão (mais ou menos onde mora o Casaca), seguindo à direita pelo caminho de terra e pedra pouco batida até ao Caracol, assim se chamava aquela zona, desde a URCA para baixo.
A adega do Zé estava a abarrotar. Muito se petiscou, muito se dançou e muito se bebeu. Desde as três da tarde daquele dia dois de Março até… não sei, perdi a conta… só me lembro que às seis e meia da manhã do dia seguinte ainda estava bêbado. Quando a minha Mãe me chamou e levantei a cabeça, tive que ir a correr para a casa de banho porque o estômago ainda rejeitava tudo, até a saliva. Foram muitas horas de “adega”. O termo está literalmente correto. Muita bebida se levou mas, também, do líquido corrido pelas goelas abaixo, muito de boleia chegou com o Ti Azevino de mares muitas vezes navegados.
Falando em navegados e navegadores, em idas e vindas, muitos amores também iam e vinham. Naquela véspera de três de Março, ano do PREC e a nove dias do célebre onze em que se proclamou – eles andem aí – algumas paixões despertaram, outras se consolidaram e também uma, pelo menos, se findou. Sem paixão, mas só por uma questão de traços e caminhos da vida, alguns se desencontraram de vez depois de ali terem estado juntos.
De decente tudo aconteceu e nem é preciso disfarçar ou negar a alegria de toda a gente menos eu, que, de inventar também me apetece. O “Custódio”, que linguado nunca tinha visto e muito menos o sabor conhecia, na minha despedida de «mancebo» alguma coisa prendeu. Depois de ter metido umas cervejolas e no meio do vinil da Jane Birkin, descobriu os lábios rosados e carnudos da carinha laroca que com ele dançava, ou melhor, fazia que dançava, e, sem pedir licença, aplacou-lhe as beiçolas selando um prazer nunca antes experimentado. Como o “Custódio”, outros e outras se aplacaram com a mesma dose porque o Zé repetiu o mesmo vinil, e, para “capitalizar” a onda, lá desencantou outros da mesma “lenga-lenga”.
Ai que festa! Saudade bem sentida naquelas noites de Março do ano do PREC e da fundação da URCA, na preparação do corpo para a “Ordem-Unida” do dia seguinte. Não foi só a celebração do último dia antes da tropa, foi também o final de algumas outras coisas. Nos dias seguintes, de farda me vestiram, o cabelo me cortaram, de espingarda me armaram e em “cego” obediente me transformaram. Obediência estratégica, pensei eu!
Silvestre Félix
24 de Junho de 2011
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