segunda-feira, 21 de março de 2022

UM ANO DEPOIS

 

Abrunheira - Pôr do Sol

Há momentos em que os 365 dias contados, foram um tempo longo de tal maneira, que sinto um grande peso, como se séculos tivessem passado. No minuto seguinte, se for caso disso, o princípio do último ano, parece-me ter sido ontem. A ausência é desconcertante e condiciona-nos em todos os sentidos, em todas as partes do dia ou da noite.  

A morte, é a verdade absoluta. As vicissitudes da vida, são miudezas comparadas com esta inevitabilidade.

A Isabel gostava de viver e tinha ainda muito para nos dar, mas quando chega aquela hora, não há como lhe trocar as voltas.

Estava traçado que assim seria. A minha companheira, com certeza está tranquila e em paz, como vi que estava quando de mim se despediu.

Não tem sido fácil, mas o caminho é para a frente e eu tenho de o seguir. Ela não me perdoaria se fizesse diferente.

A Isabel estará sempre nos nossos corações!    

Silvestre Brandão Félix

21 de março de 2022

Foto: Minha em março de 2022

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O COMEÇO DO FIM

 

Como sempre acontecia em dia de eleições, levantou-se bastante cedo de maneira a estar na Junta de Freguesia, em São Pedro, antes das 7 horas daquele dia 24 de janeiro de 2021, faz hoje, um ano.

Como costume, telefonou-me durante o dia a perguntar se eu já tinha votado e, também, como todas as vezes acontecia em dia de eleições, chegou a casa depois das dez da noite.

A Isabel vinha muito cansada, mas também, nada que não acontecesse em todos os dias de eleições, ao longo dos últimos 35 anos.

No dia 25, segunda-feira, gozou folga, mas não esteve bem.

Terça e quarta, fez teletrabalho com bastante dificuldade e, na quinta-feira levantou-se à hora do costume, depois de uma noite mal dormida, dizendo “que se sentia melhor e ia para cima” (S. Pedro). Fui levá-la às 9 horas e lá ficou em aparente normalidade.

Às duas e meia da tarde telefonou-me para a ir buscar porque não estava a aguentar.

Calculo que ela não sabia e muito menos eu, que naquele dia 28 de janeiro de 2021, seria a última vez que passaria por aquela porta e percorreria aqueles metros até ao Largo da Igreja.

A Isabel da "Junta", nunca mais ali voltaria.


Silvestre Brandão Félix

24 de janeiro de 2022

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

ÁGUA-PÉ, A TABULETA E A CIÊNCIA DA PEDRA

 

— Eu é que não posso sair do meu sítio e deste tempo em que os nossos filhos atravessam os mares, muitas vezes navegados, para irem combater outros filhos de outras sofridas mães, noutras também abençoadas terras, porque gostava de ir ver esse fenómeno. Como é possível, nesse futuro do COVID,  andarem com a Abrunheira às costas dum lado para o outro?

— Juro que é verdade, amigo Rio das Sesmarias. Muitos anos lá para a frente, vai estar colocada a seguir ao cruzamento da “Charneca”, mas depois, no dia seguinte, quando eu vier de Mem Martins, a Abrunheira vai estar outra vez na curva da “Quinta Lavi”.  

— Oh! Coutinho que és Bernardino, lá que, nesse tempo que há de vir, queiram fazer as pazes com os Abrunheirenses ao ponto de lhe darem tamanha importância andando com eles ao colo, eu até admito, mas nesse caso, a mudarem a Terra de sítio, só vão complicar mais as coisas.

— Bom dia, Amigo Rio das Sesmarias e Bernardino que não és Coutinho, ando a ficar um bocado surdo, mas será que ouvi bem? Lá para a era do COVID, vão mudar o poiso da Abrunheira?

— Ouviste muito bem, J’aquim que és Artista! Nesses tempos, lá no futuro, em que tudo vai ser bué de complicado e demorado, em que não se vai poder fumar na taberna nem se ligará nem acreditará na minha “ciência-da-Pedra”, a tabuleta da Abrunheira vai andar dum lado para o outro enquanto o “diabo esfrega um olho”.

— A tabuleta? Mas qual tabuleta? É no “Alto da Bonita”? Sim, porque o cemitério é que é, a “quinta-das-tabuletas”.

— Lá estás tu, J’aquim que és Artista, a divagar, “por-dá-cá-aquela-palha”! Não é nada no cemitério, é cá em baixo...entre a Charneca e a esquina da Quinta Lavi!

— É pá, vossemecês  estão a baralhar-me...mas qual palha?

— Não é palha nenhuma, é só uma maneira de dizer...é que tu, J’aquim que és Artista, quando começas a contar estórias, nunca mais acabas e a gente até já as ouviu todas.

— Ora bolas, oh! Couinho que és Bernardino e eu que cheguei a pensar, mesmo sendo com esses anos todos para a frente, como o Rio das Sesmarias diz, para a era do COVID, fosse coisa para eles, os inteligentes, cumprirem algumas promessas aos Abrunheirenses como:

"Anúncio" de futuro (há 20 anos) quartel GNR 
Foto de Fernando Castelo
...Centro de Saúde, Centro de Dia e Creche, Quartel da GNR, Pavilhão Multiusos, Escola pública, pelo menos até ao 9º ano, legalização das AUGI’s, regularização da entrada principal da localidade (rotunda), continuação da Rua Humberto Delgado até à Capa Rota, ligação em condições ao Casal da Peça, reposição de carreiras diretas em autocarro para Sintra via Ranholas e São Pedro e desagregação da “União”, voltando à Freguesia de São Pedro de Penaferrim...

— Pára lá, oh! J’aquim que és Artista! Pára (com acento), porque daqui até aquele tempo
do COVID, muita água o nosso Amigo Rio das Sesmarias vai deixar correr e não me apetece voltar a ouvir mais uma vez, a mesma “lenga-lenga”. Só estávamos a falar da “Tabuleta” e da “água-pé” do Amigo Pena.

— Ora aí está uma conversa que me interessa. “Água-pé”! Tudo o que tenha a ver com “água”, é comigo. E não fosse eu, o maior e mais simpático Rio da Abrunheira e arredores.

— Oh! Amigo Rio das Sesmarias, mas a “água” que o Coutinho que é Bernardino estava a dizer, não é dessa que corre no teu leito. É da outra que tem “pinta” de vinho e embebeda que não é brincadeira e, no meu caso, fazendo jus à minha alcunha, dá-me cá uma caganeira que para me desenvencilhar dela, apanho sol ou CHUVA. Mais chuva, porque o verão do S. Martinho são só três dias e depois começa a chover.

— É verdade, meus amigos. Muita água vou deixar correr, antes que ma desviem... não sei para onde, mas que isso vai acontecer. Também já me avisaram sobre as enguias que sobem por mim acima até ao poço da nora na horta do Zé Silvestre. Vão desaparecer quando desviarem a água das minhas nascentes a montante.

— O meu sogro Caracol Velho, tem longas conversas de “espírito-santo-de-orelha” com o melro “Simão” que, lá de cima, vê muito melhor o que se passa cá por baixo, do que nós. Vai daí, ainda ontem me disse, que o melro lhe piou sobre esse tempo pestilento lá para a frente. Disse ele, que as águas do Rio das Sesmarias, vão encher muitos tanques que as pessoas vão construir nos quintais. Constroem uma casa, abrem um tanque e enchem de água. Para regar as hortas não vai ser, porque, diz ele, eles não as têm e botam-se lá dentro quando têm calor.

— Bom, mas vamos lá a ver oh! Rio das Sesmarias, tu que és maior que o tempo e hás de chegar à era do COVID, o que pensas de tudo isto, a tabuleta onde deve ficar?

— Olha lá, oh! Coutinho que és Bernardino, tantas coisas importantes como as que o J’aquim que é Artista à bocado lembrou, achas que me vou gastar e torvar a minha água, por causa da porra duma tabuleta? É certo que define a falta de carácter de algumas pessoas com poder, mas não vai ser isso que secará a minha água, nem vai “secar” a importância e mais valia dos Abrunhenses, deste e daquele tempo que há de vir, mesmo sendo um sítio “do lado de cá da Serra”.

Silvestre Brandão Félix

19 novembro de 2021

Foto: Fernando Castelo

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

A AMBIÇÃO, A ÉTICA E AS LEMBRANÇAS DAQUELE JANEIRO

 

ambição e ética 

Quando a 20 de janeiro escrevi e publiquei “LEMBRANÇAS DE JANEIRO E A ESPERANÇA” que terminava com;

« “As Lembranças daquele janeiro”, são tónico para acreditar no futuro e afastar, com vigor, as más energias.»

estava longe de imaginar que a partir do final deste mesmo janeiro e em pouco mais de um mês, as coisas iam começar a correr muito mal à minha volta.

Sim, não confundamos. “Aquele” janeiro a que me referia, tinha ficado muitas décadas lá para trás, porque este, do vigésimo primeiro ano do século XXI, foi prelúdio de muito sofrimento pessoal e familiar. 

A vida faz-se, construindo bases, pilares e telhados com beirados mais ou menos graciosos, conforme a arte do construtor.

Ora, quando alguns pilares caem, os telhados tremem e, só por “milagre”, não vão parar ao chão.

Como de “milagres”... já estamos conversados, a alternativa é mesmo aguentar firme. É difícil, mas a força aparece não se sabe de onde, e lá vamos retomando a energia necessária à vida.

Voltemos às “lembranças de janeiro”, não deste, mas daquele que ficou lá para o meio dos anos setenta, que foi transformador e, em tempo, decisivo para muitas mudanças acontecidas na Abrunheira.

Esse janeiro, deve ter tido, em vez dos normais trinta e um dias, pelo menos uns sessenta. Fizeram-se muitas coisas para toda a população usufruir e para os rapazes e raparigas crescerem ao lado dos outros mais velhos, na luta por melhores condições de vida dos abrunheirenses.

Vem esta conversa a propósito das eleições autárquicas que se aproximam, e das promessas que por aí começam a aparecer. A questão é sempre a mesma; a grande distância entre a promessa e a concretização. A tentação da promessa, mesmo sem haver certeza da sua exequibilidade, acontece com todas as candidaturas.

Vá lá, moderem nas promessas eleitoralistas, resumam-nas a bons projetos, mesmo que “não encham tanto o olho”, mas que, se tiverem condições depois de 26 de setembro, as possam executar.

Entretanto também era bom que nas ações de campanha, seja no porta-a-porta, nas redes sociais ou noutros meios de comunicação, deixem de criticar os outros, muitas vezes até à ofensa (os eleitores não gostam) e falem e convençam a população da vossa verdade e do mérito das vossas propostas.

A nossa democracia, tem defeitos. Claro que tem, mas no nosso mundo ocidental é o melhor sistema político, por isso, poupem-na, tratem-na bem e, acima de tudo, estejam vigilantes. Como nos vamos apercebendo, os seus inimigos (da democracia, da liberdade) espreitam e não olham a meios.

Apesar das “pauladas” que levei nos primeiros meses deste ano e da descrença que me rodeou, vou conseguindo desviar as nuvens negras e o futuro é já amanhã. As lembranças daquele janeiro antigo”, ajudam-me a acreditar que as coisas boas virão e que, mercê das virtudes da democracia, em 26 de setembro o povo escolherá os melhores. 

Silvestre Brandão Félix

16 de agosto de 2021

Foto: Google

segunda-feira, 21 de junho de 2021

DOS PISÕES, DOS MILHÕES E OUTRAS QUINTAS QUE TAIS

Casa da Serra (Tapada do Roma)
Na “Serra”, o tempo estava ameno, era por esta altura do ano. Lembro-me do meu Tio Joaquim sentado na soleira da porta, com os cães à volta disputando-lhe as melhores “festas”, mas ao aperceberem-se da nossa chegada logo correram e ladraram, cumprindo a sua obrigação de guardadores. 

Para além do ladrar incessante dos cães, já de contentamento, o som que sempre me fascinava... lá estava; o barulho “metálico” da fresquinha água passando no bebedouro e, lá mais à frente caindo no riacho que pela encosta descia indo encontrar-se adiante com outros fios e nascentes. 

Por aquela rampa acima, entrando na “Tapada”, lindas camélias e hortências, ladeavam o caminho até ao pátio fronteiro à casa. Lá estava, a chaminé, brotando os fumos que o grande fogão - no meu ver de puto, impressionavam-me os dourados brilhantes das pegas do fogão - a lenha transformava em deliciosos almoços. Aquela hora, ainda não cheirava a bacalhau, mas cheirava e bem, aquele inesquecível café que sempre se bebia naquela casa. A meio da manhã, era o que íamos fazer logo de seguida. Eram sempre dias muito bem passados. 

A Ti Franquelina estava a preparar o célebre “Bacalhau à Gomes de Sá”. Para puto de seis ou sete anos, naquele tempo, a ementa do almoço não mobilizava os neurónios para trabalho extra, mesmo tratando-se dum “BGS” como nunca comi em lado nenhum, sendo feito pela minha Tia ou, depois dela partir do mundo dos vivos, pelo seu filho e meu primo Quim. Ele herdou, e bem, o jeito para fazer aquele “Bacalhau à Gomes de Sá”

Mas naquele dia, há volta de sessenta de tempo contado em anos, lá me puxou a Ti Augusta por esses caminhos acima até à Serra, a “Casa da Serra”. Foi lá que viveu desde os sete anos até casar com o meu Pai. Voltava sempre como se tivesse saído na véspera. Para ela, era a sua casa e quando chegou a hora de nascerem o meu irmão Vítor e a minha irmã Felicidade, a maternidade foi lá, na sua “Casa da Serra”. 

A saída daqui, da Abrunheira, era sempre em direção a Ranholas, por aquela que viria a ser a Rua da Abrunheira e que umas décadas mais tarde cortariam ao meio, acabando com a vizinhança entre as duas terras. 

De Ranholas, saíamos com muito cuidado para a velha estrada de Sintra, junto ao portão da “Quinta do Ramalhete” onde, uns anos antes, cheguei a receber um brinquedo pelo Natal. Não era uma playstation, não! Era uma mota-triciclo de lata que quase me cabia numa mão. Delirei com aquilo e, pequenina que era, a mota, acompanhou-me durante muito tempo. 

Na estrada, seguíamos bem junto à parede da Quinta do Ramalhão até ao cruzamento e, passávamos pelos “dois-irmãos” no túmulo, naquele tempo ainda do lado esquerdo, até ao Fetal onde numa primeira paragem a minha Mãe cumprimentava com muitos abraços e beijinhos, salvo erro uma prima, num lugar de fruta e hortaliça. Depois, passando o alto de São Pedro, começando a descer, havia outra paragem para se desfazer em abraços com outra tia ou prima. No Arrabalde também cumprimentava alguém. Talvez familiares do Amadeu. Depois, na “Gandarinha”, onde aprendeu a ler e a escrever, nunca deixava de me contar algumas peripécias no “convívio” com as freiras. 

A maior parte das vezes, descíamos pelo “Valenças” e, na Vila, falava a montes de gente. Muitas vezes ouvi tratarem-na carinhosamente pela Augustinha dos “Oliveiras”. Explicava-me sempre onde tinha nascido, numa casa das Escadinhas do Hospital e nunca deixávamos de ir visitar a minha Tia Branca e o meu Tio Narciso que trabalhavam no Palácio Nacional, por onde sempre andavam também, os meus queridos primos Luís e Casimiro. 

Depois, pela Quinta dos Pisões e logo a seguir, a Quinta do Milhões, hoje Regaleira. Aliás, quando ouvi pela primeira vez o nome de Regaleira, não sabia onde era. Nos Pisões, ficava sempre embasbacado com a cascata. Via, revia, e a Tia Augusta chamava, chamava. Na Quinta do Milhões, a minha Mãe explicava-me que tinha sido um homem com muito dinheiro que a tinha comprado, daí o nome... 

Para muitos vizinhos da Vila, a morada da Serra, era a “Casa dos Oliveiras”. Os meus avós e tios, com o apelido Brandão, eram conhecidos por “Oliveiras”. Assim eram, desde antes da “república”. Até 10 de outubro de 1910, não podiam usar o apelido “Brandão” porque a condenação do bem conhecido “João Brandão” João Brandão – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Incluía a erradicação do apelido de família, até à 5ª geração. Daí, o apelido Brandão, quando existia, era trocado por qualquer outro. No caso do avô da minha Mãe, meu bisavô, embora tivesse sido registado no Porto com Brandão, em Sintra, para onde veio na década de setenta do século XIX, trocou este apelido por “Oliveira”, daí, os seus descendentes, que foram muitos (entre 24 e 27), serem conhecidos por “Oliveiras”. Após a implantação da república, devagarinho, a maioria regressou ao apelido original, ou seja, ao Brandão. Ainda assim, alguns, não o fizeram e continuaram com os outros apelidos, entretanto adquiridos. 

A minha Avó Cândida ainda lá estava. Não viveria muito mais tempo. Vi-a a última vez no Hospital de Santa Maria onde a visitei com a minha Mãe. Foi de lá que os diabetes a levaram e, trinta e poucos anos depois, também havia de ser daquele hospital que a minha Mãe partiu para a derradeira caminhada. 

A meio da tarde, o meu Tio Joaquim, tirava o “dona-elvira” do telheiro (não sei que marca era, mas ainda era daqueles que tinha o pneu suplente em cima do guarda-lama da frente), e vinha trazer-nos a casa. A minha Mãe, Augustinha dos “Oliveiras da Serra” (que não eram), fazia anos neste mês de junho, na véspera do Santo António. 

Silvestre Brandão Félix 

20 de junho de 2021 

Foto: Casa da Serra – Tapada do Roma (Salvo erro, foto do Casimiro)

sexta-feira, 11 de junho de 2021

A RUA DO ALECRIM, O 11 DE JUNHO E A JANELA DO TERCEIRO ANDAR

Antigos comboios da Linha de Sintra

Neste mesmo dia 11 de junho, mas de há cinquenta e dois de tempo em anos contados, ou seja, em 1969, plena época de “primavera” marcelista, mas que afinal não foi, iniciei a minha nova vida, neste caso de trabalho porque de obrigação de escola, me quis livrar.  

Pelo «largodochafarizaosol» muitas vezes escrevi sobre a STAR do 10 da rua do Alecrim, sobre “a janela do terceiro andar”, sobre o Cais do Sodré, sobre o Hotel Bragança do Eça, dos “bitoques” do Califórnia, dos bás-bás do Caneças, dos digestivos do Brithis Bar, dos pastéis de natas da Zarzuela, das sardinhadas no Carvoeiro, das cabeças de peixe na Tasca da Ribeira, das bifanas do Escondidinho, das bicas da Brasília e do Recife, do frango no espeto do Rio Grande, das vieirinhas do Porto de Abrigo, os livros do Eduardo Olímpio, etc., etc.


Todos os momentos de há tanto tempo em anos contados, uma vida toda, justificam-se sempre com meros acasos. O percurso de cada um de nós é feito, de facto, assim, mas complementados com a força do “livre” arbítrio individual.

 

Considero que aquele dia 11 de junho, foi determinante para o meu caminho nesta vida. Por tudo; pelos lugares, pelas pessoas que conheci e pelas decisões que também, em razão das circunstâncias, tive que tomar. Por isso, cruzei a fronteira, sempre pelo ar, e fui parar a sítios tão distantes uns dos outros. Contudo, foi África que me reteve mais tempo e mais vezes, sendo Moçambique durante muito tempo, a casa familiar e até onde a minha filha nasceu.

  


Em julho de 2019, escrevi um texto que retrata bem aquela “minha” época. Se tiverem paciência e pachorra, não deixem de clicar no azul e de o ler até ao fim:  https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2019/07/a-distancia-de-meio-seculo.html Todos nós temos datas importantes na vida, no meu caso, o 11 de junho é mais que isso, foi o ponto de partida da minha vida adulta! 



Silvestre Brandão Félix
 

11 de junho de 2021 – Tempo de pandemia

segunda-feira, 31 de maio de 2021

O ALFREDO, MEU IRMÃO

 O Alfredo também era meu irmão.

 

Eu delirava de contente quando ele me levava ao "Jardim dos Passarinhos". E a satisfação dele, a dizer-me como todos se chamavam, se eram machos ou fêmeas.

 

E lá, no "Pai do Vento", quando só pinheiros havia. O comer do "Totó" levávamos para a engorda e destino marcado.


O Alfredo meu irmão, foi.


Nesta onda de despedidas dos meus, o Alfredo há muito que nos tinha deixado com a Alzheimer por "companheira".


Agora subiu para outra dimensão. Que o teu caminho tenha muita luz e que, finalmente, descanses em paz.