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sábado, 23 de novembro de 2019

UM PONTEIRO, S. MARTINHO E A ÁGUA-PÉ


Se eu fosse um ponteiro de relógio… a volta completa tinha dado… o Bernardino que não era Coutinho, no mesmo sentido e pelos mesmos caminhos, também, muitas voltas, deu.

Por esta altura do ano, com o suave aroma da “água-pé” do Pena, (https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2017/11/sao-martinho-e-agua-pe-do-pena.html) o nosso “Cientista-da-Pedra”, muitos S. Martinho’s comemorou. Dali, da “pedreira do Ti Miguel” — onde, exatamente, neste dezanove do XXI, existe um ótimo campo de jogos a nascente dum lindíssimo verde parque — o Bernardino que não era Coutinho, muito fiel ao ditado, “No São Martinho vai à adega e prova o vinho”, não provava o vinho, porque esse, já o emborcava o ano todo. Especialmente no dia de São Martinho, em vez de vinho, intervalava a labuta na “pedreira” e ia provar e bem beber, a afamada “água-pé” do Pena.

Rio das Sesmarias (Foto minha-5.11.2019)
Logo que, bem de manhã, passava pelo amigo e companheiro Rio das Sesmarias, nesta altura do ano, bem aviado estava de água das chuvas e das nascentes a montante, o motivo da conversa era a “água-pé” do Pena.

 Até antes disso, quando ao sair de casa e no mesmíssimo momento em que o melro “Simão” e a sua companheira “Micas”, (https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2018/03/cagado-que-naquela-epoca-se-chamava.html)batismo feito a meias, pelo seu sogro Caracol Velho e filha Judite — chegavam ao poiso habitual dando-lhe os bons dias com o característico “pianço”  e desejando-lhe um ótimo dia de São Martinho, já aí, a última parte, era pura imaginação, mas a sede da “água-pé” era tanta, que até lhe soube mal o vinho que a Judite, misturando com pão duro que nem os cornos do carneiro Baltazar, transformou em “sopas de cavalo cansado”.

O Caracol Velho reivindicava a exclusividade da interação com os melros, mas sem o “velho” saber, o Coutinho que era Bernardino foi conseguindo meter-se naquela “conversa”. Depois, uma parte, o simpático casal piava como lhe apetecia, a outra parte, o Coutinho que era Bernardino, punha a sua singular imaginação a trabalhar e, do Simão e da Micas, passava a ouvir o que muito bem queria. Naquele dia, de São Martinho, achou que estavam sintonizados com a sede de “água-pé” que ele tinha.

Se eu fosse um “ponteiro de relógio”, às oito horas, tinha atravessado a Arroteia — que continua combinada com as letras do alfabeto e numerais simples — de nascente para poente até ao das Sesmarias, paredes-meias, ou melhor, Rio-meias com a Beloura, que não a do Chico, no tempo do Coutinho de era Bernardino. No sentido do “ponteiro”, lá está o início da rua que o homenageia; Rua Gago Coutinho! Como havia ele de saber que muito tempo contado em anos lá para a frente, alguém se havia de lembrar porque chamaram Brasil, à Abrunheira. Porque foi ali, por cima das “Pateiras”, que um dos Zambujeiros mais altos, serviu de rampa de lançamento para — querendo imitar o feito do Gago Coutinho e Sacadura Cabral voando até ao Brasil — aproveitando uma “rabanada” de vento, iniciarem o memorável voo. Só que, em vez de voarem, escaqueiraram-se os dois do chão.
  
Pois bem, seguindo o sentido do “ponteiro” e pela da Colónia acima, à moderníssima Urbanização das Sesmarias, cheguei. Muito ali calcorreou o Coutinho que era Bernardino dando voltas e mais voltas pela pedreira do “Ti Miguel” que ali, cheia de entulho, foi!

Rua das Sesmarias, subindo a partir do Rio (Foto minha - 5.11.2019)
Com a devida vénia ao Rio das Sesmarias por cima dele passei com a lembrança do Ti Joaquim da fruta e começando a subir a rua a que o Rio também deu o nome. Tantas tropeça-delas o Coutinho que era Bernardino, por ali deu. A ânsia de chegar à Menina Emília ou lá acima ao Faial, para molhar a garganta, atrapalhavam-lhe o andamento, mas, neste dia, do que falamos é da “água-pé” do Pena. Pois bem, subindo a rua, à esquerda o Cipriano no Serrado do Penedo e à direita, o beco para a casa do Pena. Era lá, naquele dia de São Martinho, que “morava” a melhor “água-pé” da Abrunheira, deste mundo e arredores.

Muitas voltas de relógio que nem ponteiro, se podem dar, pisando as mesmas pedras do abrunhense que tinha a “Ciência-da-Pedra” — O Coutinho que era Bernardino.


Silvestre Brandão Félix      
23 novembro de 2019