Se eu fosse um ponteiro de relógio… a volta completa tinha
dado… o Bernardino que não era Coutinho, no mesmo sentido e pelos mesmos
caminhos, também, muitas voltas, deu.
Por esta altura do ano, com o suave aroma da “água-pé” do Pena,
(https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2017/11/sao-martinho-e-agua-pe-do-pena.html) o nosso “Cientista-da-Pedra”, muitos
S. Martinho’s comemorou. Dali, da “pedreira do Ti Miguel” — onde, exatamente,
neste dezanove do XXI, existe um ótimo campo de jogos a nascente dum lindíssimo
verde parque — o Bernardino que não era Coutinho, muito fiel ao ditado, “No
São Martinho vai à adega e prova o vinho”, não provava o vinho, porque
esse, já o emborcava o ano todo. Especialmente no dia de São Martinho, em vez
de vinho, intervalava a labuta na “pedreira” e ia provar e bem beber, a afamada
“água-pé” do Pena.
Rio das Sesmarias (Foto minha-5.11.2019) |
Logo que, bem de manhã, passava pelo amigo e companheiro Rio
das Sesmarias, nesta altura do ano, bem aviado estava de água das chuvas e das
nascentes a montante, o motivo da conversa era a “água-pé” do Pena.
Até antes disso,
quando ao sair de casa e no mesmíssimo momento em que o melro “Simão” e a sua
companheira “Micas”, (https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2018/03/cagado-que-naquela-epoca-se-chamava.html) — batismo feito a meias, pelo seu
sogro Caracol Velho e filha Judite — chegavam ao poiso habitual dando-lhe
os bons dias com o característico “pianço”
e desejando-lhe um ótimo dia de São Martinho, já aí, a última parte, era
pura imaginação, mas a sede da “água-pé” era tanta, que até lhe soube mal o
vinho que a Judite, misturando com pão duro que nem os cornos do carneiro
Baltazar, transformou em “sopas de cavalo cansado”.
O Caracol Velho reivindicava a exclusividade da interação com
os melros, mas sem o “velho” saber, o Coutinho que era Bernardino foi
conseguindo meter-se naquela “conversa”. Depois, uma parte, o simpático casal
piava como lhe apetecia, a outra parte, o Coutinho que era Bernardino, punha a
sua singular imaginação a trabalhar e, do Simão e da Micas, passava a ouvir o
que muito bem queria. Naquele dia, de São Martinho, achou que estavam
sintonizados com a sede de “água-pé” que ele tinha.
Se eu fosse um “ponteiro de relógio”, às oito horas, tinha
atravessado a Arroteia — que continua combinada com as letras do alfabeto e
numerais simples — de nascente para poente até ao das Sesmarias,
paredes-meias, ou melhor, Rio-meias com a Beloura, que não a do Chico, no tempo
do Coutinho de era Bernardino. No sentido do “ponteiro”, lá está o início da
rua que o homenageia; Rua Gago Coutinho! Como havia ele de saber que muito
tempo contado em anos lá para a frente, alguém se havia de lembrar porque
chamaram Brasil, à Abrunheira. Porque foi ali, por cima das “Pateiras”, que um
dos Zambujeiros mais altos, serviu de rampa de lançamento para — querendo imitar
o feito do Gago Coutinho e Sacadura Cabral voando até ao Brasil — aproveitando
uma “rabanada” de vento, iniciarem o memorável voo. Só que, em vez de voarem,
escaqueiraram-se os dois do chão.
Pois bem, seguindo o sentido do “ponteiro” e pela da Colónia
acima, à moderníssima Urbanização das Sesmarias, cheguei. Muito ali calcorreou
o Coutinho que era Bernardino dando voltas e mais voltas pela pedreira do “Ti
Miguel” que ali, cheia de entulho, foi!
Rua das Sesmarias, subindo a partir do Rio (Foto minha - 5.11.2019) |
Com a devida vénia ao Rio das Sesmarias por cima dele passei com
a lembrança do Ti Joaquim da fruta e começando a subir a rua a que o Rio também
deu o nome. Tantas tropeça-delas o Coutinho que era Bernardino, por ali deu. A ânsia
de chegar à Menina Emília ou lá acima ao Faial, para molhar a garganta,
atrapalhavam-lhe o andamento, mas, neste dia, do que falamos é da “água-pé” do
Pena. Pois bem, subindo a rua, à esquerda o Cipriano no Serrado do Penedo e à
direita, o beco para a casa do Pena. Era lá, naquele dia de São Martinho, que “morava”
a melhor “água-pé” da Abrunheira, deste mundo e arredores.
Muitas voltas de relógio que nem ponteiro, se podem dar, pisando
as mesmas pedras do abrunhense que tinha a “Ciência-da-Pedra” — O Coutinho
que era Bernardino.
Silvestre Brandão Félix
23 novembro de 2019