Depois de tantas décadas de esperança, tornada, muitas
vezes, conformismo e descrença para uma população despida de qualidade de vida e
sempre ouvindo, ao correr dos ciclos políticos, promessas que nunca serão
alcançadas, a verdade e a realidade não é facilmente digerível.
No caso da Igreja da Abrunheira, como se pode
constatar, a verdade venceu e a construção já vai em bom ritmo.
Pelo que se sabe, esta primeira fase inclui, entre outras
valências, a “capela” mortuária que
tanta falta faz à população da Abrunheira
em geral.
Para que a Igreja de Santo António possa ser
concluída é preciso muito dinheiro e a campanha de angariação de fundos,
continua. Fez saber, a Comissão Pró-construção da Igreja da
Abrunheira, que este domingo, dia 19 pelas 13h, vai haver mais um almoço no
pavilhão da URCA com o fim de juntar mais uns trocos e nas mesmas condições dos
anteriores.
A este propósito escrevi, lá pelos idos de 2007, o seguinte:
… Sesmarias – O Rio,
de sua natureza intemporal, todas as vezes que o leito corria cheio, não se
cansava de gritar “aos sete ventos” – para o caso tanto faz que sejam sete,
oito ou uma dúzia, que muita gente a Abrunheira tinha – “por quem os sinos
haviam de dobrar”! Note-se e escreva-se que o narrador nunca lhe disse que a
história titulada “Por quem os sinos dobram”, dito muito parecido com o
repetido pelo Sesmarias – O Rio, após cada bátega de chuva, havia sido
inventada, publicada em livro e mostrada em cinema por um americano chamado
Ernesto – O Hemingway, há largo tempo contado em anos. Os invernos e verões
foram correndo até que, numa manhã solarenga de março, Coutinho – O Bernardino
de bornal carregado, preparando-se para fazer a travessia para o lado da
pedreira do Ti Miguel, mais uma vez, ouviu Sesmarias – O Rio, gemer de tanto
prometer que “os sinos haviam de dobrar” na Abrunheira.
Promessas são
promessas e, naquela época, a honra comia-se a todas as refeições e até na cama
do promitente dormia, sendo que, duma vez por todas, Coutinho – O Bernardino
enchendo-se de coragem, perguntou ao Rio:
– Ouve lá oh Sesmarias. Mas então, como é que
“os sinos hão de dobrar”, se nem campanário e muito menos Igreja, cá existe?
– Pois então oh Coutinho – O Bernardino, nem
parece teu, tanta interrogação. Não foste tu e o Sacadura – O Francisco Borrego
que juntaram duas dúzias de tábuas e trancos de abrunheiros com chapas de
bidons ao meio cortados e se atiraram abaixo do zambujeiro mais alto que na
Abrunheira havia? E foi porquê? Porque acreditaram muito, ser possível voar
assim, até ao Brasil.
– Eu, Rio – O Sesmarias, nunca te enganei oh
Coutinho que és Bernardino e que tens a “ciência da pedra” – é preciso
acreditar muito para que, um dia, na Abrunheira, “os sinos dobrem” num
altaneiro campanário de santa igreja construída. …
(parte de texto “Ciência da Pedra” da minha autoria, escrito em 2007)
Neste caso, da Igreja
de Santo António na Abrunheira, foi essencial acreditar-se muito e resultou
mas, infelizmente, mesmo que Sesmarias –
O Rio, o garanta, nem sempre assim acontece.
Silvestre Félix
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