segunda-feira, 13 de junho de 2022
JOÃO ALBERTO RODRIGUES PENICHE
segunda-feira, 21 de março de 2022
UM ANO DEPOIS
Abrunheira - Pôr do Sol |
Há momentos em que os 365 dias contados, foram um tempo longo
de tal maneira, que sinto um grande peso, como se séculos tivessem passado. No
minuto seguinte, se for caso disso, o princípio do último ano, parece-me ter
sido ontem. A ausência é desconcertante e condiciona-nos em todos os sentidos,
em todas as partes do dia ou da noite.
A morte, é a verdade absoluta. As vicissitudes da vida, são
miudezas comparadas com esta inevitabilidade.
A Isabel gostava de viver e tinha ainda muito para nos dar,
mas quando chega aquela hora, não há como lhe trocar as voltas.
Estava traçado que assim seria. A minha companheira, com
certeza está tranquila e em paz, como vi que estava quando de mim se despediu.
Não tem sido fácil, mas o caminho é para a frente e eu tenho
de o seguir. Ela não me perdoaria se fizesse diferente.
A Isabel estará sempre nos nossos corações!
Silvestre Brandão Félix
21 de março de 2022
Foto: Minha em março de 2022
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
O COMEÇO DO FIM
Como sempre acontecia em dia de eleições, levantou-se
bastante cedo de maneira a estar na Junta de Freguesia, em São Pedro, antes das
7 horas daquele dia 24 de janeiro de 2021, faz hoje, um ano.
Como costume, telefonou-me durante o dia a perguntar se eu já
tinha votado e, também, como todas as vezes acontecia em dia de eleições,
chegou a casa depois das dez da noite.
A Isabel vinha muito cansada, mas também, nada que não acontecesse em todos os dias de eleições, ao longo dos últimos 35 anos.
No dia 25, segunda-feira, gozou folga, mas não esteve bem.
Terça e quarta, fez teletrabalho com bastante dificuldade e,
na quinta-feira levantou-se à hora do costume, depois de uma noite mal dormida,
dizendo “que se sentia melhor e ia para cima” (S. Pedro). Fui levá-la às
9 horas e lá ficou em aparente normalidade.
Às duas e meia da tarde telefonou-me para a ir buscar porque
não estava a aguentar.
Calculo que ela não sabia e muito menos eu, que naquele dia 28
de janeiro de 2021, seria a última vez que passaria por aquela porta e
percorreria aqueles metros até ao Largo da Igreja.
A Isabel da "Junta", nunca mais ali voltaria.
Silvestre Brandão Félix
24 de janeiro de 2022
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
ÁGUA-PÉ, A TABULETA E A CIÊNCIA DA PEDRA
— Eu é que não posso sair do meu sítio e deste tempo em que
os nossos filhos atravessam os mares, muitas vezes navegados, para irem
combater outros filhos de outras sofridas mães, noutras também abençoadas terras,
porque gostava de ir ver esse fenómeno. Como é possível, nesse futuro do COVID,
andarem com a Abrunheira às costas dum
lado para o outro?
— Juro que é verdade, amigo Rio das Sesmarias. Muitos anos lá
para a frente, vai estar colocada a seguir ao cruzamento da “Charneca”, mas depois,
no dia seguinte, quando eu vier de Mem Martins, a Abrunheira vai estar outra
vez na curva da “Quinta Lavi”.
— Oh! Coutinho que és Bernardino, lá que, nesse tempo que há
de vir, queiram fazer as pazes com os Abrunheirenses ao ponto de lhe darem
tamanha importância andando com eles ao colo, eu até admito, mas nesse caso, a
mudarem a Terra de sítio, só vão complicar mais as coisas.
— Bom dia, Amigo Rio das Sesmarias e Bernardino que não és
Coutinho, ando a ficar um bocado surdo, mas será que ouvi bem? Lá para a era do
COVID, vão mudar o poiso da Abrunheira?
— Ouviste muito bem, J’aquim que és Artista! Nesses tempos, lá
no futuro, em que tudo vai ser bué de complicado e demorado, em que não se vai
poder fumar na taberna nem se ligará nem acreditará na minha “ciência-da-Pedra”,
a tabuleta da Abrunheira vai andar dum lado para o outro enquanto o “diabo
esfrega um olho”.
— A tabuleta? Mas qual tabuleta? É no “Alto da Bonita”? Sim,
porque o cemitério é que é, a “quinta-das-tabuletas”.
— Lá estás tu, J’aquim que és Artista, a divagar,
“por-dá-cá-aquela-palha”! Não é nada no cemitério, é cá em baixo...entre a
Charneca e a esquina da Quinta Lavi!
— É pá, vossemecês estão
a baralhar-me...mas qual palha?
— Não é palha nenhuma, é só uma maneira de dizer...é que tu, J’aquim
que és Artista, quando começas a contar estórias, nunca mais acabas e a gente
até já as ouviu todas.
— Ora bolas, oh! Couinho que és Bernardino e eu que cheguei a
pensar, mesmo sendo com esses anos todos para a frente, como o Rio das
Sesmarias diz, para a era do COVID, fosse coisa para eles, os inteligentes, cumprirem
algumas promessas aos Abrunheirenses como:
"Anúncio" de futuro (há 20 anos) quartel GNR Foto de Fernando Castelo |
— Pára lá, oh! J’aquim que és Artista! Pára (com acento), porque daqui até
aquele tempo
do COVID, muita água o nosso Amigo Rio das Sesmarias vai deixar
correr e não me apetece voltar a ouvir mais uma vez, a mesma “lenga-lenga”. Só
estávamos a falar da “Tabuleta” e da “água-pé” do Amigo Pena.
— Ora aí está uma conversa que me interessa. “Água-pé”! Tudo o
que tenha a ver com “água”, é comigo. E não fosse eu, o maior e mais simpático
Rio da Abrunheira e arredores.
— Oh! Amigo Rio das Sesmarias, mas a “água” que o Coutinho
que é Bernardino estava a dizer, não é dessa que corre no teu leito. É da outra
que tem “pinta” de vinho e embebeda que não é brincadeira e, no meu caso,
fazendo jus à minha alcunha, dá-me cá uma caganeira que para me desenvencilhar
dela, apanho sol ou CHUVA. Mais chuva, porque o verão do S. Martinho são só
três dias e depois começa a chover.
— É verdade, meus amigos. Muita água vou deixar correr, antes
que ma desviem... não sei para onde, mas que isso vai acontecer. Também já me
avisaram sobre as enguias que sobem por mim acima até ao poço da nora na horta
do Zé Silvestre. Vão desaparecer quando desviarem a água das minhas nascentes a
montante.
— O meu sogro Caracol Velho, tem longas conversas de
“espírito-santo-de-orelha” com o melro “Simão” que, lá de cima, vê muito melhor
o que se passa cá por baixo, do que nós. Vai daí, ainda ontem me disse, que o
melro lhe piou sobre esse tempo pestilento lá para a frente. Disse ele, que as
águas do Rio das Sesmarias, vão encher muitos tanques que as pessoas vão construir
nos quintais. Constroem uma casa, abrem um tanque e enchem de água. Para regar
as hortas não vai ser, porque, diz ele, eles não as têm e botam-se lá dentro
quando têm calor.
— Bom, mas vamos lá a ver oh! Rio das Sesmarias, tu que és
maior que o tempo e hás de chegar à era do COVID, o que pensas de tudo isto, a
tabuleta onde deve ficar?
— Olha lá, oh! Coutinho que és Bernardino, tantas coisas importantes como as que o J’aquim que é Artista à bocado lembrou, achas que me vou gastar e torvar a minha água, por causa da porra duma tabuleta? É certo que define a falta de carácter de algumas pessoas com poder, mas não vai ser isso que secará a minha água, nem vai “secar” a importância e mais valia dos Abrunhenses, deste e daquele tempo que há de vir, mesmo sendo um sítio “do lado de cá da Serra”.
Silvestre Brandão Félix
19 novembro de 2021
Foto: Fernando Castelo
segunda-feira, 16 de agosto de 2021
A AMBIÇÃO, A ÉTICA E AS LEMBRANÇAS DAQUELE JANEIRO
ambição e ética |
Quando a 20 de janeiro escrevi e publiquei “LEMBRANÇAS DE
JANEIRO E A ESPERANÇA” que terminava com;
« “As Lembranças daquele janeiro”, são tónico para
acreditar no futuro e afastar, com vigor, as más energias.»
estava longe de imaginar que a partir do final deste mesmo
janeiro e em pouco mais de um mês, as coisas iam começar a correr muito mal à
minha volta.
Sim, não confundamos. “Aquele” janeiro a que me referia,
tinha ficado muitas décadas lá para trás, porque este, do vigésimo primeiro ano
do século XXI, foi prelúdio de muito sofrimento pessoal e familiar.
A vida faz-se, construindo bases, pilares e telhados com
beirados mais ou menos graciosos, conforme a arte do construtor.
Ora, quando alguns pilares caem, os telhados tremem e, só por
“milagre”, não vão parar ao chão.
Como de “milagres”... já estamos conversados, a alternativa é
mesmo aguentar firme. É difícil, mas a força aparece não se sabe de onde, e lá
vamos retomando a energia necessária à vida.
Voltemos às “lembranças de janeiro”, não deste,
mas daquele que ficou lá para o meio dos anos setenta, que foi transformador e,
em tempo, decisivo para muitas mudanças acontecidas na Abrunheira.
Esse janeiro, deve ter tido, em vez dos normais trinta e um
dias, pelo menos uns sessenta. Fizeram-se muitas coisas para toda a população
usufruir e para os rapazes e raparigas crescerem ao lado dos outros mais
velhos, na luta por melhores condições de vida dos abrunheirenses.
Vem esta conversa a propósito das eleições autárquicas que se
aproximam, e das promessas que por aí começam a aparecer. A questão é sempre a
mesma; a grande distância entre a promessa e a concretização. A tentação da
promessa, mesmo sem haver certeza da sua exequibilidade, acontece com todas as
candidaturas.
Vá lá, moderem nas promessas eleitoralistas, resumam-nas a
bons projetos, mesmo que “não encham tanto o olho”, mas que, se tiverem
condições depois de 26 de setembro, as possam executar.
Entretanto também era bom que nas ações de campanha, seja no
porta-a-porta, nas redes sociais ou noutros meios de comunicação, deixem de
criticar os outros, muitas vezes até à ofensa (os eleitores não gostam) e falem
e convençam a população da vossa verdade e do mérito das vossas propostas.
A nossa democracia, tem defeitos. Claro que tem, mas no nosso
mundo ocidental é o melhor sistema político, por isso, poupem-na, tratem-na bem
e, acima de tudo, estejam vigilantes. Como nos vamos apercebendo, os seus
inimigos (da democracia, da liberdade) espreitam e não olham a meios.
Apesar das “pauladas” que levei nos primeiros meses deste ano
e da descrença que me rodeou, vou conseguindo desviar as nuvens negras e o
futuro é já amanhã. “As lembranças daquele janeiro antigo”,
ajudam-me a acreditar que as coisas boas virão e que, mercê das virtudes da
democracia, em 26 de setembro o povo escolherá os melhores.
Silvestre Brandão Félix
16 de agosto de 2021
Foto: Google
segunda-feira, 21 de junho de 2021
DOS PISÕES, DOS MILHÕES E OUTRAS QUINTAS QUE TAIS
Casa da Serra (Tapada do Roma) |
sexta-feira, 11 de junho de 2021
A RUA DO ALECRIM, O 11 DE JUNHO E A JANELA DO TERCEIRO ANDAR
Antigos comboios da Linha de Sintra |
Pelo «largodochafarizaosol» muitas vezes escrevi sobre a STAR do 10 da rua do Alecrim, sobre “a janela do terceiro andar”, sobre o Cais do Sodré, sobre o Hotel Bragança do Eça, dos “bitoques” do Califórnia, dos bás-bás do Caneças, dos digestivos do Brithis Bar, dos pastéis de natas da Zarzuela, das sardinhadas no Carvoeiro, das cabeças de peixe na Tasca da Ribeira, das bifanas do Escondidinho, das bicas da Brasília e do Recife, do frango no espeto do Rio Grande, das vieirinhas do Porto de Abrigo, os livros do Eduardo Olímpio, etc., etc.
Todos os momentos de há tanto tempo em anos contados, uma vida toda, justificam-se sempre com meros acasos. O percurso de cada um de nós é feito, de facto, assim, mas complementados com a força do “livre” arbítrio individual.
Considero que aquele dia 11 de junho, foi determinante para o meu caminho nesta vida. Por tudo; pelos lugares, pelas pessoas que conheci e pelas decisões que também, em razão das circunstâncias, tive que tomar. Por isso, cruzei a fronteira, sempre pelo ar, e fui parar a sítios tão distantes uns dos outros. Contudo, foi África que me reteve mais tempo e mais vezes, sendo Moçambique durante muito tempo, a casa familiar e até onde a minha filha nasceu.
Em julho de 2019, escrevi um texto que retrata bem aquela “minha” época. Se tiverem paciência e pachorra, não deixem de clicar no azul e de o ler até ao fim: https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2019/07/a-distancia-de-meio-seculo.html Todos nós temos datas importantes na vida, no meu caso, o 11 de junho é mais que isso, foi o ponto de partida da minha vida adulta!
Silvestre Brandão Félix
11 de junho de 2021 – Tempo de pandemia