Mesmo debaixo dos cobertores dava para ouvir o barulho do vento e, assim que pôs a cabeça fora da porta, levou com o sopro do lado de Manique e confirmou o canavial da horta em frente toda dobrada para o lado da serra. Ainda era escuro e alguma claridade já se via lá do lado do Alto Forte mas, o céu estava escuro, não se via uma estrela e era certo e sabido que ia dar chuva. Lá vinham as preocupações do costume, estava o caldo entornado para a Ti Mariana Soleta e dia de festa para o filho.
O Coutinho que era Bernardino tinha acabado de sair de casa para pegar na picareta e continuar a entrar pelas entranhas da terra até chegar à água, que deverá encher até acima, e que logo se vai chamar poço. É esta a sina do Coutinho que era Bernardino. Cabouqueiro era assim que se chamava a arte do homem que tinha “a Ciência da Pedra”. Na verdade, tinha saído de casa como de costume, mas, o destino daquele dia estava traçado, o tempo tinha virado e o trabalho da arte do Cabouqueiro não se dá quando ele, o tempo, entende deitar chuva, até parece que é de propósito, porque já se passaram uns dias que o Coutinho que era Bernardino, não metia umas “charretes” na taberna da “Menina Emília”, e, como o hábito faz o Monge, era bom que de vez em quando o tempo virasse de Manique e deitasse água de chuva, para que o Coutinho que era Bernardino pudesse também deitar vinho pela goela abaixo. E assim foi, neste dia de Janeiro de há muitos anos passados, mais dos que eu já contei nesta vida.
O personagem principal da prosa, Coutinho que era Bernardino ou Bernardino que não era Coutinho, não carece de apresentação, porque por aqui já mereceu essa deferência. Nesta altura da vida do Cabouqueiro que tinha a “Ciência da Pedra”, embora ainda solteiro, já tinha dado à estampa da “gazeta” do “boca-a-boca” e do “diz-que-disse” dos Abrunhenses, aquela cena de, em parceria com o Francisco Borrego, quererem imitar o Gago Coutinho e o Sacadura Cabral voando até ao Brasil num aeroplano construído em cima de um zambujeiro. Por essa e por outras, muitos achaques a Ti Mariana Soleta sofria e rezava terços e mais terços para que lhe calhasse em sorte uma mulher que lhe pusesse tanto juízo na cabeça, como tonéis de vinho ele bebia.
A Ti Mariana Soleta continua na história porque o Coutinho que era Bernardino já casou tarde, e, nesta altura, ainda era a Mãe que tomava conta dele naquilo que naquela época estava destinado às mulheres. Como acontecia noutros sítios, também na Abrunheira, a mulher nunca podia ir chamar o marido à taberna, mas se fosse a Mãe, havia uma certa tolerância e era isso que acontecia com o Coutinho que era Bernardino. Os caminhos das tabernas da Abrunheira eram tão percorridos pelo filho, que por lá enchia o “bandulho”, como pela Mãe que pelos mesmos caminhos se arrastava para o levar de volta a casa a cair de bêbado.
Tal como já acontecera tantas outras vezes, também neste dia, já lusco-fusco, o Coutinho que era Bernardino, nada de chegar a casa. A Ti Mariana Soleta, mete uma saca vazia à cabeça, que ainda chuviscava, e lá vai para o circuito do costume. Começa pelo Osvaldo/Faial, espreita com jeito, e Coutinho que era Bernardino nem vê-lo, vem descendo e chega à “Menina Emília”. Ainda estava a meia dúzia de passos e já ouvia a voz arrastada pelas “charretes” e ”ciganas”, que o Coutinho que era Bernardino tinha metido no “bucho” durante toda a tarde. A Ti Mariana Soleta, espreita à porta e começa com as pragas do costume que, o Coutinho que era Bernardino, mesmo empaturrado de tintol, já as sabia de cor e respondia com a sapiência do Cabouqueiro que tinha a “Ciência da Pedra”.
O Coutinho que era Bernardino tinha acabado de sair de casa para pegar na picareta e continuar a entrar pelas entranhas da terra até chegar à água, que deverá encher até acima, e que logo se vai chamar poço. É esta a sina do Coutinho que era Bernardino. Cabouqueiro era assim que se chamava a arte do homem que tinha “a Ciência da Pedra”. Na verdade, tinha saído de casa como de costume, mas, o destino daquele dia estava traçado, o tempo tinha virado e o trabalho da arte do Cabouqueiro não se dá quando ele, o tempo, entende deitar chuva, até parece que é de propósito, porque já se passaram uns dias que o Coutinho que era Bernardino, não metia umas “charretes” na taberna da “Menina Emília”, e, como o hábito faz o Monge, era bom que de vez em quando o tempo virasse de Manique e deitasse água de chuva, para que o Coutinho que era Bernardino pudesse também deitar vinho pela goela abaixo. E assim foi, neste dia de Janeiro de há muitos anos passados, mais dos que eu já contei nesta vida.
O personagem principal da prosa, Coutinho que era Bernardino ou Bernardino que não era Coutinho, não carece de apresentação, porque por aqui já mereceu essa deferência. Nesta altura da vida do Cabouqueiro que tinha a “Ciência da Pedra”, embora ainda solteiro, já tinha dado à estampa da “gazeta” do “boca-a-boca” e do “diz-que-disse” dos Abrunhenses, aquela cena de, em parceria com o Francisco Borrego, quererem imitar o Gago Coutinho e o Sacadura Cabral voando até ao Brasil num aeroplano construído em cima de um zambujeiro. Por essa e por outras, muitos achaques a Ti Mariana Soleta sofria e rezava terços e mais terços para que lhe calhasse em sorte uma mulher que lhe pusesse tanto juízo na cabeça, como tonéis de vinho ele bebia.
A Ti Mariana Soleta continua na história porque o Coutinho que era Bernardino já casou tarde, e, nesta altura, ainda era a Mãe que tomava conta dele naquilo que naquela época estava destinado às mulheres. Como acontecia noutros sítios, também na Abrunheira, a mulher nunca podia ir chamar o marido à taberna, mas se fosse a Mãe, havia uma certa tolerância e era isso que acontecia com o Coutinho que era Bernardino. Os caminhos das tabernas da Abrunheira eram tão percorridos pelo filho, que por lá enchia o “bandulho”, como pela Mãe que pelos mesmos caminhos se arrastava para o levar de volta a casa a cair de bêbado.
Tal como já acontecera tantas outras vezes, também neste dia, já lusco-fusco, o Coutinho que era Bernardino, nada de chegar a casa. A Ti Mariana Soleta, mete uma saca vazia à cabeça, que ainda chuviscava, e lá vai para o circuito do costume. Começa pelo Osvaldo/Faial, espreita com jeito, e Coutinho que era Bernardino nem vê-lo, vem descendo e chega à “Menina Emília”. Ainda estava a meia dúzia de passos e já ouvia a voz arrastada pelas “charretes” e ”ciganas”, que o Coutinho que era Bernardino tinha metido no “bucho” durante toda a tarde. A Ti Mariana Soleta, espreita à porta e começa com as pragas do costume que, o Coutinho que era Bernardino, mesmo empaturrado de tintol, já as sabia de cor e respondia com a sapiência do Cabouqueiro que tinha a “Ciência da Pedra”.
(Dizia a Ti Mariana); “Ai filhe! Quizera Deus que o vinhe acabe…”
“Oh Mãe…… Eu faço o possível., mas o quer…, sou sozinho!”
(E lá continuava a Ti Mariana Soleta); “Ai valha-me Deus... Porque é que o vinhe nã aumenta para um conte de réis o litre?”
(Responde o Coutinho que era Bernardino); “ Oh Mãe, até que eu não me importava…”
(E a Mãe); “ Nã te importavas Filhe?”
Eu cá não… desde que o litro fosse do tamanho da água da Lagoa Azul!”
Este dia de Janeiro de há muito tempo contado em anos, nesta Abrunheira; Que de superfícies ditas comerciais tinha, com muita honra e prestação social, as suas tabernas e mercearias, que de luz, só a petróleo, água só do chafariz, do Santo António e de outros poços, fogão ou forno só a lenha, estrada só de pedregulhos, bosta de vaca e caganitas de ovelha, notícias só do jornal “O século” e visado pela comissão de censura e trabalho/emprego só na agricultura e sazonal… Como dizia, este dia, como tantos outros, “passou à História” porque por cá passaram e vão continuar a passar personagens Abrunhenses como a que foi o Coutinho que era Bernardino, o homem que tinha a “Ciência da Pedra”.
Silvestre Félix
11 de Maio de 2011
(Extraído dos textos “Abrunheira, Terra com História” de Silvestre Félix, publicados no extinto blogue “Aldeia Viva” durante 2007 e 2008. Corrigido e atualizado pelo autor em 2011)
O Coutinho que era Bernardino,devia ser uma pessoa engraçada.Pois,gostava duns copitos,na altura também não havia mais nada,era a taberna e todo aquele convívio.Por momentos imaginei uma personagem com a saca na cabeça a espreitar as tabernas.O diálogo da senhora com o filho está fantástico.Ai filhe como escreves tam bem e tens uma memória tam boa.Lembro-me da tua mãe,porque eu ao ler o que escreves lembro-me como ela contava determinadas coisas que parecia que estava a ver tudo.Vomecê saiu á sua mãe.Parabens bj.
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