segunda-feira, 23 de janeiro de 2023
UM BOM E POLITICAMENTE CORRETO DIGNATÁRIO, SABERIA
segunda-feira, 13 de junho de 2022
JOÃO ALBERTO RODRIGUES PENICHE
segunda-feira, 21 de março de 2022
UM ANO DEPOIS
Abrunheira - Pôr do Sol |
Há momentos em que os 365 dias contados, foram um tempo longo
de tal maneira, que sinto um grande peso, como se séculos tivessem passado. No
minuto seguinte, se for caso disso, o princípio do último ano, parece-me ter
sido ontem. A ausência é desconcertante e condiciona-nos em todos os sentidos,
em todas as partes do dia ou da noite.
A morte, é a verdade absoluta. As vicissitudes da vida, são
miudezas comparadas com esta inevitabilidade.
A Isabel gostava de viver e tinha ainda muito para nos dar,
mas quando chega aquela hora, não há como lhe trocar as voltas.
Estava traçado que assim seria. A minha companheira, com
certeza está tranquila e em paz, como vi que estava quando de mim se despediu.
Não tem sido fácil, mas o caminho é para a frente e eu tenho
de o seguir. Ela não me perdoaria se fizesse diferente.
A Isabel estará sempre nos nossos corações!
Silvestre Brandão Félix
21 de março de 2022
Foto: Minha em março de 2022
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
O COMEÇO DO FIM
Como sempre acontecia em dia de eleições, levantou-se
bastante cedo de maneira a estar na Junta de Freguesia, em São Pedro, antes das
7 horas daquele dia 24 de janeiro de 2021, faz hoje, um ano.
Como costume, telefonou-me durante o dia a perguntar se eu já
tinha votado e, também, como todas as vezes acontecia em dia de eleições,
chegou a casa depois das dez da noite.
A Isabel vinha muito cansada, mas também, nada que não acontecesse em todos os dias de eleições, ao longo dos últimos 35 anos.
No dia 25, segunda-feira, gozou folga, mas não esteve bem.
Terça e quarta, fez teletrabalho com bastante dificuldade e,
na quinta-feira levantou-se à hora do costume, depois de uma noite mal dormida,
dizendo “que se sentia melhor e ia para cima” (S. Pedro). Fui levá-la às
9 horas e lá ficou em aparente normalidade.
Às duas e meia da tarde telefonou-me para a ir buscar porque
não estava a aguentar.
Calculo que ela não sabia e muito menos eu, que naquele dia 28
de janeiro de 2021, seria a última vez que passaria por aquela porta e
percorreria aqueles metros até ao Largo da Igreja.
A Isabel da "Junta", nunca mais ali voltaria.
Silvestre Brandão Félix
24 de janeiro de 2022
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
ÁGUA-PÉ, A TABULETA E A CIÊNCIA DA PEDRA
— Eu é que não posso sair do meu sítio e deste tempo em que
os nossos filhos atravessam os mares, muitas vezes navegados, para irem
combater outros filhos de outras sofridas mães, noutras também abençoadas terras,
porque gostava de ir ver esse fenómeno. Como é possível, nesse futuro do COVID,
andarem com a Abrunheira às costas dum
lado para o outro?
— Juro que é verdade, amigo Rio das Sesmarias. Muitos anos lá
para a frente, vai estar colocada a seguir ao cruzamento da “Charneca”, mas depois,
no dia seguinte, quando eu vier de Mem Martins, a Abrunheira vai estar outra
vez na curva da “Quinta Lavi”.
— Oh! Coutinho que és Bernardino, lá que, nesse tempo que há
de vir, queiram fazer as pazes com os Abrunheirenses ao ponto de lhe darem
tamanha importância andando com eles ao colo, eu até admito, mas nesse caso, a
mudarem a Terra de sítio, só vão complicar mais as coisas.
— Bom dia, Amigo Rio das Sesmarias e Bernardino que não és
Coutinho, ando a ficar um bocado surdo, mas será que ouvi bem? Lá para a era do
COVID, vão mudar o poiso da Abrunheira?
— Ouviste muito bem, J’aquim que és Artista! Nesses tempos, lá
no futuro, em que tudo vai ser bué de complicado e demorado, em que não se vai
poder fumar na taberna nem se ligará nem acreditará na minha “ciência-da-Pedra”,
a tabuleta da Abrunheira vai andar dum lado para o outro enquanto o “diabo
esfrega um olho”.
— A tabuleta? Mas qual tabuleta? É no “Alto da Bonita”? Sim,
porque o cemitério é que é, a “quinta-das-tabuletas”.
— Lá estás tu, J’aquim que és Artista, a divagar,
“por-dá-cá-aquela-palha”! Não é nada no cemitério, é cá em baixo...entre a
Charneca e a esquina da Quinta Lavi!
— É pá, vossemecês estão
a baralhar-me...mas qual palha?
— Não é palha nenhuma, é só uma maneira de dizer...é que tu, J’aquim
que és Artista, quando começas a contar estórias, nunca mais acabas e a gente
até já as ouviu todas.
— Ora bolas, oh! Couinho que és Bernardino e eu que cheguei a
pensar, mesmo sendo com esses anos todos para a frente, como o Rio das
Sesmarias diz, para a era do COVID, fosse coisa para eles, os inteligentes, cumprirem
algumas promessas aos Abrunheirenses como:
"Anúncio" de futuro (há 20 anos) quartel GNR Foto de Fernando Castelo |
— Pára lá, oh! J’aquim que és Artista! Pára (com acento), porque daqui até
aquele tempo
do COVID, muita água o nosso Amigo Rio das Sesmarias vai deixar
correr e não me apetece voltar a ouvir mais uma vez, a mesma “lenga-lenga”. Só
estávamos a falar da “Tabuleta” e da “água-pé” do Amigo Pena.
— Ora aí está uma conversa que me interessa. “Água-pé”! Tudo o
que tenha a ver com “água”, é comigo. E não fosse eu, o maior e mais simpático
Rio da Abrunheira e arredores.
— Oh! Amigo Rio das Sesmarias, mas a “água” que o Coutinho
que é Bernardino estava a dizer, não é dessa que corre no teu leito. É da outra
que tem “pinta” de vinho e embebeda que não é brincadeira e, no meu caso,
fazendo jus à minha alcunha, dá-me cá uma caganeira que para me desenvencilhar
dela, apanho sol ou CHUVA. Mais chuva, porque o verão do S. Martinho são só
três dias e depois começa a chover.
— É verdade, meus amigos. Muita água vou deixar correr, antes
que ma desviem... não sei para onde, mas que isso vai acontecer. Também já me
avisaram sobre as enguias que sobem por mim acima até ao poço da nora na horta
do Zé Silvestre. Vão desaparecer quando desviarem a água das minhas nascentes a
montante.
— O meu sogro Caracol Velho, tem longas conversas de
“espírito-santo-de-orelha” com o melro “Simão” que, lá de cima, vê muito melhor
o que se passa cá por baixo, do que nós. Vai daí, ainda ontem me disse, que o
melro lhe piou sobre esse tempo pestilento lá para a frente. Disse ele, que as
águas do Rio das Sesmarias, vão encher muitos tanques que as pessoas vão construir
nos quintais. Constroem uma casa, abrem um tanque e enchem de água. Para regar
as hortas não vai ser, porque, diz ele, eles não as têm e botam-se lá dentro
quando têm calor.
— Bom, mas vamos lá a ver oh! Rio das Sesmarias, tu que és
maior que o tempo e hás de chegar à era do COVID, o que pensas de tudo isto, a
tabuleta onde deve ficar?
— Olha lá, oh! Coutinho que és Bernardino, tantas coisas importantes como as que o J’aquim que é Artista à bocado lembrou, achas que me vou gastar e torvar a minha água, por causa da porra duma tabuleta? É certo que define a falta de carácter de algumas pessoas com poder, mas não vai ser isso que secará a minha água, nem vai “secar” a importância e mais valia dos Abrunhenses, deste e daquele tempo que há de vir, mesmo sendo um sítio “do lado de cá da Serra”.
Silvestre Brandão Félix
19 novembro de 2021
Foto: Fernando Castelo