Continuando pelas minhas “lembranças de janeiro”, venho dar conta de que aquela sopa de feijão era única e, do pouco que recordo da minha Avó Gertrudes — exatamente, a que fazia aquelas batatas cozidas com bacalhau que o “Sapateiro-de-Manique” comia e chorava por mais ( https://largodochafarizaosol.blogspot.com/2011/03/por-esses-caminhos-acima.html ) — ficou-me aquele sabor que nunca mais voltei a encontrar nas minhas andanças gastronómicas.
Até que, há dias, comendo a sopa por mim feita
, as “papilas”
da esquerda alta, comunicaram às “brumas” da minha cansada memória, que
tinham descoberto aquele gosto que eu tanto adorava, lá pelos meus 4/5 anos de idade,
quando visitava os meus avós paternos.
Há “lembraduras” que contornam os caminhos naturais dos
neurónios guarnecidos pela encefálica massa, depois de se fazerem disparar dos
ficheiros arrumadinhos, para a luz dos nossos dias. É muito difícil acreditar
que, “por dá cá aquela palha”, me lembre do gosto da sopa da minha avó
Gertrudes.
Não há explicação simples, mas é a verdade! Com certeza, um
bom (ou boa) especialista na matéria — memória gustativa — saberá e,
duma maneira muito técnica, transmitirá sapientemente a sua teoria.
A minha Mãe, quando queria convencer-me a comer a sopa,
tentava apelar à fama da sopa da avó Gertrudes, mas nunca tinha êxito porque,
na realidade, não tinha nada a ver e agora, sem querer, vem-me à memória —
não uma frase batida — aquela sopa tão especial.
Pensarão alguns, que por curiosidade estão a ler o texto: Mas
que interesse tem, para a sociedade, o sabor da sopa da avó deste gajo?
Não posso deixar de lhes dar alguma razão. Só que, numa época
em que a vertente pessimista, negativa, maldosa e… por aí fora, é valorizada acima
de tudo o resto, é reconfortante lembrar-me de coisas boas. Tanto quanto sei, a
minha avó Gertrudes era uma boa pessoa e a sua sopa de feijão, espetacular.
Por isso, meus queridos amigos e amigas, como forma de
compensar as desgraças que nos estão a cair em cima e a forma como
constantemente nos lembram delas (das desgraças), evitem beber “veneno” ao pequeno-almoço,
procurem as coisas boas, o lado positivo dos outros e tenham esperança no
futuro.
Para que, “tudo-corra-bem”, devemos ficar em casa e,
porque não, confecionar uma ótima sopa de feijão.
Silvestre Brandão Félix
22 de janeiro de 2021
Foto: Sopa de feijão (google)