Do terceiro
andar, daquela janela, eu conseguia ver, mesmo sem “Google Earth”, tudo o que
acontecia na “hora”, tinha acontecido, ou, que imaginava viesse a acontecer.
Dali, via,
navegando pela “estrada” do Tejo, algumas poucas “faluas” e “fragatas” de velas
“à banda” empurradas pelo vento da barra que lhes facilitava a corrida e a
faina do pescado e do pequeno transporte.
Pela janela,
à altura das “águas-furtadas” do prédio mais perto do “duque”, conseguia
perceber, se a grande doca-seca da “Lisnave” estava recebedora, ou não, do
grande petroleiro que, impávido e sereno, esperava, fundeado no Mar da Palha,
de proa à maré.
Mesmo entre
a escuridão do vinte-e-quatro, conseguia espreitar lá de cima, da janela do
terceiro andar, os sorrateiros e cínicos bufos dum lado, e, do outro, os
reservistas de lápis azul, que, riscando, os gastavam sempre “a bem da nação!”.
No rescaldo
das “Caldas”, via-me, de mancebo a magala em fardamento a verde feito, e de
“canhota” a jeito, no meio de terra, que minha não era, com lógica de estúpida
guerra que pelas colónias fervia.
Antes, lá
teria passado pelo cais da “Rocha Conde D’Óbidos” marchando para entremeada
formatura antes de subir à amurada do “Príncipe Perfeito”, “Vera Cruz”, Niassa”,
“Infante D. Henrique” ou de qualquer outro “paquete” servidor do império. A
vinte e quatro, o parapeito daquela janela do terceiro andar, era o interior da
murada dum destes e, de lá, via um “mar”, com o tamanho do que iria atravessar,
de lenços brancos num adeus de mães, esposas, namoradas e filhos.
Na entrada
dezassete, com o Manel abençoando o “botas” e a fazer figas para que a
“primavera-marcelista” ficasse, de vez, outonal ou mesmo invernosa, porque, nos
seus atrofiados neurónios, só assim se conseguia ganhar a guerra em Angola.
Atormentava-me,
sim! Tinha medo, sim! Mesmo com a segurança que a janela do terceiro andar me
dava, vendo de lá o que muito bem queria imaginar, não conseguia desviar a
certeza que me desenhavam para o futuro a curto prazo; “Assento-de-Praça”,
recruta, especialidade e, ala que se faz tarde, para África.
De piso era
terceiro mas, contando pela entrada da do Alecrim, era segundo sendo que, por
ser tão alto, quase adivinhava o que se ia passar na quinta-feira, a
vinte-e-cinco; desde o Terreiro do Paço, Ribeira das Naus, Arsenal, Corpo Santo
e Bernardino Costa. Cheirava a qualquer coisa…
E, na manhã
de quinta-feira, em abril e a vinte-e-cinco, ouvi o Luís Filipe Costa:
(…) Aqui, Posto de Comando do Movimento das
Forças Armadas (…)
Silvestre
Félix
25 de abril
de 2015
O Duque da Terceira, no belo tempo que não era assim tão belo, junto a um rio que nunca contou os jovens que partiram sem mais regressar. Como tantas vezes ali sonhei com o mar, com o paquete que me levaria a navegar para tão longe e me deixou ficar por tão perto. Um abraço Silvestre por este seu texto.
ResponderEliminarObrigado Amigo Castelo. Desabafos...
EliminarAbração!