segunda-feira, 30 de novembro de 2015

TEMPO DE (DEPRIMENTE) NOVEMBRO


Neste deprimente novembro, como, aliás, todos os outros que têm vinte e cinco e desde que eu tinha vinte e um em anos contados, que, quase no fim (o novembro) mas ainda andando por aí algumas horas, oiço coisas feitas lamechices completamente deslocadas em dia de cimeira de ambiente e em tempo de carência e necessidades básicas dos refugiados que batem à porta duma Europa que foi assobiando para o lado e, quando acordou e deixou cair o assobio, viu-se tolhida de movimentos e soluções (como é costume)…

Lamechices eu ouvi, perto de mim, em lugar público, usando, alguém, topo de gama auditivo na escuta:

«— Não! Não! Não posso andar de “cavalo p’ra burro”!

(tempo de resposta inaudível, para que está do outro lado)

— Sim! O carro é ótimo, mas a carrinha que ele me atribuiu o ano passado, a que tenho agora, tem sete lugares!

(Resposta inaudível)

— Sim! Eu sei! Mas, neste caso eu valorizo o tamanho. Se fosse anual mas para dois anos… agora tenho dois filhos, mas para o ano posso ter três. E depois, tenho que que arranjar particularmente um carro maior?

(Resposta inaudível)

— Achas que devo aceitar? Sim, ao carro não lhe falta nada do que é a última tecnologia. Se quiser, até posso trabalhar no carro.»

Não ouvi mais porque o elemento teve a acertada ideia de se desviar do local onde eu estava sentendinho…  

Nestes dias de deprimente novembro, que, para mim, sempre é, têm-se falado muito das dúvidas sobre o aumento do ordenado mínimo até 600 euros em 2019. Pois………..

Silvestre Félix

30 de (deprimente) novembro de 2015   

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

BOM SENSO





Uma parte dos que militaram nas fileiras dos vencedores em 25 de novembro de 1975, não conseguiram terminar a missão a que se tinham proposto — fazer recuar o País a 24 de abril de 1974.

O poder, no essencial, ficou com os moderados e, por isso, ficou-lhes atravessado a meia-vitória ou meia-derrota naquele 25 de novembro.

Quarenta anos depois, embora alguns “originais” tenham desaparecido e outros estejam em vias disso, deixaram sementes a germinar por aí e, ainda neste outubro e novembro, de plantinhas nascidas com as primeiras águas, com toque veludo e bem cheirosas, viraram agressivas e pestilentas, tirando todas as garras de fora e arranhando em todas as direções e por tudo quanto lhes “cheirou” a democracia.

Mais uma vez, não conseguiram os seus intentos. Decerto não desistiram e, lá para a frente, outras tentativas farão.

Os portugueses estarão alerta!

Por agora, o bom senso venceu!

Silvestre Félix
25 de novembro de 2015














domingo, 4 de outubro de 2015

O dia já vai por-aí-fora...


O dia já vai “por-aí-fora”. O que se estará a passar dentro das caixinhas pretas onde vão depositando aqueles papelinhos, dobrados em quatro, com figurinhas com cruzinha acrescentada?
Será que se estão emparelhando ou, antes pelo contrário?
Se calhar, enfileirando-se estão, não vá o diabo tecê-las e ficarem para trás.
Em dias como este todos querem ir na frente.
Dentro das caixinhas pretas; se tocam, se roçam, se torcem, se miram, se abraçam, se… qual bacanal em dia cinzento enevoado.
Quando abrirem as caixinhas pretas e começarem a separar os papelinhos, ainda dobrados em quatro mas depois desdobrados e empilhados por figurinhas, a faladura vai continuar!
Silvestre Félix
4 de outubro de 2015
Tags: Eleições

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

BEM-FALANTES!

Neste domingo, mais uma vez, o Largo do Chafariz vai ser caminho para os “Abrunhenses” exercerem o seu direito de voto. Por aqui, pelo "largo" que deveria ser a sala de visitas da "Nossa-Terra", passaremos e, se possível for, porque de tão mal-habituados estamos, nem conta damos do desprezo a que votado está o "Nosso-Monumento".

O Bento o diz e o (Chafariz) tem mostrado pelo tempo em anos contado e, em conclusão dorida, a força do voto parido na madrugada de "Depois-do-Adeus", abençoado pela "Vila-Morena" e sonhando que "O-Povo-Unido-Jamais-Ser(ia)á-Vencido", nada resolverá!

Alguns gostariam que caminho deixasse de ser, e, antes, fosse plateia de bom e sossegado ouvido. Assim, continuariam a "papaguiar" agora, como outros já fizeram noutras "Eras-Bem-Aventuradas". Ter presente a história e lembrarmos as estórias que ouvimos dos mais velhos, é muito bom e aconselha-se.  

"“Gabiru-aperaltado”; dizia dele, a vizinhança. A faladura era de “lorde” e dos bons, muito perto do jeito a doutor. Com os adjetivos e os verbos bem encaixados nas frases bem construídas, lá caminhava o discurso por direções, na maior parte das vezes, já conhecidas. Bem arreado ou aperaltado à moda de Saloio com carteira composta. De jaqueta castanha com corrente dependurada pela direita da abotoadura no colete justinho em fazenda cinzenta, camisa alva e colarinho bem apertado, calça cinzenta de cós bem subido e com bainha larga acompanhando a bota pela frente e o respetivo chapéu de aba larga e preto. A posição de descanso e descontração a preceito implicava os polegares das duas mãos bem firmes na dobra da jaqueta, à frente, nos extremos do peito. A compor a arreadura, aquele bigode, mais para o grosso que para o fino, transbordando o comprimento da beiça de cima, como naquele tempo era uso."

Na época “daquela senhora”, a personagem descrita existia em todas as terras saloias e, também, na Abrunheira. Seria o “bem-falante”, e aquele, a quem, os iletrados tudo perguntavam.

Era um tempo em que, literalmente, se enfiava o barrete saloio ou se armadilhavam grandes chapeladas. Na ignorância mantida e fomentada pelo regime do “botas”, não era difícil enfiar umas “patranhas” na saloiada. O boletim de voto era especialmente enviado para o domicílio e muitas vezes até entregue em mão pelo ocupante do “assento-de-proximidade”. De costas para o balcão, ainda que ligeiramente apoiado, aperaltado como de costume e botando faladura como vinha nos jornais devidamente visados pelos do lápis-azul, o “bem-falante” comentava as contrariedades das condições atmosféricas – naquele tempo em que tudo caía em cima do “cinzento,” porque a claridade e o Sol era só para alguns e todos sabiam disso.

Sabiam, os que reagiram e lutaram com, e, pelo General-Sem-Medo, nas revoltas das colónias indianas e africanas, na revolta do quartel de Beja ou no desvio do “Santa Maria”, protagonizavam o descontentamento militar, a luta dos Partidos clandestinos, etc., etc., – e, porque também sabia, e de que maneira, interroga-se ele, o “bem-falante”, aos presentes; como iria ser a próxima safra do Sabino, do Silvestre Velho, do Veríssimo, do Frouxo ou do João de Leião?

Todas as sessões propagandísticas; fossem no Largo do Chafariz ou numa das tabernas da Abrunheira no terceiro quartel do século XX, ou num qualquer multiusos no XXI, ouvidas pelos tais que sabem e pelos que não sabem, mais do que menos, cheiram a pantominice. Melhor fora que o espetáculo fosse dos saltimbancos. Porque, assim, o pouco que tinham era o que davam e ninguém lhes exigia mais. 

Muitas vezes, os saltimbancos, pelo Largo do Chafariz passearam a sua boa disposição e, os abrunhenses, viram e admiraram a forma como encaravam e levavam a vida que sempre melhor ficava pelos tempos difíceis que corriam, ao contrário de, cá mais para a frente do ano dois mil e poucos, que pior está, para os vivos e até para os mortos.

No “quinze” deste século XXI, muitos vão “parlapiando” para os “assentos-distantes” do povo, mas pelo Largo do Chafariz é que eu nunca os vejo. Para “mal dos nossos pecados”, é cada vez mais difícil que, os que se vão lá sentar, alguma vez venham a passar pelo Largo do Chafariz. Muito longe vão ficar as cadeiras e como entramos no Outono, os dias vão ser mais pequenos, deixando menos “luz” para os que se aventurarem a gastar as solas dos sapatos a caminho, pelo Largo do Chafariz, das mesas de voto.

Muitos burocratas e “bem-falantes”, promotores de detentores, detentores ou candidatos aos “assentos”, gostariam, e muito se esforçam, para voltarem a um certo modelo bafiento. Têm treinado há algum tempo e agora estão mais preparados para levarem a deles avante.

Para os que se sentarão nos “assentos” a partir de 5 de outubro, que, desgraçadamente até lhe tiraram o simbolismo, o “papaguiamento” continuará a ser – a missão! É preciso continuar a usar e abusar de “faladura” para o Zé continuar convencido, mesmo que os euros no bolso sejam poucos.

Silvestre Félix

Abrunheira, 2 de outubro de 2015


Tags: Abrunheira, Largo do Chafariz, Eleições

domingo, 14 de junho de 2015

SANTO ANTÓNIO, Nª SRª DO CABO E A IGREJA

Adorado que sempre foste! Junho dos arraiais e das fogueiras; das sardinhas, das febras, dos chouriços assados, das alcachofras estorricadas ou renascidas, dos namoricos e bailaricos rodopiados na ponta do andante em novo sapato nascido no rol da “Bramonte” ou bota cardada com protetor de última geração.

Salta e salta e volta a saltar a labareda ardente acima do Largo do Chafariz. Os trancos com força acartados das bandas da Colónia e Beloura e os carrascos que, da abundância não se negam, dão altura ao salto para bonito fazer às raparigas.

Adorado sempre foste! Junho dos feriados e dos dias grandes e quentes; do Santo António na Abrunheira ao São Pedro em São Pedro do de Penaferrim.

Sem fogueira ainda acesa e, como por milagre de Santo António e mais depressa que um estalar de dedos, já o Ti Rafael (“Coxo” na terceira pessoa) enchia tintos e, como sempre novidades trazia, abria cervejas para os mais endinheirados. O plano de “marketing” e vendas do Ti Rafael traduzia-se num apelo à “bebedeira” usando o poder dos pulmões de um – não fumador! Em todas as ocasiões levava a dele avante e, uma hora depois, nas vozes arrastadas e nos tropeções no alcatroado mal-amanhado, já se podia ver o resultado.

Adorado sempre foste! Junho dos amores e desamores e das alcachofras na fogueira postas!

O acarinhado Santo António na Abrunheira, for força, vontade e mérito dos seus voluntários amigos, sonhou levantar o templo, a si dedicado, com o fervor e Fé ilimitados.

A Igreja de Santo António da Abrunheira, neste tempo contado em anos, mais de cinquenta lá vão, desde a narrativa protagonizada pelo Ti Rafael, deixou de ser sonho e passou a real.

Por este fim-de-semana (12, 13 e 14 de junho de 2015), a “Comissão Pró-Construção da Igreja da Abrunheira”, mais uma vez, promoveu os habituais “Festejos de Santo António” com a particularidade de, este ano, já existir a Capela de Santo António e ter recebido a imagem de Nª Srª do Cabo de visita à Paróquia de São Pedro de Penaferrim que, assim, fez merecida companhia a Santo António.

Desde sexta-feira à noite que, por toda a Abrunheira, se têm movimentado, nas procissões e nos recintos, centenas de pessoas a este propósito. Muito obrigado a todos os voluntários.

Um agradecimento do tamanho do mundo à Comissão Pró-Construção da Igreja da Abrunheira, e muita força para a difícil tarefa que ainda está pela frente.

Abrunheira, 13 de junho de 2015


Silvestre Félix

(Fotos: Manuela Nascimento)

sábado, 25 de abril de 2015

JÁ NÃO VOU PARA A GUERRA!

Do terceiro andar, daquela janela, eu conseguia ver, mesmo sem “Google Earth”, tudo o que acontecia na “hora”, tinha acontecido, ou, que imaginava viesse a acontecer.

Dali, via, navegando pela “estrada” do Tejo, algumas poucas “faluas” e “fragatas” de velas “à banda” empurradas pelo vento da barra que lhes facilitava a corrida e a faina do pescado e do pequeno transporte.

Pela janela, à altura das “águas-furtadas” do prédio mais perto do “duque”, conseguia perceber, se a grande doca-seca da “Lisnave” estava recebedora, ou não, do grande petroleiro que, impávido e sereno, esperava, fundeado no Mar da Palha, de proa à maré.

Mesmo entre a escuridão do vinte-e-quatro, conseguia espreitar lá de cima, da janela do terceiro andar, os sorrateiros e cínicos bufos dum lado, e, do outro, os reservistas de lápis azul, que, riscando, os gastavam sempre “a bem da nação!”.

No rescaldo das “Caldas”, via-me, de mancebo a magala em fardamento a verde feito, e de “canhota” a jeito, no meio de terra, que minha não era, com lógica de estúpida guerra que pelas colónias fervia.

Antes, lá teria passado pelo cais da “Rocha Conde D’Óbidos” marchando para entremeada formatura antes de subir à amurada do “Príncipe Perfeito”, “Vera Cruz”, Niassa”, “Infante D. Henrique” ou de qualquer outro “paquete” servidor do império. A vinte e quatro, o parapeito daquela janela do terceiro andar, era o interior da murada dum destes e, de lá, via um “mar”, com o tamanho do que iria atravessar, de lenços brancos num adeus de mães, esposas, namoradas e filhos. 

Na entrada dezassete, com o Manel abençoando o “botas” e a fazer figas para que a “primavera-marcelista” ficasse, de vez, outonal ou mesmo invernosa, porque, nos seus atrofiados neurónios, só assim se conseguia ganhar a guerra em Angola.

Atormentava-me, sim! Tinha medo, sim! Mesmo com a segurança que a janela do terceiro andar me dava, vendo de lá o que muito bem queria imaginar, não conseguia desviar a certeza que me desenhavam para o futuro a curto prazo; “Assento-de-Praça”, recruta, especialidade e, ala que se faz tarde, para África. 

De piso era terceiro mas, contando pela entrada da do Alecrim, era segundo sendo que, por ser tão alto, quase adivinhava o que se ia passar na quinta-feira, a vinte-e-cinco; desde o Terreiro do Paço, Ribeira das Naus, Arsenal, Corpo Santo e Bernardino Costa. Cheirava a qualquer coisa…

E, na manhã de quinta-feira, em abril e a vinte-e-cinco, ouvi o Luís Filipe Costa:

 (…) Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (…)

Silvestre Félix

25 de abril de 2015 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Largo do Chafariz: DESTE LADO DA SERRA

Largo do Chafariz: DESTE LADO DA SERRA: Deste lado da Serra, perdemos quase tudo! Foi o Centro de Saúde, o Centro Social, a ligação direta à Capa Rota, a Junta de Freguesia, o...

DESTE LADO DA SERRA

Deste lado da Serra, perdemos quase tudo!

Foi o Centro de Saúde, o Centro Social, a ligação direta à Capa Rota, a Junta de Freguesia, o quartel da GNR, a Escola Secundária, os equipamentos desportivos, como o multiusos, a piscina e o campo de futebol, etc., etc.

Perdemos líderes carismáticos e honestos que se “batam” pelos interesses e necessidades das populações deste lado, onde o SOL toca primeiro. Eu cá, desconfio que, mais cedo ou mais tarde, tentarão mudá-lo de sítio (ao SOL) para que, primeiro, apareça do lado de lá…

Há quem já tenha dito e escrito, que até perdemos o direito a “presidências abertas” [abertas]. Parece que são mais p’ró “fechadas”. Eles, não sabem, nem “sonham”, como ir “por esses caminhos acima”. Pudera, se soubessem, não tinham deixado que os perdêssemos. Já era (ou foi), a ligação a Ranholas pela Rua da Abrunheira que, por aí acima, a Ti Augusta me levava pela mão até ao mercado ou, muitas outras vezes, até ao miolo da Serra, à Casa da Tapada que também era e ainda é, “Do Roma”, juntinho ao Palácio dos Milhões que a minha Mãe nunca se esquecia, da “estória” me contar; o caminho, por aí a cima, aos “Celões” até ao Linhó com pedras mil vezes pisadas pelos cascos da Marcina, da Bonita, da Estrela e da burra (salvo-seja) Carocha, ainda antes, desapareceu engolido pelo condomínio que, do Casal da Beloura com caminho também feito e serventia para os rebanhos do Ti Zé da Beloura, só o nome ficou.

É só a perder…

Até o Rio das Sesmarias foi despromovido para “ribeira” e, ainda-por-cima, de Colaride. Na mesma onda perdedora, lá foram “à vida” as cigarras e os grilos e com eles levaram as suas cantorias que, por esta altura, começavam a inundar os nossos campos.

Deste lado da Serra perdemos quase tudo…

Fica a dignidade!

Silvestre Félix
7 de abril de 2015 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

COMO É QUE SE CHAMA ESTA FRUTA?

A perícia com que escolhia as cebolas e as dispunha por tamanhos, qual calibrador moderno e automático; o cuidado a tirar as “cascas” velhas, cortar “direitinho” os tufos de raízes e folhas inúteis da planta; a arte, precisa, com que entrançava as folhas secas ao centro, e fazia com que as cebolas ficassem agarradas, umas, a seguir às outras e, assim, em pouco tempo, construía a obra perfeita denominada—“réstia”.

Peça única, incluindo a dose certa de “marketing” acoplado, traduzido na beleza que irradiava, aos olhos dos potenciais consumidores ou, eventualmente, compradores – sim, porque, tendo o meu saudoso Pai, partido desta vida, vai para trinta e nove de tempo contado em anos, quando se dedicava com esmero e profissionalismo à arte de hortelão e agricultor, não carecia de emitir fatura eletrónica, para poder trocar o excedente.

Não preciso de “pretextos” para falar do meu Pai, mas, esta descrição da “construção” de uma réstia de cebola é, demonstrativa, de como o “Zé Silvestre” lidava com a sua arte. Eu, muito miúdo, ficava horas a vê-lo, sentado no chão em cima duma sarapilheira, numa qualquer tarde de março (marçagão, de manhã inverno e à tarde verão), dando as voltas todas às cebolas ou alhos, até concluir o produto final que, eu, “puto”, achava do mais prefeito, e era!

Há uns dias, numa “catedral” de consumismo aqui perto, onde eu também vou, perguntava um miúdo para a mãe que, com o desespero da falta de tempo e cuidado, ao escolher umas cebolas numa “piscina” delas, a granel, deixou cair duas pelo chão que, rebolando, pareciam ganhar velocidade em excesso, correndo, até, o risco de serem multadas por algum “polícia” escondido atrás dos outros caixotes que, por ali, estão estacionados.

— Oh mãe, como é que se chama esta “fruta”?
— Chama-se cebola, filho!

A mãe, com vinte e poucos anos de idade, respondeu duma maneira muito crente. Não hesitou, e achou que falou certo. O filho não tinha mais do que cinco anos e, como é normal, voltou à “carga”.

— Oh mãe, como é que se chama a árvore que dá a cebola?

Mais uma vez, a mãe, “certíssima” do que estava a dizer, respondeu:

— Nunca vi nenhuma, mas acho que é “Ceboleira”!

Já não se fazem réstias de cebolas…

E o meu Pai preparava o canteiro, muito direitinho, bem estrumado e deitava-lhe a semente. Alguns dias, e os pontinhos verdes do “cebolo” começavam a despontar e, rapidamente subiam até um palmo. Por essa altura, começava a arrancar as pequenas plantas e separava-as em “centos” (cem unidades), atados com umas folhas muito compridas duma planta do nosso Rio das Sesmarias. As primeiras, quase sempre, eram as que ele precisava para plantar e, mais tarde, colher cebolas. Os restantes “cebolinhos” distribuía por algumas pessoas e, se ainda sobrassem, o próximo mercado de São Pedro tratava de os absorver. 

Já não se fazem réstias de cebolas… e muitas outras coisas. Mudam tudo. “Pelo andar da carruagem”, as tardes soalheiras serão transformadas em permanente “lusco-fusco” de modo a que, nem de uma réstia de sol, a “gente” possa beneficiar. 

Silvestre Félix

14 de janeiro de 2015 
(Foto: Google)