sábado, 25 de abril de 2015

JÁ NÃO VOU PARA A GUERRA!

Do terceiro andar, daquela janela, eu conseguia ver, mesmo sem “Google Earth”, tudo o que acontecia na “hora”, tinha acontecido, ou, que imaginava viesse a acontecer.

Dali, via, navegando pela “estrada” do Tejo, algumas poucas “faluas” e “fragatas” de velas “à banda” empurradas pelo vento da barra que lhes facilitava a corrida e a faina do pescado e do pequeno transporte.

Pela janela, à altura das “águas-furtadas” do prédio mais perto do “duque”, conseguia perceber, se a grande doca-seca da “Lisnave” estava recebedora, ou não, do grande petroleiro que, impávido e sereno, esperava, fundeado no Mar da Palha, de proa à maré.

Mesmo entre a escuridão do vinte-e-quatro, conseguia espreitar lá de cima, da janela do terceiro andar, os sorrateiros e cínicos bufos dum lado, e, do outro, os reservistas de lápis azul, que, riscando, os gastavam sempre “a bem da nação!”.

No rescaldo das “Caldas”, via-me, de mancebo a magala em fardamento a verde feito, e de “canhota” a jeito, no meio de terra, que minha não era, com lógica de estúpida guerra que pelas colónias fervia.

Antes, lá teria passado pelo cais da “Rocha Conde D’Óbidos” marchando para entremeada formatura antes de subir à amurada do “Príncipe Perfeito”, “Vera Cruz”, Niassa”, “Infante D. Henrique” ou de qualquer outro “paquete” servidor do império. A vinte e quatro, o parapeito daquela janela do terceiro andar, era o interior da murada dum destes e, de lá, via um “mar”, com o tamanho do que iria atravessar, de lenços brancos num adeus de mães, esposas, namoradas e filhos. 

Na entrada dezassete, com o Manel abençoando o “botas” e a fazer figas para que a “primavera-marcelista” ficasse, de vez, outonal ou mesmo invernosa, porque, nos seus atrofiados neurónios, só assim se conseguia ganhar a guerra em Angola.

Atormentava-me, sim! Tinha medo, sim! Mesmo com a segurança que a janela do terceiro andar me dava, vendo de lá o que muito bem queria imaginar, não conseguia desviar a certeza que me desenhavam para o futuro a curto prazo; “Assento-de-Praça”, recruta, especialidade e, ala que se faz tarde, para África. 

De piso era terceiro mas, contando pela entrada da do Alecrim, era segundo sendo que, por ser tão alto, quase adivinhava o que se ia passar na quinta-feira, a vinte-e-cinco; desde o Terreiro do Paço, Ribeira das Naus, Arsenal, Corpo Santo e Bernardino Costa. Cheirava a qualquer coisa…

E, na manhã de quinta-feira, em abril e a vinte-e-cinco, ouvi o Luís Filipe Costa:

 (…) Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (…)

Silvestre Félix

25 de abril de 2015 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Largo do Chafariz: DESTE LADO DA SERRA

Largo do Chafariz: DESTE LADO DA SERRA: Deste lado da Serra, perdemos quase tudo! Foi o Centro de Saúde, o Centro Social, a ligação direta à Capa Rota, a Junta de Freguesia, o...

DESTE LADO DA SERRA

Deste lado da Serra, perdemos quase tudo!

Foi o Centro de Saúde, o Centro Social, a ligação direta à Capa Rota, a Junta de Freguesia, o quartel da GNR, a Escola Secundária, os equipamentos desportivos, como o multiusos, a piscina e o campo de futebol, etc., etc.

Perdemos líderes carismáticos e honestos que se “batam” pelos interesses e necessidades das populações deste lado, onde o SOL toca primeiro. Eu cá, desconfio que, mais cedo ou mais tarde, tentarão mudá-lo de sítio (ao SOL) para que, primeiro, apareça do lado de lá…

Há quem já tenha dito e escrito, que até perdemos o direito a “presidências abertas” [abertas]. Parece que são mais p’ró “fechadas”. Eles, não sabem, nem “sonham”, como ir “por esses caminhos acima”. Pudera, se soubessem, não tinham deixado que os perdêssemos. Já era (ou foi), a ligação a Ranholas pela Rua da Abrunheira que, por aí acima, a Ti Augusta me levava pela mão até ao mercado ou, muitas outras vezes, até ao miolo da Serra, à Casa da Tapada que também era e ainda é, “Do Roma”, juntinho ao Palácio dos Milhões que a minha Mãe nunca se esquecia, da “estória” me contar; o caminho, por aí a cima, aos “Celões” até ao Linhó com pedras mil vezes pisadas pelos cascos da Marcina, da Bonita, da Estrela e da burra (salvo-seja) Carocha, ainda antes, desapareceu engolido pelo condomínio que, do Casal da Beloura com caminho também feito e serventia para os rebanhos do Ti Zé da Beloura, só o nome ficou.

É só a perder…

Até o Rio das Sesmarias foi despromovido para “ribeira” e, ainda-por-cima, de Colaride. Na mesma onda perdedora, lá foram “à vida” as cigarras e os grilos e com eles levaram as suas cantorias que, por esta altura, começavam a inundar os nossos campos.

Deste lado da Serra perdemos quase tudo…

Fica a dignidade!

Silvestre Félix
7 de abril de 2015